Você já deve estar cansado de ouvir que é preciso diminuir o desmatamento e que nossa biodiversidade é importante. Eu concordo totalmente que tudo isso é importante, mas só proteger não é suficiente. Você já pensou no que fazer com ambientes que já foram degradados? Já ouviu algumas pessoas dizendo que é uma piada os europeus apontarem o dedo para o desmatamento da Amazônia, sendo que eles já desmataram a maior parte das suas áreas de vegetação nativa? Ok, eles já desmataram boa parte das florestas, mas eles também estão fazendo um grande esforço para reflorestar o que já foi degradado.

Vou tentar manter um tom otimista neste mês temático. Não sei vocês, mas essa avalanche de notícias ruins deste ano não estão me fazendo bem. Então não quero trazer muitas notícias sobre desmatamento, mas se você não tem acompanhado as notícias sobre o aumento do desmatamento no Brasil nos últimos anos, basta saber que tivemos uma grande queda da taxa de desmatamento no início dos anos 2000, mas essa taxa voltou a subir, especialmente na Amazônia, e dobrou nos últimos cinco anos. Para saber mais, você pode consultar as páginas do INPE (para dados sobre Amazônia e Cerrado) e do SOS Mata Atlântica, por exemplo.

Apesar da grande degradação ambiental que encontramos em muitas partes do planeta (veja mais detalhes aqui), existem diversos profissionais trabalhando para recuperar esses ambientes. Quando pensamos sobre isso, a primeira coisa que normalmente vem à mente é o reflorestamento, o que não está errado, mas já avançamos muito e existem estratégias muito mais interessantes e ricas.

 

Reflorestamento x Restauração Ecológica

O reflorestamento pode ser uma estratégia para chegar à restauração ecológica, mas eles não são sinônimos. Reflorestar é restabelecer a cobertura de uma área de floresta desmatada com árvores. Isso pode ser feito de diversas formas, desde o plantio de mudas de pinus ou eucalipto, até uma associação de plantio de mudas e espalhamento de sementes de dezenas de espécies nativas. Nos dois casos, a cobertura vegetal é recuperada, mas no primeiro caso, não tem recuperação de biodiversidade nem de vários serviços que a natureza nos presta. No segundo caso, é possível recuperar o ambiente com mais qualidade, mas raramente existe um retorno financeiro. E, claro, é possível trabalhar com um meio termo, dependendo do tipo de área, se trata-se de uma unidade de conservação ou propriedade privada e do que queremos recuperar.

Então, o que é restauração ecológica? Ela é muito mais ampla e tem objetivos mais complexos. Na restauração ecológica, é preciso recuperar a biodiversidade, as propriedades físicas do ambiente (pH, composição química, estrutura, etc.), a interação com os ambientes vizinhos e a resiliência das espécies presentes no local (capacidade de sobreviver e se adaptar a mudanças ambientais). Ela também é mais ampla porque não se refere apenas a florestas. É possível fazer restauração ecológica de Cerrado, Caatinga,  Pampas e também ambientes aquáticos. Sim, existem grupos minoritários e marginalizados na natureza também.

 

Serviços ecossistêmicos

Algumas pessoas ficam satisfeitas e com aquele calorzinho no coração apenas com a ideia de recuperar um ambiente porque ele merece ser recuperado, porque a natureza tem seu valor intrínseco. Mas muita gente ainda se preocupa com outras questões e especialmente quem vai pagar por isso quer saber em detalhes quais são os benefícios desse investimento. A natureza pode nos proporcionar serviços como controle do clima, regulação dos regimes de chuva, polinização de flores de espécies cultivadas como maracujá, café, laranja, etc. Esses são apenas alguns dos exemplos do que chamamos de serviços ecossistêmicos. Saiba mais sobre a importância da polinização aqui e sobre valoração ambiental aqui.

Ao longo deste mês, vamos conhecer estratégias e exemplos bem sucedidos de restauração de florestas. Também vamos discutir projetos que dão atenção à fauna e a diversidade genética e de espécies. Vamos entender como podemos recuperar áreas que não podem ser reflorestadas, simplesmente porque nunca foram florestas, como o Cerrado, a Caatinga e os ambientes aquáticos. Também vamos ver que áreas de mineração não estão completamente perdidas e podem ser recuperadas. Acompanhe, toda terça-feira temos texto novo!

 

por Patricia S. Sujii

sujiips@gmail.com

 

Referências

https://ourworldindata.org/forests

https://veja.abril.com.br/economia/pressoes-e-ameacas-estrangeiras-poem-em-risco-o-agronegocio-do-brasil/

http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=5294

http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes

https://www.pactomataatlantica.org.br/

Pacto pela restauração da Mata Atlântica: https://41f7ca97-775b-4f7d-a4ef-68e41cdecf52.filesusr.com/ugd/5da841_f47ee6a4872540ee8c532166fbb7e7b0.pdf

Foto de capa: Dave Herring on Unsplash

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