Quando eu digo que quero discutir restauração ecológica, é muito comum as pessoas pensarem primeiro em reflorestamento. Você, que está acompanhando nosso mês temático, já saber que também precisamos pensar em recuperar áreas de Cerrado, Caatinga e outros tipos de vegetação que não são florestas. Mas você já pensou que também precisam existir estratégias de recuperação de ambientes aquáticos? E os animais? Não dá pra fazer plantio de bicho, mas existem também estratégias bem interessantes para recuperar populações de animais. Então, vou continuar com meus relatos de casos com final feliz.

Se você é fã do Nemo, da Dory e, um dos meus preferidos, professor Raia, também deve achar o recife de corais dos filmes maravilhoso. Infelizmente, os recifes são ambientes muito ameaçados pelo aquecimento e a acidificação dos oceanos, pela poluição, pela pesca descontrolada, etc. Existem algumas iniciativas de proteção desses habitats, mas assim como já perdemos uma grande parte das florestas nativas do mundo, também estamos perdendo muito dos recifes de corais.

A República Dominicana é uma ilha na América Central, com uma parte importante da economia relacionada à pesca e ao turismo. Nas últimas décadas, mudanças ambientais, poluição e pesca descontrolada levaram a uma diminuição drástica dos recifes de coraisl ao redor da ilha. Em 2010, a Fundação Puntacana iniciou um projeto de restauração dos recifes degradados, com uma estratégia inovadora, que foi iniciada alguns anos antes na Flórida. A estratégia tradicional era fazer um transplante de corais de locais preservados para locais degradados, mas existe um limite doe quantos corais é possível retirar de um recife sem prejudicar o equilíbrio local. Seria como um Robin Hood, mas que em vez de roubar dos ricos, rouba de um pobre para dar pra outro, porque não existem mais muitos corais ricos.

Exemplos de técnicas utilizadas para cultivo de corais. Fonte: reefdivers.io

A nova estratégia consiste em coletar pequenas amostras dos recifes preservados e cultivar as diferentes espécies em ambientes que favoreçam o crescimento e a reprodução acelerados dessas espécies. Conforme cada coral vai crescendo, eles podem podar pedaços e levar para os ambientes degradados, repovoando os recifes. Os membros desse projeto já transplantaram milhares de corais de diferentes espécies, restaurando recifes, recuperando espécies extintas localmente e melhorando a economia. Com a recuperação dos recifes, o turismo cresceu e foram criados novos empregos como guias para visitação dos corais, instrutores e guias para mergulho.

Diversos pesquisadores em países diferentes têm estudado como melhorar as estratégias de cultivo de corais. Também existem pesquisas para desenvolver protocolos de escolha de espécies mais adequadas para cada ambiente e de seleção de variedades mais resistentes às mudanças das características dos oceanos (temperatura elevada, pH mais ácido, etc). Se você gosta desse assunto, leia mais na matéria da National Geographic aqui.

Ainda falando de ambientes costeiros, mas voltando para fora da água, vamos ver como recuperar populações de aves marinhas. A ilha Amatignak faz parte de um arquipélago no Alasca e teve suas populações de petrels (veja a foto ao lado) extintas por raposas introduzidas na ilha. Há alguns anos, as raposas foram retiradas da ilha para que as aves das ilhas vizinhas pudessem reocupar Amatignak. Para acelerar o processo, pesquisadores colocaram alguns atrativos na ilha. Você imagina o que?

Eles usaram a mesma estratégia que promotores de festa usam para atrair pessoas para evento: mais pessoas. Você já chegou em algum restaurante com fila na porta e pensou que a comida do lugar deve ser boa? Ou deixou de entrar em uma festa, porque estava muito vazia? Aves não são tão diferentes de pessoas, então, os pesquisadores colocaram caixas de som tocando uma gravação dos cantos dessas aves e também ninhos artificiais com o cheiro dessas espécies nas rochas da ilha desocupada. As aves que voavam ao redor desses locais foram atraídas pelos sons e cheiros, achando que a ilha estava “bombando”. Chegando lá, cada indivíduo encontrava outras aves atraídas pelos pesquisadores e acabaram ficando por lá, estabelecendo ninhos e adotando Amatignak como novo local de reprodução.

Na próxima semana, vou voltar em um dos assuntos mais procurados no nosso blog e mostrar algumas estratégias para recuperar áreas de mineração e ambientes contaminados. Não vai perder, né?

por Patricia S. Sujii

sujiips@gmail.com

 

Referências:

https://www.nationalgeographic.com/science/2020/06/scientists-work-to-save-coral-reefs-climate-change-marine-parks/

https://www.cbd.int/financial/values/DominicanRepublic-valuecoastal.pdf

https://reefdivers.io/coral-restoration-punta-cana-dominican-republic/1403

Lirman, D., & Schopmeyer, S. (2016). Ecological solutions to reef degradation: optimizing coral reef restoration in the Caribbean and Western Atlantic. PeerJ, 4, e2597.

Buxton, R. T., & Jones, I. L. (2012). An experimental study of social attraction in two species of storm-petrel by acoustic and olfactory cues. The Condor, 114(4), 733-743.

Foto de capa: Nolan Krattinger em Unsplash

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