Desde a antiguidade, o sono e os sonhos sempre foram a inspiração de muitos poetas, músicos, pensadores e românticos. Na mitologia grega, Morfeu é o deus dos sonhos, e quando se deseja a alguém que “vá para os braços de Morfeu”, significa desejar um sono reconfortante e tranquilo. Aliás, a pergunta “por que sonhamos?” é a primeira da lista dos “por quês” que os internautas mais buscam no Google. Como nosso papel também é responder perguntas, hoje o “Ciência Informativa” responde: afinal, por que nós sonhamos?
O que é o sonho e por que sonhamos?
O sonho é um conjunto de imagens, sons, pensamentos e emoções que nós experimentamos enquanto estamos dormindo. Eles podem ser bem intensos ou pouco claros, felizes ou assustadores como nos pesadelos e sempre têm conexão com a realidade, embora às vezes eles sejam distorcidos. Nós sonhamos em média de 3 a 6 vezes por noite e os sonhos tendem a durar de 5 a 20 minutos. Não existe ainda um consenso sobre por que sonhamos, embora existam muitas teorias. Algumas destas propõem que os sonhos são representações dos nossos desejos na vida real e que estes ajudam na consolidação das nossas memórias e das informações a que ficamos expostos durante o dia, o que pode nos ajudar a lidar com traumas emocionais e eventos estressantes. Cada teoria e cientista que estudaram os sonhos propuseram uma visão diferente que explica sua função; para Sigmund Freud, por exemplo, o pai da psicanálise, os sonhos são representações inconscientes de nossos anseios e motivações reais.
Fisiologicamente, em que parte do nosso sono os sonhos ocorrem?
Nosso sono envolve muitos processos fisiológicos complexos e é dividido basicamente em duas grandes fases: a fase não-REM e a fase REM (REM vem do inglês e significa movimentos rápidos dos olhos). A fase não-REM ocorre mais no início da noite e a fase REM mais no final, sendo que nesta fase ocorrem os sonhos, pois a atividade cerebral é muito grande: o córtex está tão ativo como se estivéssemos acordados. Já ao contrário do cérebro, os nossos músculos ficam em estado dormente e, dessa forma, “normalmente” não realizamos movimentos voluntários ou falamos. Além disso, na fase REM nossos olhos se movimentam rapidamente – fato que, como vimos, dá nome à fase.
Podemos mudar nossos sonhos?
Por incrível que pareça, sim! Em experimentos controlados, muitas pessoas afirmam que conseguem controlar os sonhos, sonhar com algo específico que queiram ou através dos sonhos acharem solução para um problema real.
Algumas vezes a “solução dos problemas” acontece, pois, durante o sono, a parte do nosso cérebro que comanda nossos pensamentos mais lógicos e a nossa auto-inibição, chamada lobo pré-frontal, está menos ativa; então é como se deixássemos de lado a lógica e pensássemos em alternativas mais criativas para resolver o problema. Quer um exemplo de como isso é possível? Friedrich Kékule (imagem 1 – centro – superior) foi um dos grandes químicos da história e, assim como outros pesquisadores da época, ele se via tentando resolver o problema da estrutura química do benzeno – que aparentemente diferia bastante do que se sabia para os outros compostos orgânicos. Diz a história que certo dia Kékule sonhou com uma cobra que mordia sua própria cauda e, juntando a ideia deste sonho com todos seus estudos, Kékule propôs que o benzeno se arranjava estruturalmente na forma de um anel, como um bracelete, assim como uma cobra fica quando tenta morder sua cauda (imagem 1 – centro – inferior). Lenda ou não, o fato de o nosso cérebro, durante os sonhos, poupar-nos um pouco de nossa auto-inibição faz com que surjam caminhos criativos para solucionar problemas!
Os outros animais sonham?
Sim, provavelmente os outros animais também sonham! Uma pesquisa pioneira da década de 50 mostrou que quando as partes do cérebro que inibem os movimentos durante o sono são alteradas em gatos, estes erguiam suas cabeças, moviam as costas, se posicionavam como se estivessem em uma briga ou observando uma presa, o que sugeria que eles estavam vendo imagens durante o sono, provavelmente nos sonhos.
Segundo especialistas, todos os mamíferos compartilham as mesmas estruturas neurais que são importantes para o sono e sonhos. Além disso, muitos de nós já vimos cachorros ou gatos se movendo e até vocalizando durante o sono; isto, junto a outras evidências experimentais, leva muitos cientistas a afirmarem que ao menos mamíferos com certeza sonham, embora seja difícil saber exatamente com o que sonham e quanto dura o sonho deles.
Vimos então que os sonhos são muito mais do que imagens e sensações que vivenciamos durante o sono; eles têm uma função fisiológica. Além disso, segundo os pesquisadores até os animais sonham – resta saber com o quê! Tem alguma dúvida ou comentário sobre o assunto? Deixe sua opinião na nossa página!
Até a próxima!
Por Nathália de Moraes
nathalia.esalq.bio@gmail.com
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