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Quando a pandemia se espalhou, de um dia para o outro, precisamos migrar do presencial para um formato totalmente à distância. Algumas instituições optaram pelo Ensino à Distância (EAD) tradicional, com aulas gravadas e interações entre alunos e com professores por meio de fóruns, enquanto outras optaram pelo Ensino Remoto (ER) Síncrono, com aulas virtuais, mas ao vivo. Um formato híbrido, com um pouco de cada também é possível.
Muitos alunos, pais e professores criticam muito essa mudança de formato, dizendo que “não é a mesma coisa”. Claro que não é, mas a grande questão é “será que é possível ensinar/aprender nesse novo formato?”.
Uma resposta muito resumida é “Sim!”. Mas nada na vida é tão simples assim. Então, vamos para uma resposta mais elaborada.
Dois estudos de revisão de literatura investigaram esses temas. O primeiro foi publicado por pesquisadores das Filipinas em 2019 e mostrou que o ensino on-line permite um aprendizado tão efetivo quanto o presencial no ensino superior, especialmente para alunos que são disciplinados, motivados, que tenham boa alfabetização digital e que precisem de um cronograma mais flexível de curso. Entretanto, esse formato pode gerar sentimentos de isolamento e exige uma capacitação tecnológica dos professores e um bom planejamento do curso para esse formato. Então, para alunos dos ensinos fundamental e médio talvez não seja tão eficaz, mas os dados para chegar a essa conclusão ainda não existiam quando a revisão foi feita.
O segundo estudo, publicado por um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos em 2021, comparou o ER Síncrono com o EAD tradicional e o presencial. O ER Síncrono se mostrou tão eficiente quanto o ensino presencial quanto ao nível de aprendizagem cognitiva dos estudantes, e é melhor do que o EAD tradicional. Porém, eles ressaltam que o nível de interação entre alunos e dos professores com os alunos têm um impacto importante na qualidade e no sucesso do ensino. Também ressaltam que o resultado positivo do ER Sincrono foi mais relevante na pós graduação do que em níveis mais básicos da educação.
Extras
Como criar um bom curso on-line?
De acordo com o estudo realizado pelos pesquisadores Mayleen D. B. Castro e Gilbert M. Tumibay das Filipinas, um bom ensino on-line tem as seguintes propriedades: é centrado na atuação do estudante, tem um custo menor, permite uma alta retenção das informações, é flexível, aumenta o engajamento, tem uma alta interconectividade entre professores e alunos e tem uma boa sinergia entre o meio de ensino e aspectos pedagógicos. Para isso, é importante levar em consideração os seguintes conjuntos de fatores:
- Estudante deve ter:
- nível de motivação intrínseca
- auto-eficácia e autodireção
- responsabilidade no processo de aprendizagem
- boa alfabetização digital
- Educador/tutor deve:
- ter atitude positiva frente à tecnologia
- ser um facilitador do processo de aprendizagem
- monitorar o progresso dos estudantes continuamente
- guiar os estudantes e fornecer estrutura
- compartilhar responsabilidades com a equipe pedagógica e com estudantes
- ter boa alfabetização digital
- Instituição de ensino deve adotar:
- políticas institucional
- suporte acadêmico técnico, financeiro e de infraestrutura
- visão estratégica clara
- compreensão da configuração cultural
- gestão exemplar
- Estratégias de ensino com:
- estratégias pedagógicas ricas
- envolvimento dos instrutores
- estrutura instrucional metacognitiva (com consciência do processo de aprendener), estratégica
- apoio à colaboração, trabalho cooperativo, interação social
- feedback individualizado e formativo
- Conteúdo:
- interativo e atraente
- contextualizado e com exemplos do mundo real
- com exemplos e tarefas relevantes para prática
- Mídia:
- com muitos recursos
- fácil de navegar
- Design do curso:
- discussões guiadas e estruturadas com expectativas claras
- grupos pequenos
- motivações extrínsecas (ex: notas)
- prazos flexíveis
- validação do conhecimento alinhada com os resultados
Papel da interação na qualidade e no sucesso do ensino on-line:
O trabalho publicado por Florence Martin e seus colaboradores ressaltou a importância das interações entre estudantes e dos professores com os estudantes. Estudantes de cursos on-line têm uma chance maior de se sentirem isolados do grupo, o que pode levar à desistência do curso. O formato de ensino com aulas síncronas e interações ao vivo permite que o professor e os estudantes interajam de formas diferentes, usando imagens de vídeo, voz, texto escrito no chat e, em algumas plataformas, até reações com o uso de emojis e figurinhas. Já a interação apenas por fóruns de discussão é mais centrada no conteúdo do curso e mais objetiva. Portanto, as interações síncronas mais imediatas com comunicação em vários formatos permitem uma relação socio-emocional mais intensa, geram um senso de comunidade e pertencimento, o que aumenta o engajamento dos participantes e facilita a troca de informações tanto entre professor e estudantes como entre os estudantes.
Semana que vem comemoramos o dia do professor. Como não temos recursos para dar o reconhecimento e o incentivo financeiro que achamos que os professores merecem, fazemos o que sabemos e conseguimos. Vamos trazer o que a ciência tem a dizer sobre saúde mental e resiliência, mais especificamente, como melhorar esses dois aspectos tão importantes na rotina de um professor.
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Referências:
Castro, M. D. B., & Tumibay, G. M. (2021). A literature review: efficacy of online learning courses for higher education institution using meta-analysis. Education and Information Technologies, 26(2), 1367–1385. https://doi.org/10.1007/s10639-019-10027-z
Martin, F., Sun, T., Turk, M., & Ritzhaupt, A. D. (2021). A Meta-Analysis on the Effects of Synchronous Online Learning on Cognitive and Affective Educational Outcomes. 22(3).