No início do ano de 2021 uma mistura de sensações tomava conta das pessoas: muitas acreditavam que a virada do ano de 2020 – o fatídico ano – traria o fim da pandemia, como que de maneira mística, eu diria; outros acreditavam que o pior já tinha passado nas primeira e segunda ondas e alguns pensavam que, na verdade, o pior ainda estava por vir. 

Podemos dizer que 2021 foi realmente uma mistura de tudo: períodos com muitos casos novos sendo registrados e assustadoras 4 mil mortes por dia e períodos menos turbulentos, com menos de 100 mortes por dia. 

Se olharmos para os gráficos do número de mortes por dia e a taxa de aplicação de vacinas, podemos dizer que um grande divisor de águas no Brasil foi realmente a vacinação (figura). Conforme o tempo passava e o número de doses de vacinas aplicadas aumentava, o número de pessoas hospitalizadas e que morriam diminuía. Sim, indiscutivelmente, a vacina salva vidas.

Figura: comparação do número de mortes X doses de vacinas aplicadas ao longo do tempo no Brasil. Fonte: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2021/11/14/gracas-a-vacinacao-diminuicao-de-casos-graves-e-mortes-por-covid-muda-a-rotina-dos-hospitais-do-pais.ghtml

Diferentemente de muitos países, nos quais montaram-se stands de vacinação em farmácias, supermercados e estações de metrô, aqui no Brasil, felizardos e abençoados pela nossa cultura de ir ao “postinho do SUS” (alô, Zé Gotinha), milhões de brasileiros foram se vacinar. Hoje estamos com mais de 142 milhões de brasileiros totalmente vacinados, o sétimo país que mais vacinou sua população. 

Em 2021 a ciência também aprendeu que devido às variantes –  como a variante gama e a recém-descoberta e já preocupante ômicron – é necessário um reforço na vacinação, pois algumas das variantes podem “escapar” do sistema de defesa humano. Assim vamos terminar 2021 e começar 2022 já com o braço pronto para mais doses: no Brasil, por exemplo, o Ministério da Saúde aprovou a dose de reforço para todas as pessoas acima de 18 anos. Segundo os especialistas, a adesão dos brasileiros à vacinação é um trunfo na luta contra as variantes do coronavírus.

Além das vacinas (oito aprovadas para uso), 2021 trouxe mais conhecimentos sobre possíveis medicamentos para a COVID-19 (o remdesivir foi aprovado pela FDA nos EUA e o molnupiravir no Reino Unido) e também trouxe luz sobre os efeitos duradouros da COVID, como dor nas articulações, cansaço e até dificuldades de memória. Muitos cientistas acreditam que essa doença se tornará uma infecção respiratória sazonal e, por essas e outras razões, é muito importante que o combate à doença, principalmente pelas vacinas, se torne menos desigual no mundo, principalmente nos países africanos que estão entre os que menos vacinaram sua população.

E quais são os outros possíveis desafios que enfrentaremos no ano que vem? Bom, apesar do grande avanço da vacinação em vários países, segundo os cientistas, a pandemia não acabou e o aparecimento de variantes como a ômicron em regiões com baixa cobertura vacinal vai continuar trazendo preocupação. Na África e em vários países europeus, por exemplo, essa variante provocou o aumento exponencial dos casos de COVID. 

Mundialmente os esforços são também para se avançar no monitoramento dos casos e das variantes (o Brasil inclusive tem uma rede de monitoramento genômico feita em conjunto por instituições públicas e privadas) e lidar com o ressurgimento e epidemia de outras doenças respiratórias que, graças ao isolamento, estavam com menor circulação, como a gripe comum (influenza A) e os resfriados.

Que em 2022 nós finalizemos nosso ano aqui no Ciência Informativa com um texto diferente sobre como passamos pela pior pandemia e estaremos vacinados, imunes e felizes. 

Por Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

[*] No momento em que esse texto for publicado alguns dados poderão estar desatualizados. 

Referências

[1] https://acmedsci.ac.uk/policy/policy-projects/covid-19-looking-ahead-to-winter-2021-22-and-beyond

[2] https://acmedsci.ac.uk/file-download/4747802

[3] https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2777343

[4] https://www.imf.org/-/media/Files/Publications/SDN/2021/English/SDNEA2021004.ashx

[5] https://www.merck.com/news/merck-and-ridgebacks-investigational-oral-antiviral-molnupiravir-reduced-the-risk-of-hospitalization-or-death-by-approximately-50-percent-compared-to-placebo-for-patients-with-mild-or-moderat/

[6] https://g1.globo.com/saude/coronavirus/noticia/2021/11/21/brasil-registra-97-mortes-por-covid-media-movel-volta-a-ficar-em-estabilidade.ghtml

[7] https://www.nytimes.com/interactive/2020/science/coronavirus-vaccine-tracker.html

[8] https://especiais.g1.globo.com/bemestar/vacina/2021/mapa-brasil-vacina-covid/

[9] https://ourworldindata.org/covid-vaccinations

[10] https://www.who.int/en/activities/tracking-SARS-CoV-2-variants/

[11] https://www.cnnbrasil.com.br/saude/veja-como-fica-o-esquema-de-vacinacao-de-reforco-de-acordo-com-a-anvisa/

[12] https://www.nytimes.com/interactive/2020/science/coronavirus-drugs-treatments.html

[13] https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil-tem-maior-numero-de-mortes-e-menor-de-nascimentos-em-um-1-semestre/

[14] https://agencia.fiocruz.br/vigilancia-genomica-covid-19

[15] https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/12/13/reino-unido-tem-primeira-morte-por-variante-omicron-da-covid-19.ghtml

[16] Fonte da imagem em destaque: https://www.iybssd2022.org/en/as-covax-disappoints-countries-find-succor-in-home-grown-jabs/

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