A baleia azul (Balaenoptera musculus) é o maior animal encontrado atualmente no planeta. Ela pode chegar a ter 20 m de comprimento e a pesar 180 toneladas. Apesar do seu grande porte, a baleia azul não é uma grande caçadora e não se alimenta de vertebrados, como peixes e mamíferos. O principal alimento desse gigante dos mares é o krill, pequenos crustáceos que medem em média 5 cm (menor do que um dedo mindinho da maioria dos adultos). Portanto, para manter seu organismo funcionando, a baleia azul filtra grandes volumes de água em busca de toneladas de pequenos crustáceos por dia.
O tamanho corporal gigante das baleias exige essa intensa busca por grandes quantidades de alimento. Perguntas como “O que promoveu o surgimento de animais tão grandes como as baleias azuis?” e “Como esse gigantismo se mantém na espécie?” têm intrigado pesquisadores por anos. Finalmente, um grupo de pesquisadores americanos encontrou evidências que podem nos ajudar a entender melhor a evolução desses animais gigantes.
Esse grupo de pesquisadores avaliou o tamanho de diversas espécies de baleia e estudou a relação evolutiva entre essas diferentes espécies. Isso permitiu que eles identificassem que o tamanho das baleias tem aumentado lentamente desde o surgimento desse grupo de animais. Eles também observaram que as baleias aumentaram de tamanho de forma muito mais intensa nos últimos 3,5 milhões de anos.
Encontrar essa data permitiu uma busca mais precisa por mudanças ambientais que possam ter levado ao aumento de tamanho das baleias. Há cerca de 3,5 milhões de anos, ocorreu uma drástica mudança de temperaturas no planeta. Nesse período, acabava o Plioceno, período em que os oceanos eram, em média, 3 °C mais quente que são hoje, como se existisse um El Niño constante. Isso fez com que a houvesse uma pequena circulação vertical dos oceanos, ou seja, uma pequena quantidade de animais submarinos foram trazidos para superfície. Com o fim do Plioceno, teve início uma era do gelo, o Pleistoceno, com o consequente aumento da circulação vertical dos oceanos e aumento da disponibilidade de pequenos animais na superfície.
Esse estudo permitiu aos pesquisadores concluírem que o resfriamento do planeta e o aumento da circulação vertical dos oceanos levaram ao aumento da disponibilidade de alimento para as baleias filtradoras. Isso permitiu que animais maiores conseguissem obter alimento com facilidade e que o tamanho das baleias aumentasse ao longo das gerações.
Esse resultado traz uma reflexão importante. Se a temperatura do planeta e dos oceanos continuarem a subir, provavelmente haverá uma diminuição da disponibilidade de krill para as baleias. Portanto, o aquecimento do planeta pode aumentar o risco de extinção desse gigantes.
por Patricia S. Sujii
sujiips@gmail.com
Referência
Slater, G. J., Goldbogen, J. A., & Pyenson, N. D. (2017, May). Independent evolution of baleen whale gigantism linked to Plio-Pleistocene ocean dynamics. In Proc. R. Soc. B (Vol. 284, No. 1855, p. 20170546). The Royal Society.
Imagem: Ciaran Duffy (http://hellociaran.com/)