Nosso texto desta semana traz uma novidade científica: a descoberta de uma espécie de sapo da Amazônia que tem mais de 10 cromossomos sexuais! A pesquisa feita por um grupo – que inclui um brasileiro – é uma novidade que abre horizontes para mais estudos sobre a evolução dos cromossomos em animais vertebrados! Quer saber mais? Vem ler o texto dessa semana!
Antes de tudo vamos relembrar que, em algumas espécies de animais, o sexo biológico de um indivíduo é determinado por cromossomos sexuais, que são geralmente diferentes morfologicamente dos cromossomos autossomos – aqueles relacionados a outras funções no corpo. Na espécie humana, por exemplo, os cromossomos sexuais X e Y determinam o sexo biológico, onde a combinação XX representa o sexo feminino e XY representa o sexo masculino. E eles ainda são diferentes em forma e tamanho (veja aqui). Porém, em outras espécies o mecanismo é diferente; em peixes e anfíbios pouco se sabe sobre a determinação do sexo e se ela envolve ou não cromossomos morfologicamente diferentes. Assim, essa área de pesquisa ainda é bem escassa em informações.
É neste cenário que entra a descoberta que foi publicada em uma revista científica muito importante da área: a espécie de sapos da Amazônia jia-da-floresta (Leptodactylus pentadactylus) tem 12 cromossomos sexuais. Esta espécie possui no total 22 cromossomos no seu genótipo, sendo 12 cromossomos sexuais e 10 autossomos.
O biólogo brasileiro Thiago Gazoni foi responsável por essa pesquisa que envolveu também pesquisadores de outros países. Eles analisaram 6 sapos fêmeas e 7 sapos machos, coletados em uma área do estado do Mato Grosso, e descobriram algo surpreendente: os 12 cromossomos sexuais formam um círculo durante a divisão celular, como se fizessem uma dança. E, diferentemente do que ocorre na espécie humana, a suspeita é que nesta espécie todas as cópias dos cromossomos sexuais são ativas. Para os pesquisadores, esses cromossomos sexuais sofreram vários rearranjos durante a evolução da espécie.
O mais interessante é que o número de cromossomos deste sapinho supera o número de cromossomos sexuais que já havia sido descoberto, sendo até o momento o maior número de cromossomos sexuais já registrado em animais vertebrados! Além disso, em anfíbios a observação dos cromossomos sexuais é difícil, portanto essa pesquisa serve de base para outras análises também, já que a suspeita dos pesquisadores é que rearranjos cromossomais desempenhem papel importante na evolução da espécie.
Essa e outras pesquisas mostram o quanto a ciência é dinâmica, podendo mudar e “derrubar” paradigmas quando menos esperamos!
Até a próxima!
Por Nathália de Moraes
nathalia.esalq.bio@gmail.com
Referências
[1] Guimarães, M. (2018). Os mistérios de ser macho ou fêmea.Acessado de http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/03/13/misterios-de-ser-macho-ou-femea/?cat=ciencia em maio de 2018
[2] Gazoni, T. et al. (2018). More sex chromosomes than autosomes in the Amazonian frog Leptodactylus pentadactylus. Chromosoma. doi 10.1007%2Fs00412-018-0663-z
[3] Imagem em destaque: https://ppbio.inpa.gov.br/Leptodactylus%20pentadactylus