Alguma das atividades mais básicas do nosso dia-a-dia são frutos do avanço científico. O fato de podermos todos os meses do ano ir ao mercado e comprar bananas é ciência; todas as vezes que usamos nosso tão avançado Smartphone é ciência; sempre que utilizamos algum modelo de transporte diferente de nossas pernas é ciência; quando sentimos dor de cabeça e tomamos um analgésico é ciência. Mas raramente damos a ela seus méritos, raramente pensamos na ciência como uma instituição humana necessária a todas as classes. Normalmente a deixamos para aqueles que resolvem equações gigantescas e usam palavras técnicas e de difícil entendimento. Isso é um perigo.

A ciência trabalha utilizando um método antigo, porém eficaz. Ela prega a dúvida, ela prega a pergunta, a criação de hipóteses, o teste, a falha, a coleta de dados e a refutação das suas hipóteses. Ela diz: “Duvide! Teste, pesquise, veja as fontes, obtenha dados!”. Em uma atualidade de notícias falsas, de aquecimento global, de políticos corruptos, o método científico, assim como o incentivo para questionar os dogmas, as leis e as notícias é extremamente necessário. Precisamos aprender.

Uma das coisas que mais me preocupa – além da credulidade, da pseudociência e da anti-ciência que vêm junto com esse analfabetismo científico – é o baixo conhecimento que temos da forma de organização e de funcionamento da natureza. Quando falo disso, muitos pensam sobre gravidade, órbitas elípticas e movimento retilíneo uniforme, mas em minha fala existe muito mais do que isso.

Tenho pouco tempo de estudo, mas já tenho algumas noções que vejo como importantes. Em várias salas de aula o que escuto são professores com dados assustadores sobre a poluição, a produção de lixo, o consumo exacerbado e várias outras coisas. Conhecer o funcionamento e a organização da natureza é também conhecer os ciclos da vida, é entender como as coisas ao nosso redor acontecem. O estudo da ecologia pode ser um passo nessa direção.

Peixes mortos após o rompimento da barragem de Marinana. Créditos: Associação dos Pescadores e Amigos do rio Doce

Muito das pessoas que conheço pensam que ecologia é reciclagem, é aprender a preservar o ambiente, mas essa parte é apenas o lucro. Se o conhecimento concebido pelos ecólogos de várias eras fosse disseminado, talvez saberíamos que, no rompimento da barragem de Mariana, todo um bioma é destruído e podem ser geradas adversidades importantes para os humanos. Um exemplo é a diminuição de peixes que se alimentam das larvas do mosquito que transmite a febre amarela, fazendo com que a população de mosquitos cresça, o que pode gerar um surto da doença. E digo mais, se soubéssemos ecologia, não iriamos matar os macacos pois saberíamos que isso seria ainda mais prejudicial para nós!

Se tivéssemos noções de ecologia, saberíamos da importância de cada ciclo, de cada ser vivo, de cada recurso natural. Saberíamos que as baleias, com suas fezes ricas em nutrientes, fazem com que o plâncton cresça e, com isso, todo uma cadeia pode ser beneficiada: o zooplâncton, que se alimenta de plâncton cresce e os peixes, que se alimentam de zooplanctôn também crescem. Além disso, com mais plâncton haverá menos dióxido de carbono na atmosfera. Isso pensando apenas no impacto que a baleia pode causar no ambiente marinho.

Se tivéssemos noções ecológicas talvez entenderíamos a importância da preservação, do consumo consciente, da economia e da gestão ambiental. Talvez, e esse é o pensamento de alguém otimista, pudéssemos não ter crescido dessa maneira torta. É triste saber que cientistas dedicaram sua vida para pesquisar sobre as mudanças climáticas e suas causas e algumas pessoas, com baixo ou quase nenhum conhecimento científico, saem por aí dizendo que o aquecimento global é invenção da mídia, e mais triste ainda é saber que muitas pessoas acreditam nisso.

É triste saber que alguém sofreu, foi preso, por dizer que o planeta era redondo e que na verdade ele que gira em torno do sol, para que alguém, na era da internet e do fácil acesso, em pleno ano de 2018, saísse por aí dizendo que a terra é plana.

Entendem como é um perigo quase silencioso? Com a ciência – tanto as exatas como as humanas – poderíamos salvar o mundo, mas preferimos mentiras baseadas no ego inflado e frágil que temos. Preferimos não saber a verdade, preferimos um mundo de fantasia, mesmo que o mundo real possa ser centenas de vezes mais interessante. Isso precisa ser mudado. A ciência como um todo, o seu modo de produção, o pensamento crítico, precisam ser incentivados. Imaginem se todos, antes de passarem uma notícia pelo whatsapp para toda a família, verificassem as fontes, a veracidade dos fatos apresentados. Imaginem se nossos contatos do facebook, antes de afirmarem fatos históricos, pesquisassem em livros ou em artigos comprometidos com a verdade?

Eu vejo uma necessidade enorme de que a ciência se torne normal a todas as pessoas inclusas no sistema social, e não só aos cientistas. Eu vejo uma esperança na educação, eu vejo uma faísca de mudança através do conhecimento.

Autora: Letícia Helena Guedes Oliveira

One Reply to “O analfabetismo científico, um inimigo quase silencioso… Quase.”

  1. Letícia Helena Guedes Oliveira você vai longe! Que você possa fazer a diferença, deixar sua marca no mundo! Parabéns, o planeta precisa de pessoas que pensem como você. Mas precisamos não só de bons pensamentos e ideias, precisamos de ação! Vá em frente, mude o mundo! Faça a diferença!

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