Você já ouviu falar de superbactérias? Seus super poderes incluem não serem atingidas pela maioria dos anitibióticos existentes e, por isso, podem ser consideradas grandes vilãs da vida real.

Em 2016, uma mulher americana com aproximadamente 70 anos de idade foi infectada por uma bactéria da espécie Klebsiella pneumoniae, em uma visita à Índia. Ela retornou aos Estados Unidos em agosto de 2016, após tratamento inicial na Índia, e veio a óbito em janeiro de 2017. Essa espécie de bactéria pertence a um grupo chamado de super bactérias, que são capazes de resistir a múltiplos antibióticos. Testes realizados no Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos Estados Unidos (CDC) indicaram que a bactéria coletada da infecção dessa mulher é resistente a 26 antibióticos diferentes [1]. A figura abaixo mostra um meio de cultura com bactérias E. coli (esquerda) e um teste chamado antibiograma (direita). No antibiograma, cada disco branco contém um antibiótico diferente. O anel cinza escuro ao redor de alguns dos discos indicam que as bactérias não conseguem se reproduzir na presença do antibiótico. A ausência do anel indica que a bactéria é resistente ao antibiótico presente no disco. A bactéria da foto é resistente a 11 dos 16 antibióticos testados.

À direita: foto de um meio de cultura com bactérias E. coli. À esquerda: antibiograma. Imagem: Diego Freire.

As super bactérias estão tornando-se mais comuns, mas ainda não são consideradas uma ameaça global. Existem casos relatados em diversos países, mas a maioria das super bactérias (80% – 90%) ainda são suscetíveis a pelo menos um ou dois grupos de antibióticos. [1]

Como surgem as super bactérias?
A capacidade de resistir a antibióticos, ou seja, de não ser afetada por fármacos que inibiriam ou matariam as bactérias, existe há décadas. Muitas das bactérias com as quais interagimos diariamente são resistentes a pelo menos um grupo de antibióticos. Isso ocorre porque cada bactéria tem seu conjunto de genes, e alguns deles permitem que a bactéria produza uma toxina que inativa o fármaco; outros ainda levam a uma alteração nas estruturas em que o fármaco se liga. Cada bactéria, normalmente, é resistente a apenas um ou poucos grupos de drogas. Entretanto, estão sendo descobertos microrganismos que acumularam diferentes genes que levam à resistência a múltiplos medicamentos.

Um exemplo desses genes é o chamado mcr-1, que confere resistência à Colistina, um antibiótico usado na produção agropecuária, que pode ser aplicado em humanos como último recurso no tratamento de infecções causadas por bactérias que não respondem a outros fármacos. Esse gene surgiu por uma mutação e se espalhou por seleção natural, porque bactérias resistentes tem uma capacidade maior de sobreviver e consequentemente, de deixar mais descendentes. Além disso, o mcr-1 pode ser facilmente transferido de uma bactéria para outra, por um processo chamado transferência horizontal [2].

Assim, por meio de transferência horizontal, juntamente com o surgimento de novas mutações e a seleção natural, genes que conferem resistência a antibióticos tornam-se mais comuns entre as bactérias. Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos para tratamento de infecções em humanos e na produção agropecuária está contribuindo com o aumento da frequência de super bactérias.

A recomendação de especialistas é que sejam elaborados planos de ação globais para que continuemos a ter antibióticos que funcionem. Esses planos devem incluir um uso mais racional de fármacos, tanto por humanos como para saúde animal; reforço nos estudos sobre como a resistência a antibióticos pode se espalhar; além de programas de educação da população como um todo, especialmente profissionais da saúde e produtores rurais, sobre o uso indiscriminado de antibióticos.

por Patricia S. Sujii

sujiips@gmail.com

Referências
[1] Chen L, Todd R, Kiehlbauch J, Walters M, Kallen A. Notes from the Field: Pan-Resistant New Delhi Metallo-Beta-Lactamase-Producing Klebsiella pneumoniae — Washoe County, Nevada, 2016. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2017;66:33. DOI: http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.mm6601a7
[2] http://agencia.fapesp.br/encontrada_no_brasil_bacteria_resistente_a_um_dos_mais_poderosos_antibioticos/23749/

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