A maioria das pessoas – principalmente mulheres – conhece cremes ou sabonetes esfoliantes, que são usados para retirar células mortas e outras impurezas da pele, limpando de maneira mais profunda que os sabonetes comuns. Apesar do sucesso comercial que esses produtos têm, não se conhecia – até pouco tempo atrás – os problemas ambientais que eles podem causar, principalmente nos ambientes aquáticos. Ficou curioso para saber mais? Leia nosso texto dessa semana e ajude a preservar o nosso planeta.

Nos cremes e sabonetes esfoliantes estão presentes pequenos grânulos que são os agentes responsáveis pela esfoliação na pele. Esses pequenos grãos podem ser originados a partir de sementes ou cascas de frutos, por exemplo, ou mais comumente são microesferas de plástico, com dimensão variando entre 10 micrometros e 1 milímetro, feitas de polietileno, polipropileno ou poliestireno (plásticos derivados de petróleo).

 

esfoliantes
Imagem 1: esfoliantes vendidos na forma de creme/sabonetes (http://clubedasunhas.com/pes-rachados-esfoliantes-caseiros/)(esquerda). Microesfera de plástico vista ao microscópio eletrônico de varredura (Eriksen et al., 2013) (superior direita). Composição de um esfoliante para rosto indicando a presença de polietileno (polyethylene) (inferior direita).

Essas partículas, além de presentes em cremes e sabonetes esfoliantes, também são comumente encontradas em pastas dentais e até em artigos para uso em microscopia. Por terem tamanho e superfície uniforme e lisa, além de poderem ser coloridas, as microesferas plásticas rapidamente se tornaram parte de muitos produtos, principalmente dos cosméticos.

Porém, após alguns anos em que o uso de microesferas estava disseminado comercialmente, pesquisas apontaram que corpos d’água (como rios, lagos, oceanos) que recebiam efluentes de grandes cidades apresentavam até 20% a mais de partículas em suspensão, sendo a maior parte as microesferas plásticas. O primeiro alerta desse problema foi dado em 1972, quando alguns pesquisadores relataram terem visto um aumento na quantidade de peletes plásticos flutuantes no norte do oceano atlântico. Essas partículas podem chegar aos corpos d’água pelo lançamento direto – no caso de despejo sem tratamento – ou quando o sistema de tratamento de esgoto não consegue retirar eficientemente todas as partículas que flutuam nos efluentes. Dessa forma, os microplásticos se acumulam facilmente nos corpos d’água e atingem altas concentrações.

Uma vez que chegam aos ambientes aquáticos, essas partículas são muito poluidoras, sendo que a poluição de lagos, rios e oceanos com plásticos é uma das mais preocupantes na atualidade. Muito dos animais marinhos não conseguem distinguir o que é microplástico do que é realmente comida, e acabam ingerindo as microesferas. Uma vez dentro de um integrante da cadeia alimentar, os microplásticos podem se acumular facilmente nos outros elos, fenômeno esse que chamamos de biomagnificação. Segundo pesquisas mais recentes, todos os integrantes das cadeias alimentares aquáticas estão em risco iminente de entrar em contato com os microplásticos, tanto nos animais pequenos – como peixes – ou nos animais grandes – como as focas.

Além disso, os plásticos – não somente os microplásticos – podem causar morte aos animais aquáticos por intoxicação, pois eles são capazes de atrair e de interagir com substâncias orgânicas tóxicas que podem estar dissolvidas na água. Outro problema é que devido às propriedades físicas das microesferas, a degradação desses agentes poluentes é muito lenta, senão inexistente, o que faz com que uma vez no ambiente aquático, seja muito improvável sua retirada do meio ambiente.

Nesse contexto, pensando no futuro do nosso planeta, alguns países fizeram leis que proíbem ou regulamentam mais rigorosamente as indústrias que usam essas microesferas. Nos EUA, por exemplo, os fabricantes de cosméticos estarão proibidos de lançar qualquer produto com microesferas a partir de julho desse ano.

Então, quer dizer que lavar nosso rosto com esfoliantes pode ajudar na poluição aquática? Sim, caro leitor, é isso mesmo. Mas como evitar esse risco? Existem muitas soluções caseiras para esfoliantes como os feitos com fubá, açúcar, mel, argila; basta ir conversar com um especialista em estética ou um dermatologista e buscar opções mais ambientalmente corretas e adequadas para sua pele. Como toda ação humana, sempre temos a opção de sermos mais sustentáveis e pensarmos no bem do ambiente e dos seres vivos do planeta em que vivemos.

Até a próxima,

Por Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

Referências

[1] Wikipédia. 2017. Microbeads. Acessado de https://en.wikipedia.org/wiki/Microbead em fevereiro de 2017.

[2] Eriksen, M.  et al. (2013). Microplastic pollution in the surface waters of the Lauretian Great Lakes. Marine Polution Bulletin. 77: 177-182.

[3] Beat the microbead. (2017). Scientific evidence about microplastic ingredients. Acessado de http://www.beatthemicrobead.org/science/ em fevereiro de 2017.

[4] eCycle. (sem data). O perigo dos microplásticos nos esfoliantes. Acessado de http://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/2769-perigo-micro-plasticos-esfoliantes-cosmeticos-contaminam-agua-oceanos-vida-aquatica-como-evitar-esfoliacao-microesferas-polietileno-perigosos-poluentes-meio-ambiente-alternativa-solucoes-caseiras.html em fevereiro de 2017.

[5] Ivar do Sul, J. A. & Costa, M. F. (2014). The present and future of microplastic pollution in the marine environment. Environmental Pollution. 185: 352 – 364. http://i2.wp.com/quietmike.org/wp-content/uploads/2014/04/ocean-pollution.jpg

[6] State of NSW and Environmental Protection Authority. (2016). Plastic microbeads in products and environment. Acessado de http://www.epa.nsw.gov.au/resources/waste/plastic-microbeads-160306.pdf em fevereiro de 2017.

[7] Imagem em destaque: http://i2.wp.com/quietmike.org/wp-content/uploads/2014/04/ocean-pollution.jpg

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