Tenho certeza de que você já ouviu falar delas alguma vez. Elas são as bactérias mais temidas pelos médicos, e normalmente são encontradas dentro do ambiente hospitalar. Elas receberam esse nome – Superbactérias – por serem resistentes aos principais grupos de antibióticos existentes, ou seja, os antibióticos não são capazes de matá-las, sendo muito difícil combater os quadros infecciosos por elas causados. A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera que essas bactérias podem ser a próxima ameaça à saúde pública no mundo.

A resistência aos antibióticos surge pelo uso incorreto do medicamento, ou seja, quando há a dosagem incorreta e/ou quando ele tomado por tempo insuficiente. Esses comportamentos podem permitir que algumas bactérias sobrevivam ao contato com determinado antibiótico. Da mesma forma, uma superbactéria pode ter sido sensível a um ou mais antibióticos e tornou-se resistente a eles. Alguns exemplos de casos de superbactérias já foram tratados aqui anteriormente.

A restrição da venda de antibióticos no Brasil foi uma importante medida para tentar frear o surgimento de novas bactérias resistentes, mas essa não é a única solução ao problema. Diferentes alternativas estão sendo estudadas, indo desde a busca por novos antibióticos e novas formas de controle dessas bactérias, até entender como formas de alimentação podem evitar a infecção por essas superbactérias. A pesquisadora Angélica Vieira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é a responsável pelo projeto que visa estudar o efeito da alimentação no combate às superbactérias.

A pesquisadora trabalha com a Enterobactéria Klebsiella pneumoniae, bactéria que está entre o grupo mais crítico de superbactérias, sendo resistente a 95% dos antibióticos existentes no mercado farmacêutico. Essa é uma espécie que é encontrada na flora intestinal humana, por isso ela é considerada como uma das mais preocupantes no Brasil, sendo a principal responsável por infecções em pacientes internados. Você pode conferir a lista com as 15 espécies bacterianas que mais nos preocupam aqui.
O objetivo do estudo desenvolvido por Vieira e sua equipe é verificar se é possível impedir ou dificultar a infecção por Klebsiella pneumoniae em pessoas que apresentam uma flora intestinal equilibrada, obtida através de uma alimentação saudável e rica em fibras. Essa hipótese foi levantada justamente por se tratar de uma espécie bacteriana que pode habitar o intestino de pessoas saudáveis, ou seja, embora presente no organismo, não causa danos a nossa saúde. Isso ocorre por existir um equilíbrio entre todas as espécies bacterianas presentes na flora intestinal e, enquanto houver o equilíbrio, menor é a chance de bactérias oportunistas colonizarem um ambiente. Este é o primeiro trabalho que busca uma forma de controle de superbactérias através da alimentação.

A pesquisadora está entre as 7 ganhadoras do prêmio “Para Mulheres na Ciência” de 2018, prêmio que tem como objetivo incentivar a ciência no Brasil e incentivar o número de mulheres na ciência. Você pode conhecer as vencedoras de 2018 aqui.
Esse é um exemplo dentre muitos estudos de grande importância que são realizados em nosso país, e que podem ajudar a resolver problemas no futuro. Não podemos deixar que a ciência e a pesquisa sejam deixadas em segundo plano, um país que não investe em pesquisa, não investe no futuro.

Por Jaqueline R. de Almeida

 

Referências
Lima, M.R.S.; Soares, N.S.; Mascarenhas, M.D.M.; do Amaral,E.J.L.S. Intervenção em surto de Klebsiella pneumoniae produtora de betalactamase de espectro expandido (ESBL) em unidade de terapia intensiva neonatal em Teresina, Piauí, 2010-2011. Acesso em 17 de agosto de 2018 < http://www.scielo.br/pdf/ress/v23n1/2237-9622-ress-23-01-00177.pdf>
Moreira, V.C.; Freire, D. Klebsiella pneumoniae e sua resistência a antibióticos. Acesso em 17 de agosto de 2018 <http://www.cpgls.pucgoias.edu.br/6mostra/artigos/SAUDE/VANESSA%20CARVALHO%20MOREIRA.pdf>
Pimentel, T. Cientista da UFMG está entre as vencedoras do prêmio ‘Para Mulheres na Ciência’. Acesso em 17 de agosto de 2018 < https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2018/08/13/cientista-da-ufmg-esta-entre-as-vencedoras-do-premio-para-mulheres-na-ciencia.ghtml>

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