Todos os seres vivos apresentam metabolismo primário, ou seja, um conjunto composto por diversas reações químicas que promovem funções básicas para sua sobrevivência: como o seu desenvolvimento, seu crescimento e sua reprodução. As plantas são organismos sésseis (imóveis), portanto, não podem se locomover quando estão incomodadas com algum tipo de estresse, como calor e frio, ou para fugir de visitantes desagradáveis, como insetos. Sendo assim, para lidar com tais estresses, as plantas desenvolveram diversos mecanismos de defesa, incluindo a produção de metabólitos originados do metabolismo secundário.

Os metabólitos secundários são compostos orgânicos que apresentam esse nome por não serem normalmente essenciais para a sobrevivência das plantas. No entanto, esses compostos podem ser fundamentais para garantir a sobrevivência em condições de estresse. Os metabólitos secundários podem ser divididos em diferentes grupos de acordo com a sua composição química: como os alcaloides, terpenoides e fenóis. O que muitas pessoas não sabem é que os metabólitos secundários são aproveitados por nós, humanos, há milhares de anos.

A cafeína é um exemplo de alcaloide que está presente no café (Figura 1), chocolate, chá e também em diversos medicamentos. Além do café ser um estimulante capaz de aumentar nossa concentração, também está envolvido na prevenção de diabetes e doenças neurodegenerativas. Outro exemplo de alcaloide é a cocaína, um forte e viciante estimulante presente na planta chamada coca, nativa da América do Sul. A cocaína é uma droga ilícita que pode provocar o envelhecimento precoce, propensão a doenças cardiovasculares, perda de memória e susceptibilidade a infecções.

Figura 1. A estrutura química da cafeína (Fonte: https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/caffeine#section=Top).

O ácido salicílico (AS) pertence ao grupo dos fenóis e é derivado do composto salicina, encontrado em diversas plantas como salgueiro (Salix alba) (Figura 2) e a rainha-dos-prados (Spirea ulmaria). Desde o século XIX o AS é utilizado para a produção de aspirina, mas há 400 anos AC o grego Hippocrates já utilizava os extratos da casca do salgueiro para aliviar dores do parto e febre.Outros exemplos de metabólitos secundários importantes para a saúde dos seres humanos são as saponinas e a artemisinina, ambos terpenóides. As saponinas são encontradas em diversas plantas, como luzerna-cortada (Medicago truncatula) e são capazes de diminuir o crescimento do tumor em células cancerígenas, já artemisinina é uma droga usada no tratamento de malária e está presente na planta Qinghao (Artemisia annua).

Figura 2. Salgueiro ou chorão.

As plantas produzem diversos metabólitos secundários como mecanismo de defesa e – como vimos pelos exemplos mostrados no texto –  estes têm grande importância para os seres humanos. Muitas pesquisas foram e estão sendo feitas para descobrir como as plantas produzem esses compostos, ou como podemos produzi-los em maior quantidade e ainda quais são os seus benefícios para a os seres humanos. Há muito ainda a ser descoberto, principalmente se pensarmos na variedade enorme de plantas presentes nos diversos biomas do Brasil e do mundo.

Por Bianca Ribeiro

biancaribeiro0589@gmail.com

Referências:

Coffee Consumption: It Does a Body Good. Science Translational Medicine. 2012: Vol. 4, Issue 163, pp. 163ec222 Disponível em: http://stm.sciencemag.org/content/4/163/163ec222

Coffee Perks Up Parkinson’s Disease Prevention. Science Translational Medicine. 2011: Vol. 3, Issue 99, pp. 99ec145 Disponível em:  http://stm.sciencemag.org/content/3/99/99ec145

Cocaine May Age the Brain. Science. Share. 2012. Disponível em: http://www.sciencemag.org/news/2012/04/cocaine-may-age-brain

Miner J et al. The Discovery of Aspirin’s Antithrombotic Effects. Tex Heart Inst J. 2007: 34(2): 179-186. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1894700/

Gholami A et al. Natural product biosynthesis in Medicago species. Natural Product Reports. 2014. Disponível em: http://pubs.rsc.org/en/Content/ArticleLanding/2014/NP/c3np70104b#!divAbstract

Ashley EA et al. Malaria. Lancet. 2018. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29631781

 

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