Você já percebeu que as propagandas de novos alimentos são cada vez mais frequentes no nosso cotidiano? Sempre nos deparamos com uma chamada nova na TV ou com um produto diferente sendo oferecido nos supermercados (podemos inclusive experimentar!). E as novidades englobam diferentes aspectos: aumento da quantidade de algum nutriente importante, retirada de algum ingrediente que faz mal à saúde, produtos mais práticos de serem armazenados e preparados, além de novas formulações e embalagens. Às vezes são tantas novidades que achamos que a indústria não conseguirá desenvolver novos produtos que sejam atrativos ao seu consumidor.

No entanto, muitos pesquisadores trabalham para que estas novidades nunca acabem. Prova disso é que existem pesquisas sendo realizadas com a impressão de alimentos. Isso mesmo! Alimentos que são produzidos em uma impressora 3D. A impressão tridimensional, ou simplesmente a impressão 3D, é uma técnica que permite a obtenção de objetos e alimentos a partir de um computador e uma impressora. Basicamente o computador “diz” à impressora como é o alimento que deve ser fabricado, e ela o produz, ou melhor, o imprime.

A primeira impressora 3D foi desenvolvida na década de 80 e usou basicamente plástico como matéria-prima para as impressões. Os materiais produzidos por esta impressora foram cerâmicas e polímeros e a impressão de alimentos não era sequer cogitada. No entanto, há aproximadamente 11 anos uma impressora para alimentos foi desenvolvida, focando na impressão de alimentos viscosos.

Já existem pesquisas científicas realizadas com testes de impressões 3D de formulações de gel de surimi (alimento feito à base de carne ou pasta de peixe branco), gel de suco de limão, massas com cereais (que podem ser utilizadas para produção de bolachas, por exemplo) e purê de batatas. A impressão em 3D aplicada à produção de alimentos tem o potencial único de criar estruturas geométricas complexas, permitir a produção em diferentes quantidades  e, ao mesmo tempo, trazer benefícios econômicos e ambientais. Bioengenheiros e cientistas defendem que a impressão de carnes, por exemplo, seria o processo com maiores benefícios, uma vez que diminuiria a emissão de gases do efeito estufa (oriundos da pecuária) e contribuiria para o bem-estar dos animais. Além disso, esta técnica permite a criação de alimentos personalizados com base em propriedades específicas relacionadas às necessidades nutricionais, ingestão de calorias, forma, textura, cor ou sabor específico.

Para que esses alimentos sejam de fato consumidos, obviamente devem ser produzidos com ingredientes seguros, que já são utilizados pela indústria. Ou seja, essas impressoras são específicas e não utilizam tinta como os equipamentos que nós conhecemos. Assim, as formulações testadas possuem em sua composição ingredientes como amido de batata, caseinato de sódio, fibras prebióticas, leite em pó semidesnatado e metilcelulose (um composto derivado da celulose que já é utilizado como emulsificante e espessante).

Estas pesquisas ainda precisam ser aprofundadas, pois as formulações devem apresentar, em seu resultado final, alimentos que sejam bem aceitos pelos consumidores. Isso significa que os alimentos impressos não devem mudar suas características e ainda deve permitir outras ações como, por exemplo, serem assados ou congelados. Assim, a estrutura, sabor, textura, enfim, todas as características que conhecemos para cada alimento devem ser mantidas. Além desses desafios, esta tecnologia ainda apresenta algumas limitações para seu uso, como custo e tempo elevado para produção em larga escala. Por estes motivos, a técnica de impressão 3D ainda não é considerada como sendo uma substituta da indústria convencional na fabricação de alimentos. No entanto, tudo indica que no futuro poderemos preparar nossas refeições imprimindo o macarrão e o molho de nossa preferência, podendo, ainda, acompanhar com almôndegas impressas à partir de uma cápsula com ingredientes que se transformarão em um alimento que apresente o sabor, textura, aroma e cor da carne. Por isso, já vale a reflexão: você trocaria seu fogão por uma impressora 3D?

Por Cínthia Hoch B. de Souza

Referências:
Le-Bail, A.; Maniglia, B.C.; Le-Bail P. 3D printing of foods: recent developments, future perspectives and challenges, Current Opinion in Food Science. doi: https://doi.org/10.1016/j.cofs.2020.01.009, 2020.
Zhang, L.; Lou, Y.; Schutyser, M.A.I. 3D printing of cereal-based food structures containing probiotics. Food Structure, v.18, p.14-22, 2018.
Zhu, S.; Stieger, M.A.; Goot, A.J.; Schutyser, M.A.I. Extrusion-based 3D printing of food pastes: correlating rheological properties with printing behaviour. Innovative Food Science & Emerging Technologies, v.58, p. 102214, 2019.

Imagem do destaque: Massa contendo cereais para fabricação de produtos de panificação que foi produzida em uma impressora 3D. Adaptado de: Zhang et al. 3D printing of cereal-based food structures containing probiotics. Food Structure, v.18, p.14-22, 2018.

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