Engana-se quem acredita que a obesidade afeta apenas o sistema cardíaco. Pesquisas recentes têm demonstrado que as gorduras, principalmente as saturadas, não afetam apenas o sistema cardíaco, por provocarem o aumento da pressão arterial, mas também podem apresentar feitos danosos ao nervoso.

Trabalhos científicos demonstraram que o consumo excessivo de alimentos ricos em gorduras trans e saturadas (presentes principalmente em produtos processados; à base de leite; na carne vermelha; entre outros) causa uma inflamação em uma região do cérebro chamada de hipotálamo. Essa região é responsável por regular os processos de sede e fome, por controlar as emoções e o comportamento, por produzir hormônios, regular os diferentes estados de consciência, entre outros.

A inflamação dessa área do cérebro leva à morte de neurônios presentes nesta região, fazendo com que os processos regulados no hipotálamo atuem de maneira insatisfatória, o que afetará, principalmente, o controle das sensações de fome e saciedade. Essa ineficiência no controle da sensação de fome e saciedade explica o fato de um indivíduo sentir fome pouco tempo depois de uma farta refeição.

Desta forma, essas alterações geradas no hipotálamo atuam como um mecanismo de manutenção da obesidade e do surgimento de distúrbios relacionados ao ganho de peso, como o diabetes e problemas cardíacos.

Mas não é possível afirmar que todos os casos de obesidade estejam diretamente relacionados aos danos causados no hipotálamo, uma vez que existem estudos que demonstram que, em crianças, a principal causa da obesidade é ligada à genética.

Os pesquisadores também descobriram que as gorduras insaturadas, que são aquelas presentes em peixes, azeites e oleaginosas (castanhas), podem auxiliar na recuperação e formação de novos neurônios no hipotálamo. O trabalho que descobriu esta correlação utilizou o ômega 3 como fonte de gordura insaturada, descobrindo que ele estimula a formação de novos neurônios por interagir com duas proteínas: BDNF e GPR40, sendo a primeira responsável pelo processo de crescimento cerebral e a segunda responsável por detectar ácidos graxos.

Esses estudos são fundamentais para compreender como a obesidade ocorre e principalmente para que ela pare de ser vista como uma “opção pessoal” e que seja tratada com a devida atenção de que este estado necessita.

 

Por Jaqueline R. de Almeida

jaqueline.raquel.almeidada@usp.br

References

Nascimento, L.F.R. et al. Omega-3 Fatty Acids Induce Neurogenesis of Predominantly POMC-Expressing Cells in the Hypothalamus. Diabetes. 28 out. 2015.

Pivetta, M. Uma gordura contra a obesidade. Pesquisa FAPESP. Fev. 2016.

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