A famosa e polêmica pílula fostoetanolamina utilizada para o tratamento do câncer avançou mais uma fase para a sua aprovação. O próximo passo agora são testes clínicos controlados em seres humanos, para comprovar se esse composto pode ser útil no tratamento de diferentes tipos de câncer. Para isso, serão realizados dois estudos clínicos independentes para mensurar a eficiência desse possível medicamento.
O primeiro estudo acontecerá no Icesp (Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto de Câncer do Estado de São Paulo) e terá duas etapas. A primeira será realizada em um grupo de 10 pacientes com câncer, sendo ministrando o medicamento durante dois meses para confirmar a ausência de toxicidade. Caso seja comprovada a segurança das pílulas nessa etapa, o próximo passo será testar em um grupo de 210 pacientes, divididos em 10 grupos com os 10 tipos mais comuns de cânceres: cabeça e pescoço, mama, próstata, colo de útero, colón e reto, estômago, fígado, pulmão, pâncreas e melanoma.
O segundo estudo ocorrerá no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade do Ceará (NPDM-UFC) e o Instituto Nacional de Câncer (Inca) no Rio de Janeiro. A partir de agosto será iniciada a fase 1 da pesquisa clínica, com quatro dosagens do composto em grupo de 60 a 120 voluntário sem câncer, para checar a toxicidade. Na fase 2, o composto será testado em um grupo de 200 pacientes, divido em quatro grupos de 50 pessoas com quatro tipos de cânceres que não respondem bem ao tratamento padrão: melanoma, colo de útero, pulmão e mama. Acredita-se que 6 meses após o início dos testes já será possível coletar resultados preliminares.
A comercialização de um novo medicamento é um processo longo, que dificilmente demora menos que 10 anos, e exige a aprovação da Anvisa para comprovar sua segurança à saúde humana e ao meio ambiente. A fosfoetanolamina sintética tem um histórico diferente, foi produzida e comercializada a aproximadamente duas décadas sem todos os testes clínicos necessários. O Governo Federal aprovou a fosfoetanolamina antes de ser realizado todas as etapas da pesquisa que garante a segurança do medicamento. Esta é uma atitude polêmica, visto aos riscos à saúde e a falta de pesquisas relacionadas a eficiência do composto no combate ao câncer.
A fosfoetanolamina é definida pela formula clínica C2H8NO4P e é produzida naturalmente nos mamíferos pelo retículo endoplasmático das células em todos os tecidos e órgãos. Acredita-se que este composto tenha um modo de ação diferente da quimioterapia e radioterapia no tratamento do câncer. A fosfoetanolamina promove a analgesia, alterando a composição dos lipídios em torno das células cancerígenas, resultando na modificação do funcionamento das mitocôndrias e estimulando a apoptose (morte celular programada) das células cancerígenas. Assim, a fosfoetanolamina ajuda o nosso sistema imunológico a combater a doença.
O início dos testes clínicos marca uma nova etapa na pesquisa desse medicamento. Apesar de a fosfoetilamina ser utilizada a mais de duas décadas por pacientes com câncer, ainda não é possível comprovar cientificamente os efeitos no corpo humano. O que se sabe sobre esse medicamente é muito subjetivo, sem comprovação da sua efetividade e de que ele não traz nenhum risco à saúde humana. Agora precisamos aguardar os resultados preliminares para sabermos se realmente estamos no caminho de encontrar um remédio eficaz contra o câncer, o que levará a uma revolução na área da saúde e na esperança de muitos pacientes em todo o mundo.
Por Nathalia Brancalleão
Contato: nathalia.brancalleao@usp.br
Referências bibliográficas:
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