Maio é o mês das mães e eu já aproveito para desejar um mês muito feliz a todas as pessoas que cumprem esse papel tão importante na sociedade! Existe um ditado que diz que mãe é quem cria, então, um feliz dia das mãe para todas as mães biológicas, às mães adotivas, as tias-mães, avós-mães, pais-mães,… 

Quando pensamos em cuidado materno, é muito comum termos a imagem da nossa própria mãe em mente. Também é comum, especialmente para uma bióloga como eu, pensar em mamíferos amamentando os filhotes, marsupiais como o canguru com os filhotes na bolsa ou aves como os pinguins enfrentando grandes desafios para chocar os ovos e alimentar os recém-nascidos (vejam a Marcha dos Pinguins!). Porém, o cuidado parental existe nos mais diversos grupos de animais e os invertebrados têm estratégias muito impressionantes. 

Os invertebrados incluem insetos, caramujos, aranhas, caranguejos e vários outros animais que não são exatamente uma fauna fofinha para a maioria das pessoas (fofofauna, como eu gosto de chamar). Um caracol do mar chamado Nucella lapillus é uma espécie de molusco carnívoro. A fêmea dessa espécie morre antes dos seus ovos eclodirem. Então, para garantir que seus filhotes terão alimento quando saírem dos ovos, ela também produz ovos tróficos, que são ovos não fertilizados que servem como primeiro alimento para os recém-nascidos. Isso garante alimento até que eles tenham autonomia para buscar alimento por conta própria e reduz a incidência de canibalismo entre os irmãos. 

Caramujo adulto, com seus ovos. Alguns desses ovos não são fertilizados e servem de alimento para a prole. 

O ambiente em que os ovos e filhotes estão também pode ter grande influência na sobrevivência dos indivíduos. O caranguejo de bromélias jamaicano (Metopaulias depressus) é uma espécie terrestre, que passa a vida inteira em bromélias. Essa espécie utiliza as pequenas poças de água que se acumulam nas bases das folhas das bromélias para viver e colocar seus ovos. As fêmeas colocam seus ovos na água e limpam o ambiente retirando folhas e outros restos de matéria orgânica que podem apodrecer e alterar o pH e os níveis de oxigênio e gás carbônico da água. Elas também aumentam a concentração de cálcio na água trazendo pedaços de conchas de caramujos. Esse cálcio é importante para as larvas de caranguejo se desenvolverem corretamente, depois que saem dos ovos. 

A: Caranguejo de Bromélias jamaicano; B: Juvenis alimentando-se de um pedaço de centopéia, que a mãe caranguejo havia capturado; C: Sombra de Caranguejo de Bromélias jamaicano; D: Caranguejo-mãe com juvenis; E: Caranguejo de Bromélias jamaicano; F: conchas vazias de caracóis trazidas para a bromélia pela mão para aumentar o nível de pH da água e aumentar o nível de Ca2+. Imagens de Rudolf Diesel (http://www.biologie.uni-regensburg.de/Zoologie/Heinze/Staff/NicoleRivera/index.html).

O cuidado da prole não é sempre trabalho apenas da fêmea. A fêmea e o macho dos besouros rola-bosta, por exemplo, trabalham em conjunto para formar as bolas de fezes de outros animais e enterrá-las para formar o ninho. Eles também protegem o ninho juntos até que os filhotes estejam grandes o suficiente para se tornarem independentes. 

A dedicação à prole pode chegar a um extremo suicida. Buscar e digerir alimento para a prole é um comportamento recorrente em diversas espécies, muitas aves fazem isso. Mas as fêmeas de algumas espécies de aranha, como as do gênero Stegodyphus, fazem mais do que isso. Além de buscar alimentos, as mães produzem enzimas digestivas que degradam parte do seu próprio trato digestório. Isso pode ser utilizado para alimentar os filhotes. Em alguns casos, elas continuam o processo de auto-digestão até morrerem e são inteiramente usadas como alimento pela prole. Na espécie Stegodyphus lineatus algumas fêmeas virgens também ajudam no cuidado da prole de outra fêmea e podem até realizar esse processo de auto-digestão. 

Existe outro ditado que diz que é preciso uma aldeia para educar uma criança. Na natureza, também existem exemplos de espécies sociais em que vários indivíduos trabalham em conjunto para proteger e alimentar a prole. No texto da próxima semana, vamos ver alguns desses casos. 

Referências:

Chuang, A., & Schwery, O. (2019). Who Cares? Parenting in Invertebrate Animals. Frontires for young minds. https://kids.frontiersin.org/articles/10.3389/frym.2019.00078

Junghanns, A., Holm, C., Schou, M. F., Overgaard, J., Malte, H., Uhl, G., & Bilde, T. (2019). Physiological adaptations to extreme maternal and allomaternal care in spiders. Frontiers in Ecology and Evolution, 305.

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