Já começo o texto respondendo que eu não acredito que exista uma boa resposta para essa pergunta. O que tenho aprendido é que essa não é a pergunta que devemos responder. Tenho visto que é muito mais efetivo nos preocuparmos mais em entender o contexto e os motivos desses pais e ter conversas empáticas e esclarecidas. Afinal, não tenho dúvidas de que todos esses pais se preocupam com a saúde e o bem estar de seus filhos.

Então, vamos conhecer os dois principais motivos que levam pessoas a se recusarem a vacinar seus filhos ou a escolherem quais vacinas serão aplicadas. Também vamos entender o que a ciência pode nos ensinar sobre os questionamentos e as inseguranças que as pessoas sentem sobre vacinas.

Preocupação 1: Vacinas não são eficazes
Um dos motivos mais citados para não querer vacinar um filho é a baixa eficácia das vacinas. Essa crença não está totalmente errada, mas está bastante incompleta. É muito difícil desenvolver uma vacina 100% eficaz, ou seja, que vai impedir o desenvolvimento de uma doença com certeza absoluta. Cada vacina tem sua eficácia testada em diferentes grupos de pessoas de várias faixas etárias para determinar quem deve se vacinar e em quais idades a vacina é recomendada. A vacina do sarampo, por exemplo, tem uma eficácia de mais de 95% se a criança tomar as duas doses nas idades corretas. Isso quer dizer que uma pessoa tem uma chance muito pequena de ficar doente se for vacinada. Um estudo realizado nos Estados Unidos indicou que de 85 crianças diagnosticadas com sarampo no período da pesquisa, 76 não tinham sido vacinadas e 3 ficaram doentes antes da vacina ter tempo de fazer efeito. Então, apesar da vacina não ser 100% eficaz, uma criança não vacinada tem uma chance muito maior de ficar doente. Mesmo as vacinas com eficácias menores, como a da gripe, ainda diminuem muito a chance de internação e óbito pela doença. [1,2]

Preocupação 2: Vacinas não são seguras
Algumas pessoas acreditam que vacinas são perigosas e podem causar outros problemas de saúde e até dizem que existem estudos científicos que mostram isso. Mais uma vez, elas não estão totalmente erradas, mas também não conhecem a história completa. Em 1998, um pesquisador inglês publicou um artigo mostrando que a vacina tríplice viral estava associada a um problema intestinal que eventualmente poderia levar ao autismo. Esse estudo continha problemas metodológicos graves, o autor precisou publicar uma retratação admitindo os erros e está sendo processado. Além disso, esse estudo não argumentava contra as vacinas, ele apenas dizia que a vacina tripla era um problema e existia um pedido de patente do próprio pesquisador de uma vacina contra o sarampo. Chamamos isso de conflito de interesse.

Vacinas podem apresentar efeitos colaterais, assim como a maioria dos medicamentos, e algumas pessoas podem ser alérgicas a algum dos componentes das vacinas, assim como podem ser alérgicas a alimentos, poeira, ácaros ou qualquer outra coisa. Os pais que não querem vacinar seus filhos por essa preocupação devem procurar saber sobre esses possíveis efeitos. Coisa boa são pais bem informados! Essas informações podem ser encontradas em postos de saúde ou procurando profissionais de saúde, como o pediatra da criança.

Apesar desses riscos existirem, para uma vacina ser aprovada, ela passa por uma série de testes de laboratório e depois testes em humanos para verificar o quanto elas nos protegem e quais são os riscos associados. As vacinas que apresentam efeitos colaterais muito graves, mesmo que um pouco raros, ou efeitos moderados mais comuns não são aprovadas.

Depois de aprovadas, as vacinas são monitoradas por décadas para identificar possíveis efeitos de longo prazo e procurar por soluções para o problema. Vacinas que apresentem algum efeito adverso a longo prazo podem ser suspensas ou melhoradas para evitar futuros problemas. Entre 1997 e 1998, foram encontrados casos de meningite associada à vacina tríplice viral em alguns estados do Brasil, o que levou à troca de laboratório fornecedor, o que resolveu o problema. Em 2006, a vacina contra rotavírus aplicada no Brasil e no México causou 96 casos de obstrução intestinal que puderam ser tratados e 5 óbitos, mas evitou 80 mil hospitalizações e 1300 óbitos por ano. No Brasil, a vigilância desses efeitos é feita pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, pela ANVISA, pelos laboratórios produtores de vacinas, pelos profissionais de saúde e por nós, usuários. [3]

A ciência tem mostrado que vacinas são formas eficazes de prevenir doenças com um ótimo custo-benefício. Porém, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais de 3 milhões de crianças ainda morrem a cada ano no mundo por doenças que poderiam ser prevenidas com vacinas [4]. Parte disso é resultado da falta de vacinas, especialmente em regiões mais pobres, mas alguns pais estão se recusando a vacinar seus filhos mesmo que as vacinas estejam disponíveis e sejam gratuitas. Se você é um pai ou uma mãe preocupada com os problemas das vacinas, procure um profissional de saúde e informe-se! Se você conhece algum desses pais, encaminhe esse texto para eles e vamos nos abrir para conversas.

Tem mais dúvidas sobre vacinas, aproveite que ainda temos mais um texto no mês das vacinas no Ciência Informativa e mande sua pergunta para nós! Ficaremos muito felizes em responder!

Se quiser se aprofundar mais no debate sobre desinformação e ciência, sugiro a aula do Átila: https://www.youtube.com/watch?v=gof8YetSA8Q&t=0s

por Patricia S. Sujii

cienciainformativa@gmail.com

Referências
[1] Carazo, S., Billard, M. N., Boutin, A., & De Serres, G. (2020). Effect of age at vaccination on the measles vaccine effectiveness and immunogenicity: systematic review and meta-analysis. BMC infectious diseases, 20, 1-18.
[2] Geier, D. A., Kern, J. K., & Geier, M. R. (2019). Childhood MMR vaccination and the incidence rate of measles infection: a ten year longitudinal cohort study of American children born in the 1990s. BMC pediatrics, 19(1), 1-11.
Oliveira, P. M. N. D., Lignani, L. K., Conceição, D. A. D., Farias, P. M. C. D. M., Takey, P. R. G., Maia, M. D. L. D. S., & Camacho, L. A. B. (2020). O panorama da vigilância de eventos adversos pós-vacinação ao fim da década de 2010: importância, ferramentas e desafios. Cadernos de Saúde Pública, 36, e00182019.
[4] World Health Organization. Immunization coverage. January 2018

Imagem de capa: Nikita Golubev em flaticon.com

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