Há 30 anos, em abril de 1986, aconteceu o maior desastre nuclear do mundo: o acidente de Chernobyl. Naquela época, o mundo via com perplexidade o que ocorria enquanto uma nuvem radioativa espalhava-se pela Europa e pouco podia prever o que aconteceria nas décadas seguintes. Hoje, através de muitos estudos, já sabemos o que esse acidente causou na saúde das pessoas e do meio ambiente que foram atingidos pela radiação. O que aprendemos com esse acidente? Ainda resta radiação no local? Leia mais no nosso texto de hoje.

O acidente nuclear de Chernobyl ocorreu no dia 26 de abril de 1986 na usina nuclear de mesmo nome na então República Socialista Soviética Ucraniana (ainda sob jurisdição da União Soviética). A usina estava localizava em Pripyat, a 18 km da cidade de Chernobyl, e produzia cerca de 10% de toda a energia usada pela população do país. No dia do acidente, um dos quatro reatores nucleares explodiu e logo em seguida um incêndio se iniciou, dissipando uma nuvem de material radioativo nas áreas vizinhas. Com ajuda das condições atmosféricas como vento e chuva, essa nuvem se espalhou durante 10 dias seguidos atingindo outros países. Parte da radiação e dos materiais queimados no incêndio depositaram-se no solo na forma de poeira, mas o material mais leve foi carregado pelo vento.

Enquanto o governo soviético estimou 15 mil mortes por causa da radiação, algumas autoridades estimam 80 mil mortes e 2,4 milhões de pessoas vivendo até hoje com problemas de saúde relacionados ao acidente. Imediatamente após serem contaminadas, tanto pelo ar, quanto pela água ou alimentos, as pessoas sentiram fadiga, tonturas e vomitavam muito. Depois de um tempo, os níveis hormonais dos que sofreram com o desastre se alteraram, a taxa de mutações pontuais no DNA cresceu e estudos subsequentes concluíram um aumento significativo na incidência de câncer na tireóide e de leucemia nos habitantes das cidades atingidas pela radiação, além do aumento no número de abortos e de bebês nascidos com má formação.

Além desses problemas físicos, as pessoas atingidas pela radiação sofrem até hoje com problemas psicológicos. Duas pesquisas realizadas em 1997 e 2005 mostraram que mães que tiveram que sair às pressas da cidade de Pripyat tinham duas vezes mais chance de sofrer de depressão e ansiedade do que o grupo controle do estudo. Muitas vezes a depressão é tão forte que leva a outras consequências: cerca de 20% das mortes totais contabilizadas como consequência do acidente são de pessoas que se suicidaram.

Os animais também sofreram consequências graves. Muitos morreram prematuramente, sem chegarem à idade adulta, de pneumonia e degeneração do fígado e outros órgãos. Aves estudadas após alguns anos do acidente tinham espermatozoides anormais e níveis de antioxidantes como carotenoides e vitaminas A e E diminuídos significativamente nos ovos. A frequência de indivíduos de uma espécie de andorinha com albinismo parcial (que é raro na natureza) aumentou, além de ter aumentado também a frequência da assimetria das penas nessas aves. Isso pode ser por causas genéticas ou por problemas da melanina em atingir as plumas dos pássaros devido à morte precoce dos melanócitos.

Além dos animais, as plantas também sofreram consequências: mais de 10 anos depois da explosão foram notados padrões cromossômicos anormais em células de mudas de pinheiros. O solo contaminado com poeira e detritos radioativos também acabou por matar ovos e larvas de pequenos invertebrados, e ficou “sem vida” por algum tempo. Hoje existem muitos lobos e outros animais selvagens que lá vivem, sem serem incomodados, já que Prypiat virou uma cidade fantasma (imagem 1).

Imagem 1:  vista atual da cidade de Prypiat Fonte: http://s2.glbimg.com/v_zKvkrRCTo2TFYUYKuNnQyXfIg=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2013/04/28/01zfantasmaa.jpg
Imagem 1: vista atual da cidade de Prypiat

O que aprendemos então 30 anos após? Depois do acidente em Chernobyl, muitas pesquisas foram feitas em vários campos para se entender as consequências da radiação acumulada na água, no solo, nos animais e no ecossistema em geral e também para evitar desastres desse tipo. Hoje em dia, sabemos muito mais sobre como proceder nesses casos do que sabíamos há 30 anos, porém as graves consequências continuam até hoje e estima-se mais de 100 mil anos até que a radiação no local volte aos níveis normais. Com tudo isso que vimos podemos entender o quão importante é prevenir tais desastres, principalmente por conta das amplas consequências em todo o ecossistema que essa radiação invisível causa.

Até a próxima,

Por Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

Imagem 1: http://s2.glbimg.com/v_zKvkrRCTo2TFYUYKuNnQyXfIg=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2013/04/28/01zfantasmaa.jpg

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Referências

[1] Acidente Nuclear de Chernobyl. (sem data). Wikipedia. Acessado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_nuclear_de_Chernobil   em maio de 2016.

[2] Chernobyl, maior acidente nuclear da história. (sem data). Globo Educação. Acessado de http://educacao.globo.com/artigo/chernobyl-maior-acidente-nuclear-da-historia.html em maio de 2016.

[3] Moller, A. P.; Mousseau, T. A. (2006). Biological consequences of Chernobyl: 20 years on. Trends in Ecology & Evolution. Acessado de http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0169534706000292 em maio de 2016.

[4] Bromet, E. J. (2012). Mental health consequences of the Chernobyl disaster. Journal of Radiological Protection. Acessado de http://iopscience.iop.org/article/10.1088/0952-4746/32/1/N71/meta em maio de 2016

[5] Beresford, N. A. et al. (2016).  Thirty years after the Chernobyl accident: What lessons have we learnt? Acessado em  http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0265931X16300261 em maio de 2016

 

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