Qual foi a última vez em que você ficou um dia inteiro sem acessar uma mídia social? E que tal uma semana? Quantas pessoas você conhece que nunca acessam essas mídias?

 

As mídias (canais e ferramentas de disseminação descentralizada de conteúdo) e redes sociais (ferramentas de conexão de pessoas) estão muito presentes no nosso cotidiano. Esse fenômeno traz diversas consequências para, por exemplo, o modo como interagimos. Temos atualmente conexões que podem ser mais amplas do que antigamente, mas também podem ser mais superficiais. Nosso último texto da série sobre ansiedade trata de uma questão que tem intrigado pesquisadores: será que esses canais de comunicação e essas ferramentas de interação são benéficas ou prejudiciais à saúde?

 

Na última década, pesquisadores têm observado que jovens que gastam mais tempo online e usando mídias sociais tendem a ter níveis maiores de ansiedade e depressão. As interações via mídias sociais também estão relacionadas à autoestima de muitos jovens. Quando uma pessoa posta algum conteúdo em suas redes, receber feedbacks positivos (curtidas, visualizações, elogios) melhora sua autoestima. Porém, feedbacks negativos têm o efeito contrário e isso pode ser somado ao efeito das comparações da própria vida com a imagem artificial de vida perfeita (sempre feliz e cheia de experiências fantásticas) que outros colocam em suas redes.

 

Existem diversos estudos indicando uma relação entre uso de internet de forma geral e baixa qualidade de sono. Entretanto, as mídias sociais, além do conteúdo, também têm as notificações. Então, mesmo quando a pessoa não está diretamente interagindo com a mídia, sua qualidade de sono e sua saúde mental podem ser afetadas. Como a maioria das pessoas dorme com o celular perto da cama, os sons emitidos pelo aparelho podem diminuir o tempo de sono profundo. Além disso, as notificações constantes ao longo do dia podem criar uma pressão para que a pessoa esteja sempre disponível. Em estudos realizados com estudantes de graduação nos Estados Unidos e na Suécia, pesquisadores observaram que os jovens ficam ansiosos quando não podem enviar e receber mensagens de texto pelo celular. Eles também se sentem estressados e culpados quando não respondem a mensagem imediatamente.

 

Em um estudo realizado na Escócia, duas pesquisadoras investigaram a relação entre uso de mídias, sociais, qualidade de sono, ansiedade, depressão e baixa autoestima. A qualidade de sono é mensurada com base no número de horas de sono, se a pessoa realmente descansa enquanto dorme, com que frequência ela acorda durante a noite, dificuldade para dormir e disfunções como cansaço e falta de atenção durante o dia. Elas observaram que tanto o uso de mídias sociais como o investimento emocional nessas interações estão associados com sono de menor qualidade, maiores níveis de ansiedade e depressão. Além disso, o uso dessas mídias no período noturno têm uma relação maior com a qualidade de sono do que o uso diurno.

 

Esse estudo demonstrou uma relação, mas isso não indica a direção de causa e efeito. Os pesquisadores ressaltam no artigo que ainda não é claro se pessoas com depressão e/ou ansiedade procuram mais as mídias sociais (talvez como válvula de escape) ou se são as mídias sociais que geram transtornos na saúde mental. Isso precisa ser melhor investigado. O que é conclusivo na pesquisa é que o uso de mídias sociais à noite prejudica o sono e que sono de menor qualidade pode gerar ansiedade e depressão.

 

Outro grupo de pesquisadores americanos realizaram um estudo mais amplo, que engloba também os benefícios das interações nessas mídias e redes sociais. Eles observaram que quando o usuário tem seu foco na comparação de sua vida, o que inclui sua imagem corporal, com o que é visto online, sua saúde mental pode ser prejudicada, levando ao isolamento e até a transtornos de ansiedade e depressão. Por outro lado, muitos usuários utilizam essas redes de modo a aumentar a conexão social e o suporte da comunidade, melhorando a sensação de pertencimento, o que melhora a saúde mental. Essas ferramentas podem ser especialmente benéficas para quem busca conexões com outras pessoas, mas sente ansiedade em interações presenciais.

 

Os pesquisadores ressaltam que os tipos de interações buscadas e o foco da atenção em determinados tipos de conteúdo são mais importantes do que o tempo dedicado às mídias e redes sociais. Então, vamos construir boas interações!

 

Se gostou dessa série sobre ansiedade, conta pra gente. Mande um e-mail (cienciainformativa@gmail.com), comente aqui ou em uma de nossas mídias. Se tem sugestões que temas, se você tem curiosidades e quer que a gente escreva sobre algum assunto, conta pra gente!

 

por Patricia Sujii

sujiips@gmail.com

Referências

Buysse, D. J., Reynolds, C. F., Monk, T. H., Berman, S. R., & Kupfer, D. J. (1989). The Pittsburgh sleep quality index: a new instrument for psychiatric practice and research. Psychiatry Research, 28(2), 193e213.

Gonzales, A. T., & Hancock, J. T. (2011). Mirror, mirror on my Facebook wall: effects of exposure to Facebook on self-esteem. Cyberpsychology, Behavior & Social Networking, 14(1e2), 79e83.

Mackson, S. B., Brochu, P. M., & Schneider, B. A. (2019). Instagram: Friend or foe? The application’s association with psychological well-being. New Media & Society, 1461444819840021.

Skierkowski, D., & Wood, R. M. (2012). To text or not to text? The importance of text messaging among college-aged youth. Computers in Human Behavior,

28, 744e756.

Thomée, S., Dellve, L., Harenstam, A., & Hagberg, M. (2010). Perceived connections between information and communication technology use and mental symptoms among young adults e a qualitative study. BMC Public Health, 10, 66.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.