A desigualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho é um assunto já bem conhecido, mas como será essa relação no mundo acadêmico? Você já se perguntou se em ambientes como universidades e centros de pesquisa existe discriminação contra mulher ou se existe algum tipo de desigualdade? Diversos pesquisadores de vários países têm se interessado por esse assunto e é sobre ele que o texto desta semana trata.

    Um grupo de pesquisadores canadenses e americanos fez um grande levantamento de informações sobre artigos publicados entre 2008 e 2012 [1]. Foram mais de 5 milhões de artigos publicados com mais de 27 milhões autores e coautores de todo o mundo. Esse estudo mostrou que apenas 30% dos autores de artigos são mulheres, que na maior parte dos países existem mais artigos publicados por homens do que por mulheres e que existe desigualdade também no número de colaborações nacionais e internacionais entre homens e mulheres. A figura abaixo mostra os países com maior número de artigos publicados por homen em azul e países com maior número de artigos publicados por mulheres em vermelho. Para acessar uma versão interativa desse mapa, clique aqui.

Mapa com a razão entre artigos publicados por homens e mulheres. Em azul, estão os países com mais artigos publicados por homens. Em vermelho, países com mais artigos publicados por mulheres. Quanto mais perto de branco, mais igualitária é essa proporção.
Mapa com a razão entre artigos publicados por homens e mulheres. Em azul, estão os países com mais artigos publicados por homens. Em vermelho, países com mais artigos publicados por mulheres. Quanto mais perto de branco, mais igualitária é essa proporção.

    Esse estudo também mostrou que essa desigualdade é mais acentuada em países como Arábia Saudita, Irã, Japão, Jordânia, Emirados Árabes, Camarões, Qatar e Uzbequistão. Por outro lado, países da América Latina e da Europa Oriental têm, em geral, maior igualdade, quando comparados a países de outras regiões.
Legenda: Mapa com a razão entre artigos publicados por homens e mulheres. Em azul, estão os países com mais artigos publicados por homens. Em vermelho, países com mais artigos publicados por mulheres. Quanto mais perto de branco, mais igualitária é essa proporção.

    As causas para essa desigualdade podem ser diferentes em cada local. Existem alguns estudos que tentam explicar as razões para a desigualdade no meio acadêmico, mas ainda é um tópico que precisa ser melhor investigado.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, avaliou as causas da diferença de representatividade feminina na Ciência. [2] A principal conclusão do estudo foi que, nos Estados Unidos, a discriminação contra mulheres foi uma causa importante no passado, mas que hoje não é mais um fator tão central. Na década de 1970, existiu uma forte discriminação no momento da contratação de professores, na publicação de trabalhos e na concessão de financiamento para pesquisa. Eles afirmam que as iniciativas tomadas ao longo dos últimos 40 anos contra discriminação de gênero parecem ter tido sucesso. Atualmente, as principais causas para a diferença de representatividade são diferenças nas escolhas feitas pelos homens e pelas mulheres ao longo da carreira. Vale ressaltar que essas escolhas podem ser espontâneas ou forçados pela família ou ainda pelo grupo em que a pessoa está inserida.

Um estudo anterior, feito pelos mesmos dois autores, indicou que muitas mulheres escolhem dar menor prioridade para a própria carreira quando dedicam mais tempo aos filhos e ao cuidado de parentes mais velhos, quando decidem seguir o marido na mudança de carreira dele, quando limitam geograficamente a busca por emprego e quando precisam equilibrar o tempo entre a carreira e atividades domésticas. Os autores dessa pesquisa ressaltaram que deve haver um maior investimento para evitar que essas escolhas sejam forçadas pela sociedade.

Apesar da visão otimista do estudo apresentado acima, outros estudos mostram que a discriminação de gênero ainda está presente em quase todo o mundo. Levantamentos realizados em universidades americanas [3], africanas [4] e brasileiras [5] indicam que mulheres ainda são minoria no corpo docente e ainda sofrem discriminação em diversos momentos ao longo da carreira. Além disso, existem casos mais graves, em países em que meninas não têm o mesmo acesso à educação que meninos. Felizmente, o quadro de desigualdade no meio acadêmico tem melhorado, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Para saber mais sobre esse assunto:
Especial da revista Nature sobre Mulheres na Ciência:
http://www.nature.com/news/specials/women/index.html

Figuras interativas com dados sobre proporção de publicações de homens e mulheres:
Global Gender Disparities in Science
http://info.ils.indiana.edu/gender/index.php#geo

Página da Unesco sobre Mulheres na Ciência
http://www.unesco.org/new/en/natural-sciences/priority-areas/gender-and-science/

por Patricia S. Sujii

sujiips@gmail.com

Referências:
[1] Sugimoto, C. R., Lariviere, V., Ni, C. Q., Gingras, Y., & Cronin, B. (2013). Global gender disparities in science. Nature, 504(7479), 211-213.

[2] Ceci SJ, Williams WM (2010) The Mathematics of Sex: How Biology and Society Conspire to Limit Talented Women and Girls (Oxford Univ Press, New York).

[3] Moss-Racusin, C. A., Dovidio, J. F., Brescoll, V. L., Graham, M. J., & Handelsman, J. (2012). Science faculty’s subtle gender biases favor male students. Proceedings of the National Academy of Sciences, 109(41), 16474-16479.

[4] Beoku-Betts, J. A. (2004). African women pursuing graduate studies in the sciences: Racism, gender bias, and third world marginality. NWSA Journal, 16(1), 116-135.

[5] Leta, J. (2003). As mulheres na ciência brasileira: crescimento, contrastes e um perfil de sucesso. Estudos Avançados, 17(49), 271-284.

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