Na maioria das espécies de mamíferos, a mãe é quem gesta, amamenta e cuida do filhote. Porém, algumas espécies sociais têm uma dinâmica diferente, com tarefas compartilhadas com o pai e até com outros indivíduos do grupo. No texto de hoje, vamos ver aplicações na natureza do ditado que diz que é preciso uma aldeia para educar uma criança. 

Em aproximadamente um terço das espécies de mamíferos, as fêmeas são sociais e o cuidado da prole pode ser dividido com o pai, com irmãs, parentes um pouco mais distantes e até quem não tem relação de parentesco. Esse cuidado inclui alimentar, carregar, proteger, brincar, limpar e ensinar. Em algumas espécies, a mãe é responsável pela maior parte do cuidado, enquanto em outras o cuidado é dividido de diferentes formas no grupo. 

Por que cuidar de filhotes que não são seus?

Existem vários estudos tentando responder essa pergunta. Algumas pesquisas indicam que muito do cuidado que não vem da mãe é realizado por parentes (pai, tios, irmãos, avós,…). O alto grau de parentesco aumenta a proporção de genes compartilhados. Então, esse cuidado seria uma estratégia vantajosa do ponto de vista de manutenção dos genes da família no grupo. 

Outra explicação está relacionada com a “hipótese da vida dura” que tenta explicar cenários em que a reprodução é dificultada por condições ambientais muito restritivas, como quando há poucos recursos disponíveis ou quando há uma grande quantidade de predadores ameaçando a prole. Nesses casos, os indivíduos jovens podem atrasar sua dispersão no ambiente, mantendo-se junto com o grupo por mais tempo, o que permite que um cuide do outro.

Existem diversas outras explicações para a origem e as vantagens evolutivas desse tipo de comportamento. Uma delas diz que esse cuidado da prole do outro pode trazer vantagens para quem cuida. Por exemplo, um indivíduo jovem ou mais fraco pode ganhar proteção e abrigo em um território mais protegido já ocupado. Esses indivíduos também podem um dia crescer e reivindicar a liderança do grupo ao qual já pertencem. Para conhecer outras explicações, veja o artigo completo indicado na referência.  

Quem ajuda a mãe?

Em grupos humanos, é muito comum que os pais ajudem na criação dos filhos de alguma forma e pelo menos nos momentos iniciais da vida da criança. Na maioria das culturas, o cuidado dos filhos pelo casal é bem visto, apesar de nem sempre ser seguido. Porém, isso não é regra para mamíferos de forma geral. Alguns estudos indicam que em apenas 5 a 10% das espécies de mamíferos os pais contribuem para a criação da prole.  

Nos mamíferos, a gestação dá uma certeza de quem é a mãe e a lactação forma um laço forte entre mãe e sua prole. Para os pais, não existe nenhum equivalente a isso na natureza. Por isso, o cuidado parental dividido entre pai e mãe é mais comum em espécies monógamas, como algumas espécies de porco-espinho, gambá, rato e gibão. Mas existem também registros de cuidados realizados pelo pai em espécies não-monógamas, como em alguns primatas, orcas e leões marinhos. Em todos os casos, esse cuidado dividido diminui a carga sobre a mãe e aumenta a chance de sucesso da prole. 

Os irmãos mais velhos também podem ajudar a criar os mais jovens. Isso acontece principalmente quando o custo ou o risco de se dispersar do grupo é muito alto. Nesses casos, os jovens continuam no grupo e ajudam a proteger e a ensinar seus irmãos. Porém, esse tipo de comportamento pode levar a uma competição por recursos como alimento e abrigo e também pela atenção dos pais. 

A ajuda das avós no cuidado da prole é extremamente rara na natureza. Esse comportamento é quase exclusivo em humanos. Isso acontece porque a maioria das espécies não vive muito após a idade reprodutiva (baleias e elefantes são dois dos poucos exemplos). Humanos têm vida longa, desenvolvimento lento e interações que se repetem muitas vezes ao longo da vida. Por isso, os extensos conhecimentos sociais e ecológicos das avós podem ter sido muito valiosos para o desenvolvimento das culturas humanas. Então, avós podem ser provedores diretos de alimentos, mas também podem ensinar aos netos de forma direta ou dando o exemplo. 

Criar um novo indivíduo é um desafio seja na natureza, seja em sociedades humanas urbanas e ter uma rede de apoio facilita o processo e aumenta a chance de sucesso dessa prole. Em humanos, ser mãe tem se tornado uma questão recorrente em palestras, debates e consultórios de psicólogos. Ter em mente como funciona o cuidado compartilhado em diferentes espécies pode dar uma perspectiva diferente e ajudar mulheres a tomar uma decisão com relação a ser mãe e a criar crianças, sejam elas suas filhas biológicas ou não. 

Compartilhe esse texto com pessoas com quem você queira ter esse tipo de conversa! E acompanhe nossa postagem da semana que vem com sugestões de outros conteúdos interessantes sobre o tema. 

Referência:

Rosenbaum, S., & Gettler, L. T. (2018). With a little help from her friends (and family) part I: the ecology and evolution of non-maternal care in mammals. Physiology & behavior, 193, 1-11.

Imagem de capa: People family vector created by pch.vector – www.freepik.com

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