Nós, humanos, nos orgulhamos da nossa capacidade de pensar e decidir sobre nossas ações em vez de apenas “seguir os nossos instintos”. Entretanto, felizmente nem sempre precisamos pensar e decidir qual será a próxima ação. Por exemplo, quando você acordou hoje de manhã, você pensou em como desligar o despertador ou simplesmente apertou o botão de desligar (ou o de soneca) automaticamente? Quando vai sair de casa, você pensa se vai colocar o sapato direito ou esquerdo primeiro? Você pensa em qual parte do corpo você vai lavar primeiro quando toma banho?
Há muitos anos o funcionamento do cérebro humano tem intrigado pesquisadores das mais diversas áreas e, apesar de ainda existirem muitos mistérios, já temos algumas respostas. Cientistas descobriram, por exemplo, que mais de 40% das ações realizadas por uma pessoa durante um dia não são decorrentes de decisões, mas sim de hábitos. Em qualquer situação, o cérebro é forçado a escolher entre múltiplas ações e seria exaustivo ter que efetivamente pensar em cada uma delas. Ou seja, nossos hábitos nos poupam tempo e energia, o que costuma ser evolutivamente vantajoso!
Eles também descobriram que nossos hábitos e as memórias são gerenciados em partes diferentes do cérebro. O lobo temporal, que fica na parte lateral da cabeça, é responsável pela aprendizagem e pelas nossas memórias, enquanto que os hábitos estão relacionados aos gânglios basais, um grupo de estruturas mais primitivas, encontradas na base do cérebro e envolvidas na coordenação do movimento. Isso quer dizer que por mais que uma pessoa aprenda rapidamente que um certo hábito não é desejável, a ação ligada a ele é executada sem que a memória seja consultada.
Então, é possível mudar um hábito e cumprir as famosas promessas de ano novo?
Vamos começar entendendo como um hábito se forma. O ponto inicial é a descoberta. Começamos a aprender como responder ou reagir a determinada situação (estopim) e formar planos de ação. Esses planos são formados de modo que o resultado seja o mais vantajoso possível, o que pode ser economia de tempo ou de energia ou obter algum tipo de recompensa e às vezes, precisamos testar vários planos antes de começar a repetir algum. Então, com a repetição, o comportamento se torna mais automático e menos flexível, quase como um reflexo ou uma rotina. Portanto, os hábitos são executados da seguinte forma: estopim – rotina – recompensa, o que é conhecido como ‘ciclo do hábito’.
Considerando esse ciclo, sim, é possível mudar um hábito indesejado. Primeiro, é importante descobrir qual é o estopim e a recompensa do hábito que queremos mudar. Então, mantemos tanto o estopim como a recompensa e trocamos apenas rotina, que seria o novo hábito. O problema é que hábitos antigos não são apagados. Eles podem ser substituídos por novos hábitos e são armazenados em outra parte do cérebro. A qualquer momento o velho hábito pode voltar, dependendo do estímulo, da relação entre o esforço necessário e a recompensa do novo hábito, e também de outros fatores que ainda estão sendo estudados. Por isso, mantenha a recompensa em mente e execute seu novo plano de ação sem faltas de forma a substituir seu hábito indesejável da melhor maneira possível e boa sorte! Que 2015 seja um ótimo ano, cheio de bons hábitos!
Por: Patricia Sanae Sujii
sujiips@gmail.com
Referências
[1]Old habits don’t die. www.natureasia.com/en/nindia/article/10.1038/nindia.2013.30 (Acessado em: 10/01/2015).
[2]Duhigg, C. (2012). The power of habit: why we do what we do in life and business. Random House LLC.
[3]Yin, H. H., & Knowlton, B. J. (2006). The role of the basal ganglia in habit formation. Nature Reviews Neuroscience, 7(6), 464-476.
Nossa, fiquei boquiaberto com essas curiosidades.
Nunca imaginaria, por exemplo, que existem tantos bilhões de neurônios no cérebro humano. É incrível, neh?
Abraço