Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2014, mais de 1,9 bilhões de adultos estavam com o peso acima do recomendado; desses, 600 milhões são considerados obesos (ou seja, com índice de massa corpórea acima ou igual à 30). De acordo com os mesmos dados, 42 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade já são obesas. Esse cenário se torna ainda mais alarmante quando pensamos que a obesidade pode ser prevenida, principalmente com boa alimentação e a prática regular de exercícios físicos.

Assim, como uma forma de prevenir o sobrepeso e a obesidade, nós devemos ficar atentos aos tipos de alimentos que ingerimos nas nossas refeições, principalmente com relação aos alimentos industrializados. Quer saber mais sobre as táticas que a indústria de alimentos usa para nos convencer a comprar seus produtos? E como isso afeta nossa saúde e pode nos levar ao sobrepeso? Leia o nosso texto de hoje!

Como já vimos aqui no blog, no texto “Alimentação e boa nutrição” uma alimentação balanceada caracteriza-se pela ingestão de grande quantidade de verduras, legumes e frutas e pequenas porções de alimentos ricos em açúcar, sal e gorduras. Os últimos, quando ingeridos em excesso, podem ser responsáveis por diversas doenças como diabetes, hipertensão, infartos, derrames e até alguns tipos de câncer. Hoje em dia, com a “correria” do trabalho e das nossas tarefas, muitas vezes recorremos às comidas processadas para as nossas refeições. O problema é que, por de trás dos rótulos que mostram uma comida saudável, muitas indústrias na verdade ocultam o excesso de sal, gordura e açúcares dos seus produtos.

Fonte imagem: http://ciclovivo.com.br/arquivos/2015/009/img/noticias/balasca.jpg
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Alimentos ricos nesses tipos de ingredientes desencadeiam em nosso cérebro uma reação semelhante à que a cocaína provoca. Sim, é similar a uma droga agindo no nosso sistema nervoso. Assim que comemos um alimento rico em açúcar, por exemplo, o nosso cérebro ativa o sistema de recompensa, que envolve o neurotransmissor dopamina, o mesmo neurotransmissor envolvido no vício em drogas. Existem pesquisas que mostram que ratos podem se tornar viciados em alimentos ricos em açúcar, o que sugere que isso também ocorre em pessoas com distúrbios alimentares, como obesidade e sobrepeso.

E assim, aproveitando-se do fato de o nosso cérebro dar preferência às comidas mais gostosas e “irresistíveis” – cheias de açúcar, sal e gorduras – a indústria atinge seu objetivo de vender cada vez mais seus produtos e ganhar lucros. Na contramão, quem mais perde somos nós, consumidores, que ficamos cada vez menos saudáveis, assim como mostram os dados levantados pela OMS do início do texto.

Mas como as indústrias “escondem” esse exagero? E mais importante: como podemos evitar ingerir tais alimentos? Infelizmente, muitas indústrias colocam todos esses ingredientes na quantidade máxima permitida para que não sejam multadas, mas que ao mesmo tempo garantam que o alimento fique “gostoso”. Quer um exemplo? Uma pesquisa realizada em 2012 pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estudou o teor de sódio em vários alimentos processados feitos no Brasil, como queijos, macarrão instantâneo, batata frita, biscoito de polvinho e etc. O resultado foi alarmante, principalmente para os macarrões instantâneos: algumas marcas tinham mais de 2 gramas de sódio a cada 100 gramas de macarrão, e uma grande parte das outras marcas tinha mais de 1,5 gramas por 100 gramas do alimento. Vale ressaltar que alguns fabricantes estavam inclusive adicionando o limite máximo de sódio permitido pela ANVISA na época.

Muitas vezes o próprio rótulo do alimento não é fácil de ser entendido, o que dificulta na escolha dos alimentos; porém, com o tempo, podemos passar a compreender as informações ali disponíveis e usá-las a nosso favor. Uma boa dica é olhar para a composição do alimento: o primeiro ingrediente é aquele presente em maior quantidade e assim sucessivamente. Portanto, se o açúcar é o segundo da lista da composição de algum alimento, ele é o segundo ingrediente presente em maior quantidade. Outra dica é atentar-se às porções consideradas para as informações nutricionais; é muito comum vermos as calorias da tabela nutricional sendo atribuídas a pequenas porções, quase insignificantes, como uma forma de mostrar que o alimento tem baixo valor calórico. Um exemplo disso é o rótulo de bolachas que muitas vezes informa as calorias atribuídas à porção de 1 ou 2 bolachas.

A partir de tudo isso, a obesidade tem aumentado no mundo, pois grande parte da população possui uma alimentação desbalanceada, baseada em alimentos pobres em nutrientes e ricos em calorias. Além disso, existem ainda os corantes, conservantes e outros aditivos que em excesso também prejudicam nossa saúde.

É difícil escapar desses produtos e muitas vezes não temos outras opções, mas entender melhor os rótulos dos alimentos é uma saída, assim como cobrar das autoridades que criem leis mais rígidas para que a indústria faça alimentos mais saudáveis. Assim poderemos ter uma vida mais longa, com saúde e nos livrar dessa epidemia mundial que é a obesidade.

Bônus: quer saber mais sobre e calcular seu índice de massa corpórea (IMC)? Clique aqui!

Até a próxima!

Por Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

 

Referências bibliográficas

[1] WHO. (2015). Fact sheet N°311: Obesity and overweight. Acessado de http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs311/en/ em dezembro de 2015.

[2] Lucena, R. (2015). Indústria põe sal, açúcar e gordura demais na comida, diz autor de livro. Folha de São Paulo. Edição Online. Acessado de http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2015/12/1719137-industria-poe-sal-acucar-e-gordura-demais-na-comida-diz-autor-de-livro.shtml em dezembro de 2015.

[3] Dovey, D. (2014). How Does Sugar Affect Your Brain? Turns Out In A Very Similar Way To Drugs And Alcohol. Acessado de http://www.medicaldaily.com/how-does-sugar-affect-your-brain-turns-out-very-similar-way-drugs-and-alcohol-295034 em dezembro de 2015.

[4] Avena, N.M., Rada, P., Hoebel B.G. (2007). Evidence for sugar addiction: Behavioral and neurochemical effects of intermittent, excessive sugar intake. Neuroscience and Biobehavioral Reviews. 32: 20-19. Disponível em  http://ac.els-cdn.com/S0149763407000589/1-s2.0-S0149763407000589-main.pdf?_tid=6334f2f8-a37e-11e5-a833-00000aab0f01&acdnat=1450220073_3f7c2056ce633289c858ca58b177d829

[5] Almeida, C. e Casemiro, L. (2012). Pesquisa mostra excesso de sal, açúcar e gordura em biscoitos e salgadinhos. Acessado de http://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor/pesquisa-mostra-excesso-de-sal-acucar-gordura-em-biscoitos-salgadinhos-6759687 em dezembro de 2015.

[6] ANVISA. (2012). Informe Técnico no.50: teor de sódio dos alimentos processados. Acessado em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/856c37804d19e24d9d7aff4031a95fac/INFORME+T%C3%89CNICO+2012-+OUTUBRO.pdf?MOD=AJPERES em dezembro de 2015.

Imagem destacada:

http://seligalinks.com.br/wp-content/uploads/2015/04/alimento-refrigerante-salgadinho-mal-saude.jpg

 

 

3 Replies to “O outro lado da indústria de alimentos”

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