Fonte: Pixabay
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Os medicamentos hoje utilizados, via oral ou venosa, para o tratamento dos mais diferentes tipos de problemas cerebrais, apresentam uma baixa eficiência devido a presença de uma barreira natural que o sistema nervoso apresenta. Essa barreira é a chamada hemato-encefálica, que funciona com um poderoso filtro, que não permite a passagem da maioria das substâncias químicas presente no sangue, para o sistema nervoso central. A função desta barreira é impedir que substâncias químicas interfiram na homeostase, ou seja, no equilíbrio do sistema nervoso, bem evitar que moléculas alterem seu funcionamento. (Quem quiser saber mais detalhes sobre a ação e composição da barreira hemato-encefálica pode acessar: http://www.scielo.br/pdf/rbti/v23n2/a16v23n2.pdf).

A ação deste sistema é muito fundamental para o bom funcionamento do cérebro, porém esta barreira dificulta muito o tratamento de doenças cerebrais, pois 98% dos medicamentos utilizados hoje, não conseguem ultrapassa-la. Essa dificuldade na passagem de medicamentos, obriga a administração de altas doses, o que pode gerar efeitos adversos graves.

Devido a essa grande dificuldade, pesquisadores trabalham a muitos anos buscando uma forma de tratamento alternativa, que seja eficientemente capaz de atravessar a barreira hemato-encefálica e de agir sobre regiões afetadas. Uma alternativa recentemente encontrada por pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP foi encapsular os medicamentos em nano-cápsulas, ou seja, colocar fármacos em cápsulas nanométricas (1 nanômetro = 1metro/1 bilhão), assim, devido a seu pequeno tamanho, essas capsulas seriam capazes de ultrapassar a barreira hemato-encefálica.

Para testar a eficiência deste método, o grupo coordenado pela pesquisadora Sandra Helena Farsky, utilizando as nano-cápsulas desenvolvida em parceria com pesquisadoras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realizou o nano encapsulamento de um anti-inflamatório, chamado indometacina, e este foi testado em camundongos acometidos por glioblastoma, um tipo de tumor cerebral maligno muito comum e agressivo.

O teste demonstrou que as nano-cápsulas conseguiram atravessar eficientemente a barreira e, devido a uma marcação realizada nestas cápsulas, foi possível observar que elas atuaram eficientemente sobre o glioblastoma. A redução do tumor observada foi de 70% de seu volume inicial e além disso nenhum efeito adverso foi observado.

A ação eficiente do anti-inflamatório contra o tumor já era conhecida, porém quando administrado oralmente, sem o nano-encapsulamento, causa lesões gastrointestinais graves nos pacientes, não podendo assim ser utilizado.

Os resultados observados são muito promissores, visto que se apresenta como uma forma de tratamento eficientemente capaz de superar a barreira hemato-encefálica, abrindo assim, caminhos para o desenvolvimento de novos tratamentos de doenças que afetam o sistema nervoso, como é o caso das doenças de Alzheimer e Parkinson, além de permitir a descoberta de novos tratamentos contra tumores.

 

 

Jaqueline R. de Almeida

jaqueline.raquel.almeida@usp.br

 

Referências

Freire, D. Nanocápsulas com anti-inflamatório reduzem tumor cerebral maligno em camundongos. Agência FAPESP. Outubro de 2016. Acesso em Outubro de 2016 < http://agencia.fapesp.br/nanocapsulas_com_antiinflamatorio_reduzem_tumor_cerebral_maligno_em_camundongos/24165/>

Rodrigues, S.F.; Fiel, L.A.; Shimada, A.L.; Pereira, N.R.; Guterres, S.S.; Pohlmann, A.R.; Farsky, S.H. Lipid-Core Nanocapsules Act as a Drug Shuttle Through the Blood Brain Barrier and Reduce Glioblastoma After Intravenous or Oral Administration. JOURNAL OF BIOMEDICAL NANOTECHNOLOGY, v. 12, n. 5, p. 986-1000, MAY 2016.

Rojas, H.; Ritter, C.; Pizzol, D. F. Mecanismos de disfunção da barreira hematoencefálica no paciente criticamente enfermo: ênfase no papel das metaloproteinases de matriz. Rev Bras Ter Intensiva. 2011; 23(2):222-227.

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