O que geralmente as pessoas pensam quando se fala de levedura é na conveniência e no grande prazer da vida de milhões de pessoas no mundo todo: pão e cerveja. Além disto, o campo de energia renovável dominado pelo etanol, especialmente no Brasil, vem ganhando cada vez mais força. E isso não é por acaso! Só no Brasil, o faturamento de pães e massas alimentícias – que dependem de levedura para fermentação – é da ordem de bilhões de reais (ABIMAPI, 2016). O mercado cervejeiro caminha no mesmo ritmo e chegou a movimentar R$ 74 bilhões em 2015 (VANINI, 2016). Por sua vez, a produção de etanol foi recorde em 2015, com 30 bilhões de litros no ano (PORTAL BRASIL, 2016). Por isso e muito mais, esse microrganismo é tão importante para nós, seres humanos.
Levedura, mais especificamente Saccharomyces cereviseae, é um microrganismo eucarioto, do grupo dos ascomicetos, que possui alta homologia com seres humanos – sim, temos diversas semelhanças! E é exatamente por esta similaridade em termos de biologia celular que muitos grupos de pesquisas têm se dedicado a estudar em levedura os efeitos de compostos tóxicos que potencialmente acabam contaminando recursos ambientais.
Preocupados com o estado de contaminação de solos e corpos d’água, um grupo de pesquisadores da ESALQ-USP desenvolveu um método quantitativo e qualitativo de detecção de compostos tóxicos em água e no solo – o chamado YTOX. O método é baseado na similaridade do papel das enzimas desidrogenase, que estão envolvidas em processos que nos dão energia, entre levedura e humanos. Quando presentes em abundância, essas enzimas reagem com um composto chamado TTC (Cloreto de Trifenil Tetrazólio), cujo resultado é uma coloração vermelha na solução de células de levedura. Quanto mais tóxico o composto for para a levedura, menos desidrogenase ela produzirá e, consequentemente, menor será a intensidade do vermelho resultante da reação das enzimas com o TTC. Resultados bastante animadores foram obtidos com cádmio e outros metais que, em determinadas concentrações, são tóxicos e causam danos aos seres humanos e ao meio ambiente. Com isso, ficará mais fácil, rápido e barato fazer análises de solo e água para compreender os riscos da exposição ambiental aos contaminantes e determinar medidas de remediação e/ou proteção necessárias para controlar contaminações industriais.
Figura 1. Bioensaios de toxicidade de metais com uso de levedura de panificação. Foto de autoria própria de JAF.
Além de ser de fundamental importância para a economia mundial, cumprindo o papel de agente principal de fermentação de bebidas, pães e produção de etanol, a levedura é excelente como microrganismo modelo e biotestador em estudos de toxicidade. Ao contrário do que muitos possam pensar, o mundo de pesquisa sobre levedura ainda tem muito a ser explorado!
Jéssica A. Ferrarezi
Fale com a pesquisadora: jessica.ferrarezi
Referências:
PORTAL BRASIL. Etanol atingiu produção recorde de 30 bilhões de litros em 2015. 2016. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2016/05/etanol-atingiu-producao-recorde-de-30-bilhoes-de-litros-em-2015> Acesso em: 13 fev. 2017.
VANINI, E. Mercado cervejeiro movimenta R$ 74 bilhões no Brasil. 2016. Jornal O Globo, Economia. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/mercado-cervejeiro-movimenta-74-bilhoes-no-brasil-18950844> Acesso em: 13 fev. 2017.
ABIMAPI – Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados. Categorias de biscoitos, massas alimentícias, pães e bolos industrializados fecham 2015 com faturamento de R$ 35,4 bilhões. 2016. Disponível em: <http://www.abimapi.com.br/noticias-detalhe.php?i=MTc1OQ> Acesso em: 13 fev. 2017.