Em agosto desse ano, o Brasil abrigará os Jogos Olímpicos de Verão com sede na cidade do Rio de Janeiro. Além dos 10.500 atletas de cada uma das mais de 200 delegações participantes, o país receberá milhares de turistas de vários lugares para prestigiar as competições.  O aumento da ocorrência de casos de dengue e de chikungunya, e  também de microcefalia em fetos, que podem estar relacionados ao vírus zika, provocou medo em muitos turistas da possibilidade de contraírem tais doenças quando estiverem no Brasil no período das Olimpíadas. De fato, a globalização tem impactado na propagação de doenças contagiosas há bastante tempo. O texto dessa semana é sobre como esse fenômeno pode influenciar a veiculação de doenças ao redor do mundo. Boa leitura!

De forma simples, a globalização é um fenômeno que se intensificou nas décadas de 80 e 90 e que foi responsável pela integração mundial dos aspectos econômicos, sociais e culturais. Esse fenômeno permitiu o fluxo de pessoas, informação, capital e bens, ultrapassando as barreiras geográficas, e também teve papel importante na propagação de algumas doenças contagiosas, justamente pela facilidade de as pessoas irem e virem em praticamente qualquer lugar no mundo globalizado.

Cento e cinquenta anos atrás demorava-se 1 ano para dar uma volta completa no mundo, hoje demora menos que 36 horas. Com isso, o tempo de incubação de algumas doenças, por exemplo, chega a ser maior do que o tempo que uma pessoa infectada demora para ir de um lugar para outro. Muitas vezes, o paciente ainda não sabe que está doente, mas já pode transmitir o patógeno para as pessoas com as quais teve contato durante uma viagem, por exemplo. A situação pode se agravar mais se essas pessoas nunca tiveram contato com a doença, ou seja, não possuem defesas naturais que possam combatê-la.

E, apesar de a globalização ser tratada como um fenômeno mais recente, o fluxo de pessoas foi responsável pela propagação de doenças há muitos anos. Vejamos os exemplos da AIDS e do sarampo. Vimos no texto “AIDS: da descoberta da doença à descoberta da origem” (leia aqui!) que o fluxo intenso de pessoas entre vários países da África foi o responsável pelo espalhamento do vírus HIV de sua origem na República Democrática do Congo; anos mais tarde, o vírus já tinha sido encontrado em inúmeros países do mundo.

O sarampo é uma doença altamente contagiosa, causada por um vírus que fica incubado no corpo por até 12 dias, sem que a pessoa mostre sintomas. Depois desse período surgem os principais sinais, inclusive as manchas vermelhas características, que podem ser devastadores em populações que nunca foram expostas ao vírus antes. Isso ocorreu em Cuba, no século XVI, quando um surto de sarampo matou 2/3 dos nativos que já tinham sobrevivido à outra doença, a catapora. O sarampo também foi responsável pela morte de populações de indígenas em outros países da América Central, como Honduras.

Um exemplo mais recente é o caso da gripe suína ou influenza A subtipo H1N1, que no ano de 2009 se espalhou da América do Norte para o mundo, atingindo no total 75 países, com casos, inclusive, no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a declarar a doença como uma pandemia em junho de 2009, ou seja, uma doença com ampla transmissão. Nessa época, muitos cuidados foram tomados para impedir ou diminuir a circulação do vírus: as pessoas que viajavam de avião tinham sua temperatura monitorada na época do surto, muitos que circulavam por metrô, trens e até mesmo pelas ruas vestiam máscaras para evitar o contato com fluidos contaminados com o vírus, aulas chegaram a ser canceladas (figura 1).

Figura 1 – máscaras utilizadas para evitar o contato com o vírus da gripe. Fonte: http://www.abril.com.br/imagem/turistas-japao-436.jpg
Figura 1 – máscaras utilizadas para evitar o contato com o vírus da gripe. Fonte: http://www.abril.com.br/imagem/turistas-japao-436.jpg

No Brasil, atualmente, as doenças que mais preocupam são aquelas transmitidas pelo Aedes aegypti: dengue, chikungunya e o vírus zika (veja aqui uma matéria especial sobre esse assunto). Muitas pessoas irão se deslocar pelo Brasil durante as Olimpíadas o que aumenta a chance de aqueles que tiverem infectados ajudarem na disseminação do vírus. É claro que as condições climáticas (muita ou pouca chuva) e até mesmo de urbanização (presença de aterros inapropriados, sujeira nas ruas) podem impedir a propagação do vírus, mas a intensa circulação de turistas é alarmante considerando que a doença pode se espalhar para outros lugares do mundo. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) diz que nos meses de agosto o índice dessas doenças é muito pequeno e que provavelmente não será preocupante para o evento; porém, delegações de países como o Quênia e o Estados Unidos já consideraram a possibilidade de não virem, principalmente pelas pesquisas recentes que apontam relação do vírus zika com a microcefalia (veja a matéria especial aqui). Além de os atletas ficarem doentes, eles poderiam ajudar na disseminação da doença em seus países, pois a população pode não ter tido contato antes com esse vírus.

Existe alguma maneira desses “intercâmbios” de doenças não ocorrerem? Diante do mundo de hoje, a resposta para tal pergunta é “pouco provável”. As pessoas vão e voltam a todo tempo e em todo lugar, com muita facilidade, e podem demorar a perceber que estão doentes, o que aumenta o contato do patógeno com outras pessoas saudáveis. O que nós podemos fazer é nos prevenir, assim como para todas as doenças: lavar sempre as mãos, evitar contato com objetos pessoais alheios e se estiver doente ficar de repouso, de preferência com o mínimo de contato com outras pessoas, para não espalhar a doença. Dessa forma, não só nos Jogos Olímpicos, mas em todo o ano, estaremos prevenidos contra essas enfermidades.

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Até mais,

Por Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

Referências

[1] Jogos Olímpicos Rio 2016. 2016. Acessado em 07/03/2016.

Disponível em:  http://www.rio2016.com/jogos-olimpicos

[2] Globalization and disease. 2016. Acessado em 07/03/2016.

Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Globalization_and_disease

[3] The impact of globalization on infectious disease emergence and control: exploring the consequences and opportunities, workshop summary – Forum on Microbial Threats. 2006. Acessado em 07/03/2016.

Disponível em: http://www.nap.edu/read/11588/chapter/3

[4] Pandemia de gripe A de 2009. 2016. Acessado em 07/03/2016.

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pandemia_de_gripe_A_de_2009

[5] Martín, M. Diante do medo global, Brasil procura afastar o fantasma do zika vírus de seus Jogos Olímpicos. 2016. Acessado em 07/03/2016.

Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/10/politica/1455135063_817516.html

Fonte da imagem destacada: http://www.corposaun.com/wp-content/uploads/2012/03/gripe.jpg

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