Se você, leitor, já conhece o blog, sabe que o nosso objetivo é divulgar a ciência de forma que todas as pessoas possam entrar em contato com o conhecimento, tanto aquele produzido pelas nossas pesquisas, quanto aquele relativo à qualquer tema interessante da ciência.

   O blog é, portanto, um meio de comunicação muito importante para atingirmos nosso objetivo. Nós, escritoras, somos as emissoras e vocês, leitores, os receptores da informação. Diante desta definição um pouco simplista, pode nos parecer que o fenômeno da comunicação é restrito a nossa sociedade humana e aos meios de comunicação como TV, rádio, internet e jornais. No entanto, este fenômeno ocorre em muitos outros contextos, como na biologia, onde a comunicação pode ser essencial no comportamento de defesa de muitos animais, influenciando inclusive na sua sobrevivência.

   Em uma série de 4 textos veremos o que é a comunicação e vários exemplos que fazem com que este fenômeno não seja restrito ao nosso cotidiano e nossas ações. Vamos entender que em vários aspectos biológicos a comunicação desempenha papel fundamental, desde a troca de sinais entre as células até no comportamento de um grupo de animais protegendo-se de um predador. Além disso, vou abordar como a tecnologia inegavelmente afetou nossa forma de comunicação e quais as vantagens e desvantagens dessa revolução sem precedentes. Garanto que, como eu, vocês vão se surpreender com esse tema tão interessante!

 

Fonte da imagem: <a href=”http://br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/negocio”>Vector Negócio desenhado por Freepik</a>

Mas para começar: o que é comunicação?

   Comunicação vem do latim communicationem e significa compartilhar, dividir, tornar algo comum, como uma informação, o conhecimento ou algum fato. Esta definição se encaixa melhor quando pensamos nas formas de comunicação humana, mas em outras situações esta ação pode ser melhor entendida como uma forma de transmissão de sinais. Vamos aos exemplos de como isso acontece?

   Nas bactérias, por exemplo, existe uma forma bem específica e igualmente interessante de comunicação chamada quorum sensing. Neste fenômeno, as bactérias liberam pequenas moléculas sinalizadoras no meio onde elas estão (por exemplo, em um tecido de uma planta ou dentro do intestino humano) e quando elas percebem que estão em uma alta densidade populacional (através do aumento da concentração dessas moléculas no meio) começam em conjunto (por isso do nome quorum) expressar genes específicos. Algumas bactérias que causam doenças liberam essas moléculas no meio em que estão e quando a concentração aumenta elas começam a expressar genes específicos de patogenicidade. A “percepção” do momento certo de iniciar a expressão desses genes traz vantagens para as bactérias, pois somente quando elas se encontram em uma alta densidade populacional é que tem maior chance de causar a doença.

   Tão interessante quanto a sinalização entre as bactérias é a sinalização celular. Sim, as células de um tecido, órgão e de um organismo como um todo comunicam-se e transmitem sinais que interferem nos mecanismos celulares a todo momento. Existem muitas vias de comunicação celular, mas assim como ocorre nas bactérias, há moléculas sinalizadoras que são liberadas por uma célula e que, ao chegarem a outra célula, são percebidas por meio de receptores na membrana ou no citoplasma (caso as moléculas consigam se difundir para dentro da célula). A partir daí esse sinal recebido é modificado (o que chamamos transdução) e então pode, por exemplo, ativar um fator de transcrição que promova a expressão de um gene específico.

   Muitas doenças ocorrem pela falha no processo de sinalização celular. Um exemplo é a diabetes, que atinge mais de 370 milhões de pessoas no mundo. Em uma célula normal o hormônio insulina liberado é reconhecido por um receptor na membrana celular, que desencadeia uma série de sinalizações dentro da célula de vários tecidos do nosso corpo, e que culmina na facilitação da entrada de glicose. Porém, em pessoas obesas por exemplo, podem ocorrer alterações nesses mecanismos de sinalização entre o hormônio insulina e a entrada de glicose na célula, que faz com que os níveis de açúcar no sangue fiquem acima do normal, sendo este um fator de risco para diabetes.

   Com esses exemplos já podemos perceber que a comunicação não é restrita ao que vemos nas relações humanas ou entre animais, mas até mesmo na escala molecular e celular ela ocorre e rege processos importantíssimos para a vida.

   No próximo texto vamos entender como a comunicação é importante na vida animal e como isto envolve questões essenciais, como a própria sobrevivência.

   Então, caro leitor, se gostou do assunto, abaixo estão as referências que usei para o texto e lá podem ser encontradas mais informações sobre esse interessante tópico; além disso, comunique conosco sua opinião, sugestões e dúvidas através do nosso blog e na nossa página do Facebook.

           Até a próxima!

Por: Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

Referências

[1] Bittencourt, F. (2004). A comunicação como fator de desenvolvimento nas relações produtivas de trabalho. Revista Eletrônica de Administração e Negócios.

[2] Communication. (2014). In Online Etimology Dictionary. Acessado em 23 outubro de 2014, de http://www.etymonline.com/index.php?term=communication.

[3] JDRF. (2014). Statistics JDRF and diabetes

[4] Pauli, J.R., Cintra, D.E., Souza, C.T., Ropelle, E.R. (2009). Novos mecanismos pelos quais o exercício físico melhora a resistência à insulina no músculo esquelético. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia  & Metabologia, 53 (4), 399-408. 

[5] Reading, N.C. & Sperandio, V. (2006). Quorum sensing: the many languages of bacteria. FEMS Microbiol Lett, 254 (1), 1–11. 

[6] Rumjanek, N.G., Fonseca, M.C.C., Xavier, G.R. (2004) Quorum sensing em sistemas agrícolas. Revista Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento,  33, 35- 30.

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