“É possível ensinar pensamento crítico?” e “Como ensinar pensamento crítico aos alunos?” são duas perguntas muito recorrentes em conversas de professores. De acordo com um levantamento feito por uma professora e pesquisadora da Arábia Saudita, Nada Alsaleh, sim, é possível e existem diversos estudos descrevendo como fazer isso.
Pensamento crítico pode ser entendido como um processo de identificar um problema e ter engajamento para encontrar uma solução, além de ser um tipo de pensamento com propósito, racional e fundamentado. Apesar de não existir um consenso entre cientistas para uma definição única de pensamento crítico, todos concordam que é um conjunto de habilidades importantes e que devem ser desenvolvidas por estudantes. Entre essas habilidades, eles destacam capacidade de interpretação, análise, avaliação, formulação de inferências, de explicação e de auto-regulação (regular os próprios comportamentos, emoções e pensamentos).
As habilidades podem ser trabalhadas tanto de forma isolada, em cursos específicos e direcionados, como ao longo de toda a formação do estudante de modo que ele possa treinar as habilidades em diferentes situações e de forma continuada. As duas estratégias têm vantagens e limitações.
Existem muitas diferentes formas de ensinar como pensar criticamente, todas devem encorajar os estudantes a compreender e aplicar as habilidades mencionadas acima. Alguns exemplos mais utilizados são: ler e criticar artigos de jornais, debates, escrita de artigos de pesquisa, avaliar estudos de caso e discussão estruturada (ex: técnicas de questionamento socrático) e aprendizagem baseada em problema (PBL). Durante uma atividade de leitura e de discussão, o professor pode encorajar os alunos a analisar ideias sugerindo que encontrem similaridades, reconheçam pressupostos, busquem alternativas, façam classificações e decidam quais informações suportam a ideia discutida. A escrita em si não desenvolve o pensamento crítico, mas exercícios em que os alunos precisam apresentar uma ideia e deixando claros os argumentos e as conexões entre ideias permitem desenvolver tais habilidades. O uso de tecnologias como ambientes de simulação computacional, ambientes virtuais de aprendizagem e uso de redes sociais também podem ser úteis.
Avaliar se as habilidades estão sendo desenvolvidas também é essencial e exige estratégias apropriadas. Apenas participar da discussão ou escrever um texto pode não ser efetivo, se o aluno não se engaja na atividade.
Curso específico ou ensino ao longo da formação?
Pesquisadores que acreditam que esse tipo de pensamento deve ser ensinado em cursos específicos, afirmam que é necessário que a pessoa conheça as teorias, o vocabulário relacionado ao tema e que trabalhe as habilidades de forma consciente e direcionada. Também defendem que é importante conhecer a teoria antes de praticar. Os experimentos que testaram essa estratégia duraram poucas semanas e mostraram que cursos curtos permitem o desenvolvimento de habilidades de raciocínio, escrita argumentativa e aspectos cognitivos. Os estudos também mostraram que a habilidade e a experiência do professor tem um efeito importante no sucesso do curso.
Outros pesquisadores defendem que pensamento crítico é uma habilidade que deve ser ensinada e exercitada ao longo de toda a formação do estudante, de modo que ele possa treinar as habilidades em diferentes contextos e de forma continuada. Estudos indicaram que utilizar metodologias que estimulem o desenvolvimento de habilidades de argumentação oral e escrita, leitura e escuta ativas em diferentes situações são mais efetivas para que os estudantes possam utilizar essas habilidades. Entretanto, isso exige que professores tenham capacidade de escolher e aplicar essas metodologias e que o ambiente de ensino-aprendizagem seja adequado para isso.
Estratégias de ensino
A técnica socrática de questionamento é uma das técnicas mais populares e poderosas para guiar estudantes na geração de questionamentos profundos. Nessa técnica, o professor faz uma série de perguntas ao aluno para guiá-lo a desenvolver um raciocínio.
1. Pede esclarecimentos perguntando “O que você quer dizer com ___?”, “Você pode me dar um exemplo?” ou “Você pode me explicar isso com mais detalhes?”.
2. Questiona as suposições levantadas pelo aluno perguntando “Você está assumindo que ____? e “Será que existe um ponto de vista diferente?”.
3. Pede evidências perguntando “O que pode validar seu ponto?” e “Temos todas as informações de que precisamos para afirmar ____?”.
4. Verifica se existem pontos de vista alternativos.
5. Estimula que o aluno pense em implicações e consequências: “Como isso afeta outra pessoa?” ou “Quais são os efeitos a longo prazo de isso?”.
6. Faz perguntas desafiadoras como “O que você pensa que é importante sobre essa questão?” ou “Que outras perguntas podemos formular sobre isso?”.
Utilizando essa técnica de forma assíncrona, como em um fórum de discussão, é possível que os alunos analisem com calma cada ponto e desenvolvam habilidade de análise, composição, negociação e reflexão.
A Aprendizagem baseada em problema (Problem based learning – PBL) é uma estratégia promissora. Quando a atividade é bem planejada, ela encoraja os estudantes a pensar mais criticamente sobre os problemas utilizando os conhecimentos adquiridos do que em aulas tradicionais baseadas apenas em apresentação de conteúdo. Nesse tipo de atividade, os estudantes precisam compreender e analisar os principais aspectos da situação problema, sugerir um plano que poderia ser utilizado para resolver o problema, avaliar a solução proposta e decidir uma solução final.
Existem muitas outras estratégias que podem ser utilizadas para trabalhar pensamento crítico com estudantes. Meu objetivo é apenas trazer alguns exemplos e mostrar alguns caminhos. Se você gostou do assunto e quer saber mais, mande sua pergunta ou sua sugestão de tema para próximos textos para gente (cienciainformativa@gmail.com). Você também pode encontrar mais informações no artigo de revisão abaixo e nos artigos usados neste estudo.
Semana que vem, teremos mais ferramentas que professores podem utilizar para tornar suas aulas mais atrativas e efetivas. Acompanhe!
Referência:
Alsaleh, N. J. (2020). Teaching Critical Thinking Skills: Literature Review. Turkish Online Journal of Educational Technology-TOJET, 19(1), 21-39.
Imagem de capa: Designed by Freepik