Existem mais de 300 raças de cães no mundo com os mais variados tamanhos, formas e comportamentos, sendo que cada criador tem suas preferências. Só o que parece ser unanimidade entre os donos é a forte relação existente entre humano e seu cão.

Alguns cães têm importância tão grande, chegando a ser maior do que alguns humanos. Existem vários exemplos de bons companheiros da realeza, o Cão Real do Egito, também conhecido como Saluki, era tão importante no Egito antigo que frequentemente era mumificado assim como os faraós. Um outro exemplo é mais moderno, lá para o início do século XX, a rainha Elizabeth II da Inglaterra tinha cachorros da raça Corguis como seus fieis companheiros.

Existe uma grande discussão sobre onde e quando os cães surgiram. Eles pertencem ao gênero Canis, do qual também fazem parte o lobo, o coiote e o chacal, e sabe-se que o lobo é o seu parente mais próximo. Então, utilizando informações de fósseis e também fazendo comparações entre o DNA de diversas raças de cães e algumas espécies de lobos, pesquisadores descobriram que o início da domesticação foi há aproximadamente 15 mil anos. Entretanto, é provável que a relação entre humanos e lobos tenha se iniciado muito antes da domesticação, talvez há mais de 30 mil anos.
Inicialmente, os lobos se aproveitavam dos restos de comida deixados pelos homens e, com o tempo, foram se acostumando com a presença humana. Possivelmente, as pessoas começaram a pegar filhotes, que ocasionalmente acabaram se tornando animais de estimação. Com o passar do tempo, os humanos começaram a usar os cães para as mais diversas tarefas e com isso iniciou-se a seleção de características mais adequadas para cada função. Assim, começaram a surgir cães pastores, cães de guarda, caçadores, de companhia, etc. (Veja aqui os grupos mais comuns).

O local de origem, por outro lado, é muito controverso. Um estudo com DNA mitocondrial (veja Box 1) indica que os cães se originaram no leste asiático, mas outros estudos indicam que o local onde surgiram inicialmente foi o Oriente Médio, com origens secundárias na Europa e no leste da Ásia (Leia mais aqui). Esta dificuldade em encontrar o local de origem dos cães pode ser efeito da história da domesticação e da relação desses animais com o homem. No início da domesticação, ainda era muito comum o cruzamento de animais domésticos com lobos. Além disso, como ainda não existiam raças definidas e com a migração dos humanos ao longo dos continentes houveram muitos cruzamentos entre animais de locais diferentes. Isso torna mais difícil separar as linhagens e compreender como elas se separaram e onde surgiram.

 
Box 1. DNA mitocondrial Nas células dos animais, a maior parte do DNA pode ser encontrado no núcleo, mas também temos DNA em uma organela chamada mitocôndria, responsável pela respiração celular. O DNA nuclear é dividido e recombinando para formar um novo indivíduo. Por outro lado, as mitocôndrias não se dividem e todo nosso DNA mitocondrial é de origem materna e, portanto, é mais fácil de ser rastreado ao longo das gerações. Então, muitos pesquisadores usam o DNA das mitocondrial para estudar a relação entre indivíduos ou espécies ao longo da história evolutiva.

O estudo das raças modernas também não é muito simples. Existem algumas raças que foram isoladas das demais há muitos anos como o Akita, o Shar-Pei e o Saluki. Isso quer dizer que os criadores tentaram ao máximo evitar que seus animais cruzassem com outras raças. Isso facilita os estudos genéticos, porque cada raça acaba tendo um conjunto próprio de características e genes, portanto podem ser agrupados facilmente. Várias outras raças são resultado da mistura de duas ou mais linhagens ou tiveram mais oportunidades de ter cruzamentos entre raças. Um exemplo é o Shiba Inu, que foi extinto durante a Segunda Guerra Mundial e foi recriado a partir do cruzamento de três linhagens japonesas diferentes. Outro exemplo é o do Lébrel Irlandês, que foi extinto por volta do ano 1840. Após sua extinção, a raça foi recriada cruzando um lébrel com Galguinho italiano e depois cruzando os filhotes com Borzois e Dogue alemão até chegar ao Lébrel Irlandês moderno, que tem as características do original, mas não os mesmos ancestrais.
 
Lébrel Irlandês moderno e seus ancestrais (Fotos: Guia de Raças)  
Existem ainda muitas perguntas a serem respondidas sobre como e onde surgiram as raças de cães, mas vimos aqui que tanto a pesquisa arqueológica, como o estudo histórico e a genética podem nos ajudar a conhecer melhor a história desses animais tão queridos.
 
Por Patricia Sanae Sujii

Referências
[1] Guia de raças
[2] Toward understanding dog evolutionary and domestication history
[3] Rethinking dog domestication by integrating genetics, archeology, and biogeography

One Reply to “Cães: quem são e de onde vieram?”

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