Seguindo a sugestão de um dos nossos leitores, o tema de hoje é a famosa “barriga de chope”. Você provavelmente já ouviu essa expressão, que assombra aqueles que querem manter a forma, mas não abrem mão daquela cervejinha de vez em quando.

   Algumas pessoas acreditam que quem bebe muita cerveja tem uma forte tendência a ter uma barriga mais saliente, mesmo sendo uma pessoa magra. Será que essa tendência existe mesmo? Será que existe uma explicação fisiológica para isso?

   A proporção entre as circunferências da cintura e do quadril é uma medida bastante utilizada em estudos de obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes. Essa medida permite entender quanto da gordura total do corpo é acumulada na cintura. Então, o que chamamos de “barriga de chope” é um grande acúmulo de gordura abdominal, que pode acarretar problemas de saúde.

   Para entender se o consumo de bebidas alcóolica causa um aumento da gordura abdominal, pesquisadores de diversas partes do mundo têm feito estudos de longo prazo, que podem durar de cinco a dez anos. Nessas pesquisas, eles avaliam o padrão de consumo de álcool (frequência e quantidade) e comparam com peso, proporção entre as circunferências da cintura e do quadril, índice de massa corporal (relação entre peso e altura, veja mais aqui), percentual de gordura no corpo, entre outros. Nesses estudos, em geral, eles separam as bebidas em três categorias: cerveja, vinho e bebidas fortes (uísque, rum, licor, etc).

   Um estudo realizado com homens com idades entre 60 a 79 anos, na Inglaterra, mostrou que o consumo de uma grande quantidade de álcool por semana levou a um aumento do percentual de gordura no corpo, independentemente do tipo de bebida ingerido. Essa gordura estava principalmente concentrada na região abdominal. Eles consideraram que uma grande quantidade de bebida alcoólica corresponde a pelo menos 10 L de cerveja ou 21 doses de outras bebidas por semana. [1]

   Um outro estudo desenvolvido com homens e mulheres, com idades a partir de 20 anos na Dinamarca, encontrou uma relação entre o consumo moderado a alto de álcool por semana (acima de 2,5 L de cerveja ou 7 doses de bebidas fortes) com o aumento da gordura abdominal. Neste estudo, o vinho foi a exceção. Os pesquisadores observaram que, diferentemente das outras bebidas, o consumo de vinho não levou ao aumento da barriga. [2]

   Em um terceiro estudo realizado com homens e mulheres com idades entre 35 e 79 anos, nos Estados Unidos, os pesquisadores observaram que, além da importância da quantidade de álcool ingerido, também existe relação entre frequência do consumo de álcool e a circunferência abdominal. Eles observaram que beber frequentemente, mas pouco em cada dia, tem um efeito menor na gordura abdominal do que beber grandes quantidades de uma vez. [3]

   Os cientistas ainda não chegaram a uma conclusão sobre quais são os mecanismos fisiológicos envolvidos nesse acúmulo de gordura abdominal com o consumo de álcool, mas existem algumas hipóteses que estão sendo investigadas. Uma das hipóteses está relacionada ao funcionamento da insulina, e a outra com o sistema de degradação do álcool no organismo. Em ambos os casos, pode haver um mecanismo dependente da quantidade e da frequência de ingestão de álcool. [4]

   Então beber cerveja ou outras bebidas alcoólicas pode trazer aquela “barriguinha de chope”, sim! Especialmente se beber em grande quantidade. Portanto, se for beber, beba com moderação e não deixe de ter uma alimentação saudável e praticar atividades físicas, de modo a evitar problemas de saúde mais tarde!

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por Patricia Sanae Sujii

sujiips@gmail.com

Referências
[1] Wannamethee, S. G., Shaper, A. G., & Whincup, P. H. (2005). Alcohol and adiposity: effects of quantity and type of drink and time relation with meals. International journal of obesity, 29(12), 1436-1444.

[2] Vadstrup, E. S., Petersen, L., Sørensen, T. I. A., & Grønbaek, M. (2003). Waist circumference in relation to history of amount and type of alcohol: results from the Copenhagen City Heart Study. International journal of obesity, 27(2), 238-246.

[3] Dorn, J. M., Hovey, K., Muti, P., Freudenheim, J. L., Russell, M., Nochajski, T. H., & Trevisan, M. (2003). Alcohol drinking patterns differentially affect central adiposity as measured by abdominal height in women and men. The Journal of nutrition, 133(8), 2655-2662.

[4] Tolstrup, J. S., Halkjær, J., Heitmann, B. L., Tjønneland, A. M., Overvad, K., Sørensen, T. I., & Grønbæk, M. N. (2008). Alcohol drinking frequency in relation to subsequent changes in waist circumference. The American journal of clinical nutrition, 87(4), 957-963.

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