Mais um carnaval passou e me fez pensar em estratégias reprodutivas extravagantes. Se você não viu a matéria sobre o carnaval das aves do paraíso, veja o link no final desta página!

O caso de comportamento reprodutivo carnavalesco deste ano é o dos vagalumes. Esse grupo enorme de insetos, composto por mais de 2 mil espécies, produz luz em seus próprios corpos para chamar a atenção dos parceiros sexuais. E tem gente que acha que purpurina é chamativa…

O processo de produção de luz por organismos vivos é chamado de bioluminescência. Nos vagalumes, esse é um processo químico que gasta muita energia. Muitas espécies usam reações químicas para produzir luz, entre elas, podemos citar algas, cogumelos e águas vivas, cada uma com sua finalidade. Nos vagalumes, essas reações dependem do uso de energia, oxigênio e uma enzima chamada luciferase. Talvez você já tenha visto que alguns vagalumes emitem luz verde, outros emitem luz amarela e até alaranjada. Essa diferença pode ser resultado de reações químicas um pouco diferentes associadas a filtros óticos, ou seja, camadas de células coloridas ao redor de onde a reação química acontece.

O pisca-pisca dos vagalumes é um mecanismo de comunicação à distância, no escuro, que permite os casais se encontrarem. Mas como um vagalume sabe se o outro que está piscando é da mesma espécie ou não, se existem tantas espécies diferentes? Eles são capazes de reconhecer cores e padrões nas luzes emitidas. Assim como as luzes de natal, vagalumes podem piscar seguindo diferentes padrões. Por exemplo, alguns piscam muito rápido, outros, mais lentamente e outros emitem luz continuamente.

Além da velocidade, também existem padrões de comunicação e reconhecimento mais complexos. Veja alguns exemplos abaixo:
–    Fêmeas podem ficar paradas e emitir um brilho contínuo ou podem piscar lentamente para atrair machos voadores que podem brilhar ou não. Quando o macho encontra a fêmea, eles começam os rituais de cópula. É o caso da espécie Lampyris noctiluca observada na foto abaixo, em que a fêmea não tem asas.

Lampyris noctiluca_Christophe Quintin
Fêmea da espécie Lampyris noctiluca (por Christophe Quintin)

–    Machos podem emitir um padrão específico de luzes e, se a fêmea se interessar, ela pisca em um padrão de resposta. Os dois continuam essa comunicação até se encontrarem para copular.
–    Alguns grupos de machos voam piscando de forma sincronizada perto das fêmeas, que piscam de forma aleatória. Cada macho pousa perto da sua fêmea de interesse e pisca seguindo diferentes padrões para impressionar a fêmea até que os dois se encontrem para cópula.
–    Um padrão muito impressionante é o observado em algumas espécies do gênero Pteroptyx, em que os machos voam e piscam de forma sincronizada para atrair as fêmeas. Vejam um exemplo no vídeo abaixo https://www.youtube.com/watch?v=EnwVVE-EGVw

Essa capacidade de brilhar provavelmente surgiu nas larvas de vagalumes como um aviso de veneno para os predadores, de forma semelhante às cores vibrantes observadas em algumas espécies de sapos e lagartas de borboleta. Em algumas espécies, o brilho e a capacidade de piscar acabaram se mantendo mesmo na forma adulta e são usadas também para atrair parceiros reprodutivos – como discutido no texto.

Os vagalumes machos também podem oferecer presentes nupciais para as fêmeas. Entre os presentes mais comuns estão alimentos, bolsas com esperma e até partes do corpo do próprio macho. Não parece muito romântico para nós, humanos, mas funciona muito bem para esse grupo de insetos. A maioria dos vagalumes macho morrem logo após os eventos de reprodução, então alimentar a fêmea que vai gerar seus ovos com partes do seu corpo pode ser uma estratégia para aumentar as chances de ter uma prole maior e mais saudável.

Conheça as danças das aves do paraíso clicando aqui.

Gostou da matéria? Quer saber mais sobre as estratégias inusitadas para achar um parceiro na natureza? Escreva seu comentário ou mande uma mensagem para cienciainformativa@gmail.com.

por Patricia S. Sujii

sujiips@gmail.com

Referências
Wood, K. V. (1995). The chemical mechanism and evolutionary development of beetle bioluminescence. Photochemistry and Photobiology, 62(4), 662-673.
Lewis, S. M., & Cratsley, C. K. (2008). Flash signal evolution, mate choice, and predation in fireflies. Annu. Rev. Entomol., 53, 293-321.

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