Quando você pensa em floresta, qual imagem vem à cabeça? Eu penso em um ambiente cheio de diversidade, com árvores altas, arbustos e vários seres vivos interagindo entre si. E quando você ouve a palavra “agrofloresta”, o que você imagina? Bom, talvez você não imagine nada, pois muitas pessoas não conhecem esse termo. Quando pensamos na origem da palavra agro (terreno cultivado), talvez você visualize uma floresta na qual algo é cultivado. Se você pensou nisso, está indo no caminho certo. No texto de hoje vamos explicar um pouco mais sobre o que é um Sistema Agroflorestal (SAF) e quais são as vantagens de sua implementação no Cerrado.

            A arquitetura de uma agrofloresta está relacionada ao cultivo de plantas lenhosas perenes (duradouras) como arbustos, palmeiras e árvores em associação com sistemas agrícolas, podendo ou não envolver atividades agropecuárias, isso tudo em um mesmo pedaço de terra, de maneira simultânea ou em sequência temporal (1)(2). Parece muita coisa acontecendo em um lugar só, não é? Mas essa é a vantagem de uma agrofloresta, e quando são projetadas e administradas corretamente elas tornam-se ferramentas importantes para o desenvolvimento sustentável do Cerrado (2).

            Quais são os tipos de agrofloresta?

            Existem variados tipos de agrofloresta, classificados de acordo com a estrutura (espécies utilizadas), com a função que desempenham ou com o propósito que possuem. Na tabela 1 mostramos um esquema dos modelos de agrofloresta. 

Tabela 1: Principais classificações de práticas e de Sistemas Agroflorestais.

Fonte: Duboc, 2008 (2)

 

Para que um sistema agroflorestal funcione bem ele deve ser planejado de acordo com vários fatores. Portanto, se você tem interesse em aplicá-lo é sempre bom se informar antes e buscar a ajuda de um profissional.

E quais são os benefícios que a combinação de alguns dos elementos de uma agrofloresta proporciona?

Bom, as árvores melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo não só a partir da fixação biológica de nitrogênio no solo, mas também através da captura de nutrientes presentes em camadas mais fundas do solo (2)(3). As raízes dessas árvores perenes também ajudam na redução da perda de nutrientes por processos como lixiviação* e erosão (2). Outra vantagem proporcionada por elas é o aumento da disponibilidade de nutrientes através da formação de serapilheira (2), camada de matéria orgânica presente acima do solo (saiba mais em https://bit.ly/colab_1). Sabe aquele tanto de folhas secas, galhos e pedaços de casca que fazem muito barulho quando pisamos ao andar no mato? É a serapilheira!

O sombreamento e a serapilheira proporcionados pela presença das árvores suavizam temperaturas extremas e diminuem a radiação solar que chega ao solo; essas interações podem beneficiar as espécies cultivadas. Geralmente são escolhidas menos de dez árvores para interagirem com as plantas cultivadas e assim compor um sistema de cerca de um 1 hectare. No Cerrado algumas das árvores testadas foram: Seringueira, Mogno, Óleo-copaíba, Baru, Gueroba, Angico e Nim. Tais espécies interagiram bem com cultivos de café, mandioca, milho, feijão, banana e vegetações nativas (2). A figura 1 ilustra um exemplo de combinação de plantas em uma agrofloresta. 

Figura 1: Exemplificação de Sistema Agroflorestal

Fonte: Oliveira et al, 2010 (6)

 

E quais são as consequências de implementar um Sistema Agroflorestal (SAF) no Cerrado?

Quando bem planejada, a produtividade de uma agrofloresta de 1 ha (10.000 m²) é superior à produtividade da mesma área de uma monocultura (2). Se você leu nosso texto sobre a ocupação agrícola (bit.ly/cerrado_texto2) viu que o Cerrado sofre com o desmatamento. Portanto o uso desse sistema pode ajudar a preservar do bioma e ao mesmo tempo garantir retorno financeiro.

Além da conservação também podemos pensar em restauração do Cerrado a partir de um SAF. Cada técnica depende das características físicas do local, mas os benefícios de um ambiente restaurado são enormes (4). O Centro Mundial Agroflorestal (ICRAF) relata que dentre as funções ecológicas de uma agrofloresta estão o alto volume de fixação de carbono, maior capacidade de adaptação a mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e melhoria da qualidade do solo. Além disso relata-se benefícios às práticas de apicultura (cultivo de abelhas) associadas a SAFs e até reduções no uso de práticas nocivas ao meio ambiente com o uso do fogo! Isso porque os agricultores passam a conhecer melhor os recursos de sua terra e deixam de usar queimadas para limpar um terreno (5). Existem outros diversos benefícios associados às práticas agroflorestais, se quiser saber mais dá uma olhadinha nas nossas referências!

O mundo atual é marcado pela enorme pressão exercida sobre o meio ambiente, por isso precisamos pensar em alternativas de produção alimentícia sustentáveis, dentre outras condutas, com o objetivo de preservar os recursos naturais que ainda temos. O Cerrado é um dos biomas que mais sofre com o desmatamento atualmente. A implantação de Sistemas Agroflorestais é uma alternativa com consequências socioeconômicas positivas, que pode nos ajudar a dar um passo em direção a um futuro melhor.

 

 

*A lixiviação geralmente acontece em solos sem cobertura vegetal, e é caracterizada pela lavagem de nutrientes da camada superficial do solo, ocasionada pelo escoamento da água da chuva, por exemplo.

Por: Isabela Filgueira

Referências

(1) IWATA, Bruna de F. et al . Sistemas agroflorestais e seus efeitos sobre os atributos químicos em Argissolo Vermelho-Amarelo do Cerrado piauiense. Rev. bras. eng. agríc. ambient.,  Campina Grande ,  v. 16, n. 7, p. 730-738,  July  2012 .

(2)   DUBOC, Eny et al. Sistemas agroflorestais e o Cerrado. Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, p. 965-985, 2008.

(3)   ALVES, Ray Pinheiro. Dinâmica de nitrogênio em sistema agroflorestal na região de cerrado (Brasil central). 2012. (Tese de Conclusão de Curso da Universidade de Brasília – UnB)

(4)   MICCOLIS, Andrew et al. Restoration through agroforestry: options for reconciling livelihoods with conservation in the Cerrado and Caatinga biomes in Brazil. Experimental Agriculture, v. 55, n. S1, p. 208-225, 2019.

(5)   PORRO, Roberto; MICCOLIS, Andrew. Políticas públicas para o desenvolvimento agroflorestal no Brasil. Belém: World Agroforestry Centre, 2011.

(6) Figura 1: Nara Lina Oliveira, Clara Jacq, Maurício Dolci e Florian Delahaye, « Desenvolvimento Sustentável e Sistemas Agroflorestais na Amazônia matogrossense », Confins [Online], 10 | 2010, posto online no dia 28 outubro 2013, consultado o 16 setembro 2020. URL : http://journals.openedition.org/confins/6778 ; DOI : https://doi.org/10.4000/confins.6778

(7) Foto da chamada: https://jacobucci.ind.br/news/agroflorestas/

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