Em junho deste ano, um artigo científico escrito por pesquisadores da Universidade de Illinois, EUA, trouxe luz para um dos distúrbios psicológicos mais importante que conhecemos, o autismo. Através de um experimento baseado no comportamento de abelhas, cientistas conseguiram entender melhor as bases evolutivas genéticas dessa condição que ainda é um desafio para muitas pessoas. Quer saber mais sobre o assunto? Leia nosso texto dessa semana!
O autismo é um distúrbio neurológico com causas genéticas e ambientais que levam ao comprometimento de habilidades de aprendizagem, de comunicação e de relacionamento com outras pessoas. Pessoas com autismo geralmente tem dificuldade na interação social, na percepção do ambiente e das situações ao redor, possuem dificuldade na fala – repetindo fonemas e balbuciando palavras, além de exibirem comportamentos repetitivos (Figura 1) – como empilhar objetos sempre da mesma forma. Sabe-se que existem causas ambientais e genéticas que levam ao autismo, mas ainda não se tem certeza se a condição é causada por apenas uma mutação gênica ou por uma interação entre vários genes.
Para estudar doenças relacionadas à comunicação e socialização, os cientistas observam o comportamento de outros animais sociais, como as abelhas. Parte-se da premissa que comportamentos similares entre humanos e outros animais sociais, podem significar origens evolutivas comuns de genes relacionados à socialização, por exemplo.
No artigo publicado por pesquisadores de Illinois, EUA, foram utilizadas abelhas, por estes serem insetos que também vivem em sociedades complexas, assim como os seres humanos, e que tem um comportamento de socialização e cooperação intenso entre os indivíduos de uma mesma colméia.
Os pesquisadores usaram mais de 200 abelhas de 7 colméias diferentes, ou seja, com genótipos diferentes também. Para estimular o comportamento social, eles colocaram uma abelha estranha nas redondezas da colméia, o que levaria a um comportamento agressivo por parte das operárias daquela mesma colméia. Também colocaram as abelhas na presença de larvas, o que estimularia o comportamento de cuidado da prole e nutrição.
Porém, cerca de 14% das abelhas não responderam aos estímulos da maneira esperada, demonstrando falta de interesse e de consciência das situações vividas pelas companheiras, da mesma forma que algumas pessoas com autismo agem. Analisando o perfil genético desses indivíduos, os pesquisadores descobriram que os genes diferencialmente expressos nas abelhas divergentes são muito semelhantes aos conhecidamente relacionados aos distúrbios de autismo e esquizofrenia em humanos. Isso indica que, apesar dos circuitos neurais serem muito diferentes entre abelhas e humanos, há uma semelhança no nível molecular, ou seja, nos genes envolvidos.
Essa descoberta abre novos horizontes, onde as abelhas podem ser utilizadas como modelo para estudo de doenças e distúrbios relacionados à interação social. Além disso, pesquisadores afirmam que, a semelhança encontrada entre os genes que controlam interação social entre abelhas e humanos, pode indicar que esses genes sejam responsáveis pela mesma função em outros animais sociais.
Todos esses estudos podem nos ajudar a entender melhor as bases genéticas do autismo e a buscar possíveis tratamentos para a doença e, claro, melhorar a qualidade de vida dessas pessoas! É a ciência sempre buscando novas descobertas!
Até a próxima!
Por Nathália de Moraes
nathalia.esalq.bio@gmail.com
Referências
[1] Autismo. Wikipedia. Acessado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Autismo em agosto de 2017.
[2] O que é autismo? Instituto Pensei. Acessado de http://autismo.institutopensi.org.br/informe-se/sobre-o-autismo/o-que-e-autismo/ em agosto de 2017
[3] Morrison, C. (2017). Bees that are antisocial may be autistic. Acessado de http://www.deathrattlesports.com/bees-that-are-antisocial-may-be-autistic/1777 em agosto de 2017
[4] Pennisi, E. (2017). Antisocial bees share genetic profile with people with autism. Acessado de http://www.sciencemag.org/news/2017/07/antisocial-bees-share-genetic-profile-people-autism em agosto de 2017.
[5] Dangerfield, K. (2017). Antisocial honey bees could provide insight about autism: study. Acessado de http://globalnews.ca/news/3654368/antisocial-honey-bees-could-provide-insight-about-autism-study/ em agosto de 2017
[6] Shpigler, H. Y. (2107). Deep evolutionary conservation of autism-related genes. PNAS: doi: 10.1073/pnas.1708127114. Acessado de http://www.pnas.org/content/early/2017/07/25/1708127114 em agosto de 2017
[7] Imagem em destaque: http://animals.sandiegozoo.org/animals/bee