Buscando obter informações acerca do desenvolvimento embrionário em mamíferos, estudos começaram a ser realizados no século XX para entender melhor as células-tronco embrionárias (C.T.E.) e como cultivá-las. Essas células surgem à partir do zigoto e não são especializadas, tendo alta capacidade de multiplicação, além de possuírem um enorme potencial de diferenciação em qualquer outra célula, dos mais variados tecidos.
Até os anos 1980, as C.T.E.s eram obtidas a partir de tumores, pois a obtenção direta dos embriões de modelos animais, como plataforma de estudo, tinha uma taxa baixíssima de sucesso. Foi somente no final da década de 1990 que as técnicas de extração das C.T.E.s à partir de embriões obtiveram sucesso, sendo possível cultivá-las sem a dependência completa de um organismo doador. Tais conquistas possibilitaram e, possibilitam ainda hoje, cada vez mais estudos acerca de transplantes através da terapia celular, que consiste em um tratamento de reposição de células danificadas por acidentes ou condições genéticas, e do desenvolvimento de novos fármacos.
Um exemplo recente do uso das células-tronco na medicina experimental foi publicado em fevereiro de 2018 na revista científica Internacional Frontiers, e mostrou que foi possível transplantar e usar células-tronco provenientes do tecido adiposo (gordura) para a regeneração de células β (beta) do pâncreas, que são responsáveis pela produção de insulina, hormônio ausente em pacientes diabéticos com o tipo 1 da doença. Já era sabido que esse método de tratamento, que combina a quimioterapia e o transplante de células-tronco, permitia que diabéticos ficassem sem a injeção de insulina por até, aproximadamente, 10 anos. Entretanto, ainda não haviam sido realizadas as comparações da evolução dos indivíduos tratados por essa nova abordagem com os outros pacientes submetidos ao tratamento convencional.
“Os resultados do estudo variaram, mas foi demonstrado que dos 25 pacientes transplantados entre 2003 e 2011, 21 não precisavam mais injetar insulina por um período que variou de 6 meses a 11 anos. Inclusive, dois deles continuam até hoje sem precisar injetar o hormônio. Nesse período de oito anos, é claro que nenhum dos pacientes que fazem tratamento convencional deixou de tomar insulina diariamente. Mas a comparação que realmente nos chamou a atenção é que 25% dos pacientes que receberam o tratamento convencional tiveram sequelas que vão da cegueira à amputação, o que não ocorreu com nenhum dos pacientes que fizeram o transplante de células-tronco”, contou o endocrinologista Carlos Barra Couri, coordenador do estudo.” [Relato retirado do site Uol.Notícias]
Um problema dos tratamentos que usam terapias com células-tronco embrionárias é a rejeição dos pacientes em se submeterem ao tratamento por razões morais ou religiosas. Principalmente por ser uma área em avanço de estudo e com baixa divulgação para o público leigo, o conhecimento sobre as C.T.E.s ainda é muito restrito às universidades e aos pesquisadores e isso dificulta bastante o diálogo científico com quem tem pouca informação sobre o assunto. É mais fácil temer e rejeitar o desconhecido do que tentar compreendê-lo.
Os resultados que retornam de sites de pesquisa quando se busca “células-tronco embrionárias” expõem um panorama bastante alarmante sobre a incapacidade da divulgação científica em atingir, por muitas vezes, quem mais precisa da informação. Ao contrário da crença popular, não é necessário destruir embriões nem colocar fetos em situação de dor e agonia para a coleta dessas células. Hoje em dia, há bancos de cordões umbilicais que preservam esse material sem comprometer a capacidade em ceder C.T.E.s sadias e funcionais e que não prejudicam a saúde das mães e dos bebês doadores.Tratamentos com C.T.E.s são eficazes em quesitos que muitos tratamentos convencionais pecam, principalmente quando se trata de lesões na medula espinhal e em centros nervosos críticos no corpo humano. É imprescindível o avanço no estudo de células-tronco para que a as aplicações sejam cada vez mais seguras e surjam resultados melhores. Cabe à Academia e aos médicos saberem tratar e dirigir essa informação, de forma respeitosa e conscientizadora; mas também cabe à população estar aberta aos avanços nas Ciências Biológicas e na Medicina, pois essa soma de esforços tem papel fundamental em questões críticas como a saúde pública.
Por Thaís de Almeida Silva Ferreira e Amanda Fonseca Perestrelo
Referências:
Gonçalves, B. M. (2018). Impacto das vias intrapancreática, intravenosa e intra-capsular renal no transplante de células-tronco mesenquimais–regeneração morfofuncional do diabetes tipo I experimental. Dissertação de mestrado. Unesp. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/152810>.
Malmegrim, K. C., de Azevedo, J. T., Arruda, L., Abreu, J. R., Couri, C. E., de Oliveira, G. L., … & Dias, J. B. (2017). Immunological balance is associated with clinical outcome after autologous hematopoietic stem cell transplantation in type 1 diabetes. Frontiers in immunology, 8, 167.
Penaforte-Saboia, J. G., Montenegro Jr, R. M., Couri, C. E., Batista, L. A., Montenegro, A. P. D., Fernandes, V. O., … & Dias, J. B. (2017). Microvascular complications in type 1 diabetes: a comparative analysis of patients treated with autologous nonmyeloablative hematopoietic stem-cell transplantation and conventional medical therapy. Frontiers in endocrinology, 8, 331.
http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/sobreinca/site/oinstituto/perguntas-respostas-sobre-cordao-umbilical