Quem acompanha o blog, talvez lembre que em setembro de 2015 eu publiquei um texto falando um pouco sobre a depressão e o que se sabia, na época, sobre essa condição que acomete muitas pessoas. Hoje, aproveitando que estamos no setembro amarelo – mês de prevenção ao suicídio – eu trago novidades sobre o assunto: um novo estudo publicado neste ano revelou que pessoas que sofrem de depressão e não se tratam têm danos no cérebro que são comparáveis aos danos causados por doenças neurodegenerativas, como Alzheimer.

 

Antes de tudo, vale lembrar que a depressão é um sentimento de tristeza profundo, de melancolia e de angústia, no qual a pessoa não vê mais sentido em viver e perde a vontade de realizar qualquer tipo de atividade. De maneira simples, a depressão é uma desordem bioquímica no cérebro que culmina em sintomas físicos e comportamentais de tristeza profunda. E, diferente do que muitos falam: depressão não é frescura!

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a depressão é a mais importante causa de problemas de saúde e incapacidade mental em todo o mundo; mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão e esse número tende a aumentar se não forem tomadas iniciativas de prevenção e de tratamento adequado.

 

 

 

Fonte da imagem

 

Dito isso, o estudo que vamos entender hoje diz respeito ao que acontece com o cérebro de uma pessoa que sofre de depressão por muito tempo e não faz tratamento. Nesta pesquisa foram estudados pacientes de 18 a 75 anos, saudáveis ou que apresentavam quadro depressivo; os pacientes que tinham depressão precisavam tomar medicamento por pelo menos 4 anos ou não ter tomado nenhum medicamento nos últimos anos. A escolha dessas pessoas foi pensada para que se pudesse comparar o cérebro de uma pessoa saudável, o de uma pessoa depressiva que é medicada e, por fim, o de uma pessoa depressiva que não é medicada.

 

Analisando-se o tecido nervoso e as proteínas e enzimas do cérebro através de exame do tipo PET scan (que produz imagens), os pesquisadores conseguiram encontrar uma forte correlação entre pessoas depressivas que não se medicam há pelo menos 10 anos com a presença da ativação microglial. A ativação microglial é conhecidamente relacionada à inflamação do tecido nervoso do cérebro e, neste trabalho, foi possível verificar pela primeira vez que a depressão leva a uma mudança fisiológica no cérebro. Os cientistas já sabem que isso é o que ocorre também na doença de Parkinson – que afeta a coordenação motora – e na doença de Alzheimer – que leva os pacientes a terem problemas de memória e raciocínio.

 

A ativação da micróglia (um tipo de célula de defesa do sistema nervoso central) e de outras partes do tecido nervoso leva a uma cascata de eventos que provocam inflamação e danos no tecido cerebral. Como consequência, os anos sem tratamentos levam à degeneração no tecido cerebral e essas mudanças apontam a necessidade de novos medicamentos para o tratamento de casos depressão em estado avançado.

 

O que esse artigo nos deixa de lição? Primeiro, nos mostra o quanto a depressão precisa ser tratada como um assunto sério, pois leva a uma piora na qualidade de vida das pessoas. Segundo, saber que os danos da depressão podem levar à inflamação no tecido cerebral, aponta a necessidade da criação de novos medicamentos que possam tratar pacientes com depressão em estado mais avançado. Mais estudos devem mostrar quais outros tipos de mudanças que a depressão pode provocar no cérebro. Vamos torcer para que a ciência ajude a melhorar a vida das pessoas com depressão!

 

Até a próxima,

Por Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

 

Referências

[1] Medical Press. (2018). Over years, depression changes the brain, new study shows. Acessado de https://medicalxpress.com/news/2018-02-years-depression-brain.html em maio de 2018.

[2] Setiawan, E. (2018). Association of translocator protein total distribution volume with duration of untreated major depressive disorder: a cross-sectional study. The Lancet, 5(4) – p339-p347. Acessado de https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(18)30048-8/fulltext em maio de 2018.

[3] Organização Pan-Americana de Saúde (OMS). (2017).Com depressão no topo da lista de causas de problemas de saúde, OMS lança a campanha “Vamos conversar”, Acessado de   https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5385:com-depressao-no-topo-da-lista-de-causas-de-problemas-de-saude-oms-lanca-a-campanha-vamos-conversar&Itemid=839 em junho de 2018.

[4] Healthy Line (sem data). What is a PET scan. Acessado de https://www.healthline.com/health/pet-scan em junho de 2018.

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