É incrível como uma boa noite de sono pode ser gostosa e deixar a gente feliz, não é? E também é incrível que, além de nos deixar relaxados e contentes, o sono também tem uma função primordial na nossa vida: nos ajudar a lembrar das coisas!
Na verdade, o processo de formação de memórias é bem complexo. Nós sabemos que, quanto mais nós nos lembramos de uma informação, mais consolidada ela fica na nossa memória de longo prazo. Porém, não é tão simples assim: ao lembrarmo-nos de um fato, nós somos capazes de atualizar a nossa memória para integrar novas informações disponíveis no momento. E o que acontece se as novas informações forem erradas? Obviamente, nós vamos criar memórias distorcidas!
Quatro cientistas quiseram descobrir se dormir tem algum efeito na consolidação de memórias (tanto memórias originais, como memórias distorcidas). Eles pediram para 60 pessoas decorarem a localização de várias palavras na tela de um computador e, então, fizeram um primeiro teste para avaliar a precisão com que eles lembravam das localizações. Depois disso, metade das pessoas foram dormir e metade das pessoas ficaram acordadas por 1h30min. E aí, todos passaram de novo pelo mesmo teste de memória das localizações das palavras.
O que eles encontraram é que o grupo que dormiu se saiu melhor no segundo teste do que o grupo que ficou acordado. Além disso, o grupo que dormiu escolheu localizações das palavras mais próximas entre si no primeiro e no segundo teste – já o grupo acordado, nos testes, escolheu localizações um pouco mais distantes entre si.
Isso quer dizer que o sono ajudou a reforçar não só a memorização das localizações estudadas no início, como também as localizações relembradas no primeiro teste. Isso parece um pouco complicado? Então entender o processo que ocorre no nosso cérebro pode facilitar as coisas.
O que os pesquisadores explicam é que esses achados apoiam a seguinte teoria de como a nossa memória funciona: a cada vez que a gente se lembra de um fato, essa memória é codificada mais uma vez pelo nosso hipocampo (uma partezinha do cérebro) como um novo vestígio de informação. Então, o nosso cérebro integra a informação que já estava memorizada e a “nova”, que acaba de ser lembrada/codificada/criada. Se essa nova informação não é muito precisa e correta, sempre que nós retomamos essa memória, nós fazemos que ela fique cada vez mais imprecisa – pois vamos “atualizando” a memória com informações novas incorretas.
Voltando ao grupo que dormiu: o sono lhes ajudou a consolidar melhor a memória da primeira vez que decoraram as localizações, e também a preservar a memória que eles construíram no primeiro teste (ou seja, na primeira vez que precisaram recordar as informações).
Isso tudo mostra como a memória humana é complexa e interessante! E como ainda temos muita coisa a aprender. Mas, por enquanto, se você está tentando se lembrar de tudo isso que acabou de ler, tenho um conselho: vá dormir por algumas horinhas!
Thomaz Offrede
Referência
Cairney, S. A., Lindsay, S., Paller, K. A., & Gaskell, M. G. (2017). Sleep preserves original and distorted memory traces. Cortex, 99, pp. 39-44.
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