Estamos fechando o ano relembrando algumas das grandes descobertas e dos avanços científicos de 2019. Nesta semana, vamos discutir uma notícia que trouxe grande comoção, muita expectativa, mas também muitas dúvidas: uma nova terapia para tratamento de câncer!
Em outubro deste ano, uma equipe de médicos e pesquisadores brasileiros anunciaram o uso de uma terapia inovadora para tratar o câncer de um paciente em estado terminal. Esse é um dos tipos de imunoterapia chamada de Terapia do receptor de antígeno quimérico de células T (células T CAR) e envolve o uso do sistema imunológico do próprio paciente para combater a doença. Então, vamos entender como ela funciona e qual foi a grande inovação que os pesquisadores brasileiros desenvolveram.
O que é imunoterapia?
Imunoterapia é um conjunto de estratégias que ajudam o sistema imunológico do paciente a combater o câncer. Para isso, existem várias estratégias, vamos ver alguns exemplos. Em uma delas, é usada uma injeção anticorpos que se ligam a células de câncer. Essas células marcadas com anticorpos podem ser encontradas e destruídas pelos glóbulos brancos (algumas de nossas células de defesa). Outra estratégia é fazer um transplante de glóbulos brancos capazes de reconhecer e atacar tumores e essa é a estratégia usada no tratamento desenvolvido no Brasil.
Como é o tratamento com células T CAR?
A imunoterapia com células T CAR é um tratamento personalizado. Os glóbulos brancos chamados de linfócitos T são retirados do corpo do paciente com câncer e levados para um laboratório, onde serão modificados. Esses linfócitos T são geneticamente modificados para serem mais eficientes em encontrar células de câncer e induzir sua destruição. Essa modificação genética é que dá o nome à terapia, da sigla em inglês: Chimeric Antigen Receptor – CAR. Depois de modificados e testados, esses linfócitos são recolocados no corpo do paciente para encontrar e destruir as células de câncer. Em todo o mundo, estão sendo feitos testes clínicos e adaptações das técnicas para poder aplicar essa tecnologia contra vários tipos de tumores sólidos e de sangue.
Qual foi a contribuição dos pesquisadores brasileiros?
Uma equipe formada por pesquisadores e médicos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, no interior de São Paulo, fez adaptações da imunoterapia com células T CAR de forma a desenvolver uma tecnologia brasileira, a um custo mais baixo. Entre as adaptações, foram feitas mudanças no processo de modificação genética das células T.
Assim, em vez de pagar pela tecnologia estrangeira, que tem patente e é paga em dólares, teremos uma tecnologia nacional, desenvolvida com dinheiro público (financiada pela FAPESP e pelo CNPq), em uma instituição pública. A expectativa é diminuir o custo do tratamento de mais de 1 milhão e meio de reais (400 mil dólares) para aproximadamente 100 mil reais. Isso torna possível disponibilizar o tratamento no SUS.
Quais são as vantagens e desvantagens da imunoterapia?
Entre as principais vantagem da imunoterapia, podemos citar a eficácia contra alguns tipos de câncer que não são tratáveis com quimioterapia ou radioterapia, como foi o caso do brasileiro tratado as células T CAR e a rapidez do tratamento.
Entre as desvantagens, temos o alto custo e a possibilidade de efeitos adversos, como por exemplo, a resposta exagerada do sistema imunológico, levando a processos inflamatórios perigosos e até letais. Por isso, é importante que existam mais pesquisas nessa área.
Por que só ouvimos falar dessa terapia agora?
As primeiras pesquisas com o uso do sistema imunológico para combater tumores foram feitas da década de 1890 (sim, faz muito tempo!), mas os resultados ainda não podiam ser aplicados na prática clínica. O sistema imunológico é bastante complexo e delicado. Modificar seus processos podem trazer diversos efeitos colaterais, por isso, a pesquisa caminha lentamente e com muita cautela. Por muitas décadas, por falta de conhecimento básico e de tecnologia adequada, as pesquisas nessa área avançaram muito pouco. A pesquisa básica é muito importante por isso!
Mais de cem anos depois, em 1999, uma empresa finalmente investiu na produção de anticorpos para o tratamento de câncer. Finalmente, nos anos 2000 foram feitos testes clínicos e a imunoterapia começou a ser usada em pacientes nos hospitais. Com o avanço das tecnologias de edição de DNA e de manipulação de células, agora é possível fazer tratamentos personalizados e editar o DNA dos glóbulos brancos de forma mais precisa, rápida e segura, mas mesmo estando disponível, essa tecnologia ainda é pouco acessível. Um tratamento de imunoterapia pode custar de 100 mil a 500 mil dólares. Por isso, existem poucas instituições que realizam esse tipo de tratamento.
A pesquisa realizada no Brasil pela equipe no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP é um exemplo brilhante de como temos boa pesquisa sendo desenvolvida no Brasil e de que há perspectivas de termos cada vez mais opções para tratar os mais variados cânceres. Termino este texto, desejando a todos um 2020 mais otimista e com muitas descobertas científicas! Acompanhem nossas publicações e contem pra gente o que mais vocês querem saber.
Para saber mais sobre imunoterapia e a pesquisa brasileira com células T CAR, veja os links abaixo
Terapia brasileira com células T CAR
Imunoterapia
https://www.cancer.gov/about-cancer/treatment/types/immunotherapy
https://science.sciencemag.org/content/342/6165/1432
https://www.nature.com/articles/nature10673
Células T CAR
https://jhoonline.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13045-017-0423-1
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2329050116302029
por Patricia S. Sujii
Foto de capa: Victor Segura Ibarra and Rita Serda, Ph.D., National Cancer Institute, National Institutes of Health
Gostei do assunto de sua publicação, gostaria de ver se é pertinente de divulgar em meu site que é:
http://www.planosdesaudehdm.com.br
Sds.
Hermes Dagoberto