A adolescência é um período marcado por grandes transformações mentais e corporais, sendo que os casos de diminuição da autoestima e tristeza prolongada são mais frequentes. No Brasil, a depressão é a doença mais comum durante a adolescência. Nosso país está entre os que apresentam o maior número de casos da doença entre jovens de 12 a 18 anos, cerca de 12 %.

Esse é um dos motivos que leva ao estudo desse tema por diferentes grupos de pesquisa no Brasil. Dois deles, um liderado pelo o psiquiatra Pedro Pan, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o outro pelo neurocientista e estatístico João Ricardo Sato, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), buscam encontrar alterações no funcionamento cerebral, de crianças e adolescentes, que possam estar relacionadas à depressão antes que a doença se manifeste. Isso possibilitaria a realização de diagnóstico precoce em crianças e adolescentes, reduzindo o número de jovens que desenvolvem depressão.

Os pesquisadores acompanharam, durante três anos, 529 crianças e adolescentes brasileiros (255 de São Paulo e 274 de Porto Alegre) e coletaram imagens de exame cerebral, através de ressonância magnética. As análises dessas imagens permitiram verificar que o grupo de crianças ou adolescentes que apresentaram a região do cérebro relacionada à recompensa mais ativa, possuíam um risco 54% maior de receber o diagnóstico de depressão na avaliação psiquiátrica, quando comparado ao outro grupo de crianças e adolescentes. Os testes de imagens foram realizados três anos antes da avaliação psiquiátrica que revelou casos de depressão entre os jovens avaliados.

Os pesquisadores acreditam que a grande ativação na região cerebral relacionada à recompensa seja um sinal de que o cérebro não esteja conseguindo processar adequadamente tais estímulos. Novos estudos estão sendo realizados para validar os resultados observados que, se confirmados, podem dar origem a uma forma de detecção precoce da tendência à depressão – procedimento ainda não existente. Essa detecção precoce irá permitir a realização de tratamentos com a finalidade de reduzir a ocorrência da doença, como é o caso de psicoterapias específicas já existentes para o tratamento da depressão em adolescentes.

Por Jaqueline Almeida

Referencias

PAN, P. et al. Ventral striatum functional connectivity as a predictor of adolescent depressive disorder in a longitudinal community-based sample. American Journal of Psychiatry. v.174 (11): 1112-19. Nov. 2017. (https://ajp.psychiatryonline.org/doi/abs/10.1176/appi.ajp.2017.17040430)

Zorzetto, R. Depressão em adolescentes. Pesquisa Fapesp. Ed. 264, fev. 2018. (http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/02/12/depressao-em-adolescente/)

One Reply to “Detecção precoce de tendência à depressão”

  1. Que interessante! Enquanto eu lia sobre a recompensa fiquei pensando (mas sob a perspectiva de um adulto, e não de criança ou adolescente) que várias tradições espirituais/culturais recomendam que não devemos nutrir expectativas. Ou seja, se conseguimos fazer as coisas que achamos certo por nós mesmos, sem esperar qualquer tipo de recompensa (reconhecimento, etc), a possibilidade de frustração é menor. Claro que o cenário deve ser mais complexo do que isso, envolvendo várias interações organismo/ambiente, e por isso mesmo o texto me estimulou a ler mais sobre essa pesquisa. Parabenizo a equipe pela divulgação.

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