Você já se perguntou de onde viemos? Ou como os humanos colonizaram cada continente? Ou como se formaram as diferentes etnias? A história evolutiva humana é objeto de discussão e pesquisa há milhares de anos. Filósofos da Grécia antiga já se questionavam sobre nossa origem. Pesquisadores das mais diversas áreas de estudo (biologia, geografia, química, antropologia, linguística, etc…) buscam entender como, onde e quando nossa espécie surgiu e como nos espalhamos pelo mundo. O desenvolvimento de tecnologias que permitem ler o genoma rapidamente a um custo razoável somado às pesquisas arqueológicas, antropológicas e sobre mecanismos evolutivos podem nos ajudar a responder a perguntas como essas.

 

Fonte: National Geographic

Um projeto iniciado em 2005, conhecido como “The Geographic Project”, tem o objetivo de entender onde os humanos se originaram e como se espalharam pelo mundo. O projeto reúne um grande grupo de pesquisadores de diversos países (Veja mais aqui) que usam técnicas modernas de análise genética para mapear as diferenças entre as sequências de DNA de populações indígenas de cada região do mundo. Além disso, qualquer pessoa pode ser um voluntário, ter seu DNA sequenciado e participar do projeto, basta comprar o kit de coleta [1].

O projeto tem gerado resultados que nos contam um pouco da nossa história. Estudos anteriores genéticos e arqueológicos mostram evidências de que o Oriente Médio e a península Arábica tenham sido os primeiros locais ocupados pelos humanos fora da África, mas pouco se sabia a respeito de como essas populações têm se organizado nos últimos milênios. Um estudo do DNA de populações nativas da área de Levante, no Oriente Médio, mostrou que as pessoas podem ser organizadas em três grupos, que coincidem com as principais filiações religiosas (cristãos, muçulmanos e drusos). Por outro lado, não é possível agrupar essas pessoas pela sua origem geográfica, o que mostra um importante componente cultural para formação das famílias na região [3].

Um outro estudo, realizado com grupos nativos do sudeste asiático, indicou que as populações se instalaram na região há aproximadamente 19 mil anos. Na época das migrações, o clima na região era mais frio do que atualmente e o relevo formava grandes barreiras, o que permitia que apenas pequenos grupos conseguissem migrar. A conclusão do estudo foi que o isolamento e o tamanho restrito dos grupos de pessoas foram os responsáveis pela diversificação étnica na região [3].

Na América do Sul, pesquisadores compararam os Uros (populações nativas dos Andes, encontradas na Bolívia e no Peru) com outras populações dos andinas (Aymara and Quechua). Antropólogos e linguistas já consideraram os Uros como um grupo étnico separado dos Aymara e Quechua, por apresentarem diferentes tradições, hábitos e línguas. Resultados dos estudos genéticos confirmaram que os Uros têm uma origem diferente das demais populações andinas e os grupos foram formados tanto por isolamento geográfico como por diferenças culturais [4].

Esses estudos mostram um pouco da complexidade da história das migrações de grupos de humanos pelo planeta, mas ainda há muito o que se estudar sobre esse assunto, por isso o projeto ainda está em andamento. Os pesquisadores continuam a buscar outros grupos nativos e voluntários continuam a mandar suas amostras de DNA. Você pode encontrar mais informações sobre o projeto, material didático e novas descobertas na página: www.genographic.nationalgeographic.com

por Patricia S. Sujii
sujiips@gmail.com

Referências

Projeto Genographic: https://genographic.nationalgeographic.com/

[1] Behar, D. M., Rosset, S., Blue-Smith, J., Balanovsky, O., Tzur, S., Comas, D., … & Genographic Consortium. (2007). The Genographic Project public participation mitochondrial DNA database. PLoS Genetics, 3(6), e104.

[2] Haber, M., Gauguier, D., Youhanna, S., Patterson, N., Moorjani, P., Botigué, L. R., … & Zalloua, P. A. (2013). Genome-wide diversity in the levant reveals recent structuring by culture. PLoS genetics, 9(2), e1003316.

[3] Cai, X., Qin, Z., Wen, B., Xu, S., Wang, Y., Lu, Y., … & Genographic Consortium. (2011). Human migration through bottlenecks from Southeast Asia into East Asia during Last Glacial Maximum revealed by Y chromosomes. PLoS One, 6(8), e24282.

[4] Sandoval, J. R., Lacerda, D. R., Jota, M. S., Salazar-Granara, A., Vieira, P. P. R., Acosta, O., … & Genographic Project Consortium. (2013). The genetic history of indigenous populations of the Peruvian and Bolivian Altiplano: the legacy of the Uros. PloS one, 8(9), e73006.

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