Olá! 

Meu nome é Patricia Sujii e este é o “Quem nunca? – histórias que a gente vive, mas os artigos não contam”, uma série de crônicas do Ciência Informativa.

O Ciência Informativa foi criado para ser uma conexão entre o que acontece dentro e fora dos muros das universidades e dos centros de pesquisa. Queremos unir as curiosidades das pessoas com as descobertas incríveis dos cientistas. Também queremos mostrar como a ciência está no nosso cotidiano, crescendo e se metendo nas nossas rotinas, mesmo que às vezes a gente não perceba. 

Por isso, agora, além dos nossos textos do blog sobre descobertas científicas, também queremos trazer crônicas. Isso mesmo, não queremos histórias complexas, nem relatos densos. São causos, daqueles que a gente conta pros amigos, de forma descontraída, que podem ser engraçadas, assustadoras, românticas,… enfim, que sempre provocam emoções em quem escuta. 

Alguns dos nossos causos vão mostrar os bastidores da pesquisa, o dia a dia de um laboratório, aventura de dias de campo,… mas também teremos alegrias, frustrações e inseguranças de quem faz pesquisa. E vamos além, também queremos saber de você, que não é cientista, mas que viveu alguma emoção por causa da ciência. Queremos ouvir causos em que a ciência é pano de fundo pra alguma experiência humana. 

Este conteúdo pode ser ouvido no formato de podcast ou pode ser lido. Tentamos transferir os relatos para o formato escrito da forma mais fiel possível. Vocês vão perceber que no meio do texto temos algumas descrições do tom de voz, das pausas e de emoções que a voz é capaz de transmitir. Queremos que quem não é capaz de ouvir um podcast também possa ter acesso aos nossos causos. Mas esse é um desafio novo pra gente. Então, se puderem nos enviar mensagens contando o que estão achando e sugestões de como podemos melhorar, agradecemos com aquele calorzinho no coração.   

Ouça todo os episódios: https://anchor.fm/ciencia-informativa

Quem nunca teve um dia ruim (ou vários) e foi chorar as pitangas com os amigos no bar? Pois bem, eu sou uma dessas pessoas, mas naquele dia, reclamar da vida no bar me fez ir parar no Canadá! Olha só como ter uma boa rede de apoio pode levar a gente longe (literalmente)! 

Em 2013, eu morava em Piracicaba, interior de São Paulo, e tava no meio do meu doutorado em genética e biologia molecular na Unicamp. Meu eu de 17 anos de idade estaria muito orgulhosa! Até algumas semanas antes, eu tava muito feliz de poder passar os meus dias no laboratório, misturando umas aguinhas transparentes, com muita fé que ali tinha DNA e com mais fé ainda que dali alguns anos eu ia poder usar os meus dados pra ajudar a planejar melhor formas de recuperar a Mata Atlântica. 

Mas era um doutorado, né? Não podia dar tudo certo de primeira… naquele fim de junho, eu já estava repetindo a mesma etapa do projeto há semanas e tava dando tudo errado… de novo! Juntou o cansaço do fim de semestre, com essa ziquizira toda e eu já não tinha mais nem energia pra ter ideias ruins. Então, só dava pra ter ideia boa, né? Tipo… ir pro bar [tom irônico]. Dessa vez, essa foi mesmo a melhor ideia que eu podia ter [animada]. Encontrei alguns amigos com quem fiz o mestrado e que eu não via há uns meses no famoso bar da coxinha em Barão Geraldo em Campinas. Lá, encontrei tudo o que eu precisava, a melhor coxinha da cidade e uns bons amigos dispostos a me ouvir reclamando da vida. Depois de contar que tava dando tudo errado de novo e que eu já tava achando que eu não ia nem conseguir defender o doutorado (tá, eu tava exagerando, mas o medo era real), o Micael disse rindo “Ah, se não consegue os dados, simula![animado]” como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Todo mundo riu, achando que era piada (talvez até fosse), mas no meu desespero pra ter dados pra terminar o doutorado, eu perguntei “E como que é isso?”. Aí, ele começou a me explicar que ele tava trabalhando com modelagem e que era possível escrever um programa no computador pra fazer simulação de cenários pra analisar situações complexas. E que eu podia fazer isso, nem era muito difícil e, o melhor, que o orientador dele daria aula disso no semestre seguinte. Eu levei a piada a sério e acreditei na história que era simples. Enfiei na cabeça que era aquilo que eu queria. 

Então, cursei a disciplina, escrevi um projeto paralelo pro meu doutorado e encontrei um pesquisador no Canadá que trabalhava com essas coisas, arrumei financiamento e achei que tava pronta pra viajar. Até que eu descobri que essa história de que todo canadense é bilíngue é mentira. Então, além de aprender a programar em R, eu tinha 8 meses pra aprender francês [rindo de nervoso]. Fui atrás de aulas de francês enquanto pensava: “Mas que ideia de jerico!”. A essa altura, meus experimentos no laboratório já tavam dando certo e eu até já tinha os meus dados. Pra que inventar um segundo projeto?!

Mas tudo bem, o projeto já tava escrito, eu já tinha arranjado o dinheiro, então bora, né?! Aprendi o básico de francês parti pro Canadá. Resumindo os 9 meses que eu passei lá, modelagem não é simples, mas é bem legal, aprendi um mundo de coisas num laboratório cheio de gente incrível e morar em Montreal foi uma das melhores experiências da minha vida, tanto do lado acadêmico como em aspectos culturais e, claro, fiz mais alguns bons amigos. 

E tudo isso começou numa noite com cerveja, coxinha, amigos e um pouco de reclamação. Talvez nenhuma das pessoas que tavam no bar naquele dia nem lembre dessa noite e provavelmente ninguém tenha nem ideia de que aquele momento foi importante pra mim. E sinceramente, essa é a beleza daquele dia. Foi só mais um dia normal com essa minha rede de suporte maravilhosa. 

E quem nunca foi chorar as pitangas no bar e acabou tirando alguma coisa boa disso?

Esse foi nosso primeiro causo do “Quem nunca? – histórias que a gente vive, mas os artigos não contam”. Gostou da proposta? Siga a gente no Spotify, assine no apple podcasts, se inscreva no Google podcast ou favorite no Deezer pra não perder nenhum episódio. Aproveita e compartilha com alguém que ainda não conhece a gente! 

Se você quer contar seu causo aqui ou quer indicar alguém que tenha um causo pra contar, entra em contato com a gente por e-mail (cienciainformativa@gmail.com) ou pelas nossas redes sociais.

Obrigada por nos ouvir ou nos ler e até a próxima!

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