Nas últimas semanas, você deve ter ouvido ou lido a palavra pandemia muitas vezes associada a um vírus, como o coronavírus e o influenza. Será que existe mesmo um risco de pandemia? Será que algum desses vírus é mesmo motivo de preocupação? Essas perguntas geram medo e as informações disseminadas pelas redes sociais podem gerar mais confusão do que benefícios. No texto desta semana, vou discutir alguns dos conhecimentos sobre pandemias que acumulamos nos últimos anos e as perspectivas para o futuro próximo. Espero poder ajudar vocês a entenderem melhor os termos técnicos que têm aparecido na mídia e dar mais autonomia para ter uma visão mais crítica dos acontecimentos recentes.

 

O que é uma pandemia?

Esse termo é utilizado para indicar a presença em uma escala global de um determinado agente causador de doenças (como um vírus), o que gera um grande impacto na saúde das populações e na economia dos países. Recentemente, dois vírus têm chamado a atenção da comunidade científica como candidatos para gerar uma pandemia: um tipo novo de influenza A e um tipo de coronavírus (nCoV-2019). Os dois causam infecções respiratórias, com sintomas de gripe, mas são diferentes dos vírus mais comuns, que já estão circulando no mundo e que causam as viroses sazonais (normalmente mais comuns no inverno). Esses dois têm um impacto mais grave na saúde, porque ambos podem ser transmitidos facilmente e não temos defesas naturais nem vacinas contra eles.

 

O que podemos aprender com as últimas pandemias de influenza?

Existem registros de quatro pandemias de influenza, sendo a primeira registrada em 1918, em que aproximadamente 50 milhões de pessoas (~3% da população mundial) morreram. Desde então, houveram mais três, em 1957, 1968 e 2009. Os vírus que causaram essas últimas três pandemias têm misturas de genes de vírus humanos com genes de vírus de outros animais. A partir dos estudos desses vírus, os cientistas compreenderam que o vírus precisa agregar as capacidades de ser transmitido facilmente entre pessoas e de gerar sintomas graves que levem ao óbito para causar uma pandemia.

 

A pandemia de Influenza de 2009 foi a primeira do século XXI, teve início no México e foi inicialmente chamada de gripe suína. O vírus responsável foi um H1N1 do tipo A que continha diversas diferenças na sua estrutura, então, a denominação da doença passou a ser gripe A. Essas diferenças nos genes foram resultado de trocas de pedaços de DNA com outros subtipos de vírus. Esse fenômeno de trocas ocorre naturalmente e é intensificado quando vírus de diferentes espécies se encontram em um mesmo organismo. Isso tem um alto potencial de ocorrer em animais de criadouros, como galinhas e porcos. Para saber mais sobre a classificação desses vírus, veja texto no final da matéria.

 

Uma grande parcela das pessoas afetadas por esse vírus eram jovens, possivelmente, porque pessoas mais velhas já tinham sido infectadas por outros tipos de H1N1 ou vacinadas, portanto tinham um sistema imunológico mais treinado para combater o novo vírus. Alguns estudos indicam que um outro fator importante para o grande impacto da gripe A de 2009 foi a disseminação de uma notícia falsa. Algumas pessoas espalharam a informação de que essa era uma falsa pandemia criada para vender vacinas e isso se espalhou nas redes sociais. Esse fenômeno gerou a desconfiança de pessoas que decidiram não se vacinar e não vacinar seus filhos, o que pode ter facilitado a disseminação do vírus.

 

Existem diversos grupos de cientistas buscando prever a próxima pandemia e propor maneiras de evitar que ela aconteça. Para isso, eles estudam o material genético dos vários vírus influenza que infectam diversos animais, as formas de transmissão dos diferentes vírus, fatores ambientais e sociais que facilitam sua disseminação, desenvolvem vacinas e programas computacionais que analisam cenários futuros. Ainda existem muitas lacunas no conhecimento, por isso, ainda é necessário muito investimento até conseguirmos efetivamente prever pandemias futuras.

 

Neste momento, estamos apreensivos, acompanhando a disseminação de vírus influenza e do novo coronavírus (nCoV-2019) pelo planeta. Ainda não temos uma pandemia e não é necessário pânico. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) acompanha a disseminação de vírus sazonais e de outros com potencial de causar problemas à saúde global há mais de 70 anos em uma colaboração global para poder responder de forma eficiente às emergências de saúde pública.

 

Uma importante lição a aprender da pandemia de 2009 é a que fake news podem ser  muito perigosas para saúde pública. Por isso, se informem em fontes confiáveis e chequem informações antes de espalhá-las pelas redes sociais.

 

Os tipos de Influenza

Existem quatro tipos de vírus Influenza (A, B, C e D). Os tipos A e B são responsáveis pelas epidemias sazonais, que ocorrem em todo inverno. O tipo C causa infecções leves de gripe em humanos e o tipo D só infecta animais.
Os vírus Influenza que são capazes de causar pandemias são subtipo especiais do tipo A, como foi o vírus H1N1 que causou uma pandemia de gripe em 2009. 

 

por Patricia S. Sujii

 

Para saber mais:

Monto, A. S., & Fukuda, K. (2019). Lessons from Influenza Pandemics of the last 100 Years. Clinical Infectious Diseases.

Neumann, G., & Kawaoka, Y. (2019). Predicting the next influenza pandemics. The Journal of infectious diseases, 219(Supplement_1), S14-S20.

Tyrrell, C. S., Allen, J. L. Y., & Carson, G. (2017). Influenza and other emerging respiratory viruses. Medicine, 45(12), 781-787.

Zambon, M. (2014). Influenza and other emerging respiratory viruses. Medicine, 42(1), 45-51.

https://www.cdc.gov/flu/about/viruses/types.htm

https://www.cdc.gov/flu/resource-center/freeresources/graphics/seasonal-vs-pandemic-flu-infographic.htm

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