O Outubro Rosa é um mês dedicado à prevenção e ao tratamento do câncer de mama. Nele, são abordados os aspectos que relacionam a alimentação, os hábitos de atividade física e os fatores genéticos com o surgimento e a agressividade do câncer de mama. Um novo estudo do Instituto de Pesquisa sobre o Câncer (Cambridge, Inglaterra), publicado na Nature, traz novas perspectivas ao tratamento do câncer de mama ao relacionar alimentação com metástase. Vem conferir!

 

Antes de tudo vale relembrar que metástase é quando as células de um tumor primário saem deste, se deslocam pela corrente sanguínea e, sobrevivendo, se espalham para outros órgãos e tecidos, colonizando-os e formando os tumores secundários. No caso do câncer de mama é comum ocorrer metástase nos pulmões, ossos e fígado. A maioria das mulheres diagnosticadas com câncer de mama morrem de tumores secundários, ou seja, que surgiram pela metástase do tumor primário localizado nas mamas.

 

Outro ponto importante de se ressaltar é que a maior parte das pessoas entende que a alimentação pode ser um fator determinante para que uma pessoa tenha ou não câncer. No entanto, muitos estudos recentes mostram que a alimentação também é crucial no desenvolvimento da doença e, portanto, na sua agressividade. Dessa forma podemos dizer que a alimentação pode ter relação com a metástase do câncer de mama.

 

Alimentação e metástase

A pesquisa que nos referimos no início do texto focou justamente na relação da alimentação com a metástase. Publicada no início deste ano ela mostrou que em ratos de laboratório a quantidade de asparagina ingerida pela dieta ou produzida pelo corpo tem relação com a progressão e espalhamento do tumor das mamas para outras partes do corpo. A asparagina é um aminoácido naturalmente produzido no nosso organismo e também encontrado em alimentos como aspargos (daí o seu nome), leite, ovos, carnes, batatas, nozes e frutos do mar. Dentre outras coisas ela é muito importante para o desenvolvimento do cérebro.

 

Pesquisas anteriores mostravam que um aumento na atividade da enzima asparagina sintetase, que a célula usa para produzir asparagina, era comum em tumores que posteriormente se espalhavam e colonizavam outros lugares. Sabendo disso, os cientistas focaram em regular a quantidade de asparagina em ratos com câncer de mama e comparar a progressão da doença nos diferentes casos.

 

A pesquisa

Os pesquisadores fizeram dois tipos de tratamentos, o primeiro focou na expressão do gene que regula a produção de asparagina. Em um grupo de ratos com câncer foi aumentada a expressão da enzima asparagina sintetase e em outro grupo o gene que codifica para essa enzima foi silenciado (ou seja, não produzia mais asparagina). O resultado deste primeiro teste mostrou que ratos do primeiro grupo (atividade da enzima aumentada) tiveram maior número de células tumorais de metástases a longo prazo quando comparados aos ratinhos que tiveram o gene silenciado.

 

O outro tratamento focou em mudar a dieta dos ratinhos: ratos que tiveram alimentação privada de asparagina tiveram menor número de células metastáticas quando comparados àqueles que tiveram aumento na quantidade de asparagina disponível na dieta. Na verdade, além de terem mais focos de metástase, os ratos do grupo que tinham asparagina disponível também tiveram posteriormente aumento no tamanho dos tumores secundários. Assim, com base nestes resultados, limitando-se a quantidade de asparagina na dieta de uma pessoa com câncer de mama, pode-se ter efeito no aparecimento de metástases. Isso mostra como a alimentação é um fator muito importante para diminuir a progressão do câncer, assim como os tratamentos de quimio e radioterapia.

 

Mas, como todo câncer é algo complexo e multifatorial, a relação com a asparagina também é. Em alguns casos sabe-se que ela é benéfica no combate à doença, como no caso de leucemias. Desta forma, o resultado do estudo, apesar de surpreendente e animador, não pode ser extrapolado para todos os tipos de câncer, inclusive considerando os cânceres de mama que possuem tipos diferentes.

 

O que os pesquisadores ainda precisam entender é como a asparagina interfere na metástase. Uma hipótese é que esse aminoácido, sabidamente relacionada ao metabolismo celular, possa afetar a transição das células tumorais do tumor primário para os novos lugares a serem colonizados. Apesar de o estudo ter sido realizado em ratos, novas pesquisas serão feitas em humanos, a fim de se entender como a relação asparagina X metástase funciona na nossa espécie.

 

O câncer de mama é agressivo, atinge cerca de 1 em cada 8 mulheres no mundo, e cientistas do mundo todo buscam maneiras de tratá-lo e de melhorar a vida de pacientes e sobreviventes da doença. Mas a chave continua sendo o diagnóstico. Feito precoce, no começo da doença, o câncer é curável e menos agressivo. Por isso, é muito importante o autoexame das mamas. Prevenir continua sendo o melhor remédio.

Até a próxima

Por Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

 

Referências

[1] American Cancer Society. (sem data). What’s New in Breast Cancer Research? Acessado de https://www.cancer.org/cancer/breast-cancer/about/whats-new-in-breast-cancer-research.html em agosto de 2018.

[2] Science Daily. (2018).Diet may influence the spread of a deadly type of breast cancer, study finds. Acessado de  https://www.sciencedaily.com/releases/2018/02/180207140401.htm em agosto de 2018

[3] Moutinho, S. (2018). SUBSTÂNCIA ENCONTRADA EM VÁRIOS ALIMENTOS É ASSOCIADA À METÁSTASE. Acessado de http://revistaonco.com.br/asparagina-encontrada-em-varios-alimentos-e-associada-metastase/ em agosto de 2018

[4] Knott, S. R. V. et al. (2018). Asparagine bioavailability governs metastasis in a
model of breast cancer. Nature: 554, 378 – 404.

[6] Figura do câncer de mama: https://indianexpress.com/article/lifestyle/health/70-per-cent-breast-cancer-patients-dont-need-chemo-study/

[7] Imagem em destaque (aspargo): http://expresso.sapo.pt/sociedade/2018-02-08-O-que-comemos-pode-influenciar-a-forma-como-o-cancro-se-espalha–ou-nao-espalha-#gs.ti9FPa8

 

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