Você já comeu alguma comida que o fez passar mal e depois de um tempo não conseguiu mais comer esse alimento? Pois então, saiba que esse comportamento é normal, não é restrito aos seres humanos e, mais importante, tem suas vantagens evolutivas. Leia mais no texto dessa semana sobre a memória alimentar e sobre um dos sentidos mais importantes do corpo: o paladar.

Primeiramente temos que entender que o paladar é um sentido muito importante e que os gostos que sentimos são relacionados às propriedades dos alimentos e indiretamente aos seus efeitos: comidas doces são ricas em açúcar e calorias, que são necessárias ao nosso metabolismo; o sal presente nas comidas salgadas é essencial ao balanço hídrico do nosso corpo; já o azedo e o amargo, às vezes, são evitados pois podem ser sinal da presença de compostos tóxicos. Cada tipo de sabor é sentido por um receptor específico em nosso corpo que pode ficar na língua, no fundo da boca, faringe, etc.

O paladar, assim como a olfação, é uma sensação originada por um estímulo químico e é muito importante para a escolha dos alimentos pelos animais: a comida deve ser aquela que além de ter sabor agradável não provoca mal-estar após a ingestão e é esse fato que se relaciona à aversão de alguns alimentos.

Quando nos deparamos com um novo alimento – e esse é o comportamento dos outros animais também – o instinto é se alimentar em pequenas quantidades e assim verificar primeiramente o gosto da comida; esse receio de se alimentar de algo novo é chamado neofobia alimentar. Depois, passado o tempo da digestão, se o novo alimento não provocou nenhum mal-estar (como vômitos ou diarreia) ele passa a ser familiar, já que, além de ser palatável, não provoca mal. Nesse momento se forma um tipo de memória alimentar.

Fonte da imagem: https://www.pinterest.com/arktherapeutic/food-texture-aversions/

Porém, quando um alimento ingerido provoca mal-estar – podendo ser um alimento novo ou não – desenvolvemos o que se chama aversão condicionada pelo gosto (ACG) que é um outro tipo de memória alimentar. A ACG ocorre quanto associamos uma comida/gosto a alguns sintomas ruins. Os sintomas podem nem ser realmente causados pela comida que você criou a aversão, porém, a associação é feita e você provavelmente não conseguirá comer o mesmo alimento por algum tempo – dias ou anos.

O mais interessante é que a ACG é um mecanismo evolutivo – ligado à gustação e à memória – que faz com que evitemos ingerir algo que possa nos fazer mal, ou seja, ele previne envenenamentos futuros com base em experiências prévias.

Vários experimentos que demonstram a memória alimentar e a ACG já foram feitos; um desses foi realizado com raposas. Os cientistas deram às raposas uma carne muito saborosa, porém com uma substância (sem odor ou sabor) que causa um leve mal-estar após um tempo da ingestão.  Quando a mesma carne – porém sem a substância – foi novamente oferecida, as raposas recusaram a oferta. Isso ocorreu pois elas associaram a comida ao mal-estar que tiveram posteriormente.

Claramente a ACG protegeu nossos ancestrais de sofrerem envenenamento e passarem mal com alimentos que sabidamente não eram bons; essa memória trouxe vantagens adaptativas e assim foi importante para a sobrevivência. Esse mecanismo  manteve-se desde nossos ancestrais, ou seja, ainda nos comportamos da mesma maneira com relação aos alimentos e por isso muitas vezes evitamos alguma comida que já nos fez mal!

E você já tinha percebido isso? Já teve aversão por alguma comida que lhe fez mal alguma vez?

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Até a próxima!

Por Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

Referências

[1] Bures, J.; Bermudez-Rattoni, F.; Yamamoto, T. (1998). Conditioned taste aversion: memory of a special kind. Oxford Scholarship Online. Acessado de http://www.oxfordscholarship.com/view/10.1093/acprof:oso/9780198523475.001.0001/acprof-9780198523475-chapter-1.

[2] Miranda, M. I.; Ferreira, G.; Ramírez-Lugo, L.; Bermúdez-Rattoni, F. 2003. Role of Cholinergic System on the Construction of Memories: Taste Memory Encoding. Neurobiology of Learning and Memory. 80: 211-222.

[3] Cherry, K. 2016. What is a taste aversion. Disponível em: https://www.verywell.com/what-is-a-taste-aversion-2794991. Acessado em novembro de 2016.

[4] Imagem do texto: https://www.pinterest.com/arktherapeutic/food-texture-aversions/

[5] Imagem em destaque: https://tracyhighpsych.wikispaces.com/file/view/Barfing%2520Kid%5B1%5D.jpg/98070057/176×281/Barfing%2520Kid%5B1%5D.jpg

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