Fungos são organismos que são encontrados em diversas partes do mundo. E, assim como os animais e plantas, ele pode ter um ciclo de vida sexuado. No entanto, os ciclos sexuados e assexuados dos fungos podem ser muito complexos e a sua compreensão ser um verdadeiro desafio para os cientistas.

Mas por que é importante estudar os ciclos de vida dos fungos?

A produção florestal, que envolve o plantio de árvores para obtenção de papel e madeira, tem tido problemas com a redução na produtividade de Eucalipto devido a uma doença chamada ferrugem das mirtáceas, que é causada por um fungo Austropuccinia psidii.

Esse fungo também causa doenças em outras plantas bem conhecidas, como o jambo e a goiabeira. Assim, entender o ciclo de vida da A. psidii, ou seja, como ele cresce, se reproduz e infecta outras plantas, está no foco de interesse dos pesquisadores. Isso porque o entendimento desse sistema pode ajudar na busca de soluções mais sustentáveis para o controle da doença.

Como A. psidii cresce e se reproduz nas plantas?

Normalmente, o fungo da ferrugem das mirtáceas se reproduz através da mitose, ou seja, através da divisão de uma célula que dará origem a duas células idênticas. Isso é o que acontece quando o fungo está nas folhas da planta e gera os sintomas da doença.

Mas em determinadas condições, o fungo lança mão de mecanismos para aumentar sua variabilidade genética, e isso ocorre através do ciclo sexuado, ou meiótico. No ciclo sexuado, o fungo pode aumentar o seu arsenal genético de mecanismos de infecção das plantas. Com isso, ele pode se tornar um patógeno mais perigoso.

E o que os cientistas sabem sobre o ciclo da A. psidii?

Pesquisadores encontraram evidências que A. psidii desenvolve-se por ciclos mitótico e meiótico em jambo. Mas, em relação ao eucalipto, não foram encontradas evidências concretas do ciclo meiótico, ou seja, do ciclo sexuado.

Como a planta de eucalipto tem importância econômica muito grande, é importante saber se há ou não o ciclo sexuado desse fungo nessa planta. Isso porque o ciclo sexuado está relacionado com variabilidade genética e esta, como já falamos, pode gerar fungos mais perigosos para as plantas. De uma forma geral, o ciclo sexuado está relacionado com o grau de agressividade da doença.

Legenda: Ciclo de vida do fungo Austropuccinia psidii em mirtáceas. A partir de uma folha infectada com o fungo, podem ocorrer dois processos: setas cinza – ciclo assexuado, ou seja, a divisão de uma célula que dará origem a duas células idênticas, que podem voltar a infectar a mesma planta, e servem de dispersão da doença para novas plantas; setas pretas – ciclo sexuado, ou seja, processo que aumenta a variabilidade genética do fungo, onde duas células diferentes juntam-se e dão origem a quatro células diferentes das células iniciais, que também podem voltar a infectar novas plantas (Fonte ícones: https://thenounproject.com).

 

Como os pesquisadores aplicam esse conhecimento na produção florestal?

Para um controle eficiente de doenças de plantas, visando evitar perdas na produção, é essencial conhecer os mecanismos de interação entre o fungo patogênico, a planta e o ambiente em que eles estão. Por isso, as pesquisas nessa área são tão importantes e visam ampliar o conhecimento sobre essa complexa relação.

Como você deve imaginar, essa não é uma relação simples, entre planta x patógeno x ambiente. O fungo A. psidii é superespecializado em infectar eucalipto – ele pode não matar a planta, mas danifica muito o crescimento e desenvolvimento da mesma. Por isso, os pesquisadores vão a fundo para entender os detalhes que estão envolvidos nessa relação.

 

Maria Letícia Bonatelli e Jéssica Ferrarezi

mlbonatelli@gmail.com e jessica.ferrarezi@usp.br

2 Replies to “Eu, cientista em Desvendando os mistérios do sexo do fungo”

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