Escolhi esse tema para o texto de hoje pois percebi que é muito recorrente em nosso cotidiano termos um amigo, conhecido ou alguém da família que sofre de depressão. Antigamente, a depressão era vista como sinônimo de “frescura” ou de “carência”, os médicos tinham muitas dificuldades em diagnosticar esse transtorno e existiam poucos remédios ou tratamentos que fossem eficientes para trazer mais bem-estar para essas pessoas. Hoje sabemos o quanto a depressão é grave e que pode trazer muitos prejuízos para quem sofre dela. Nesse texto vamos entender o que dizem as pesquisas mais atuais sobre a depressão, principalmente sobre o papel da genética e dos fatores ambientais no desenvolvimento da doença.

Mas antes de tudo, o que é a depressão? A depressão é um sentimento de tristeza profunda, de melancolia e de angústia, no qual a pessoa não vê mais sentido em viver e perde a vontade de realizar qualquer tipo de atividade. O sentimento de tristeza em si é natural, temos momentos de alegria e outros nem tão bons em nossa vida, porém a depressão é uma doença que tende a se agravar e piorar com o tempo se não for tratada e, infelizmente, em alguns casos pode terminar em suicídio. De maneira simples, a depressão é uma desordem bioquímica no cérebro que culmina em sintomas físicos e comportamentais de tristeza profunda. A Organização Mundial da Saúde – OMS estima que, no ano passado, mais de 350 milhões de pessoas foram acometidas pela depressão, 5 milhões só no Brasil. Segundo a mesma fonte, cerca de 5% dos homens e 9% das mulheres irão sentir depressão em algum período de sua vida.

Fonte: http://www.medosefobias.com.br/wp-content/uploads/2015/12/depress%C3%A3o-960.jpg
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Se antigamente as pessoas tinham dificuldade até em serem corretamente diagnosticadas pelos médicos, hoje já sabemos muito mais sobre os fatores que levam à desordem bioquímica no cérebro, e entre esses fatores, os genéticos e ambientais têm um papel muito importante. Algumas pesquisas apontam regiões cromossômicas que abrigariam alelos relacionados à depressão, como as presentes nos cromossomos 1, 12, 13, 8 e 17, porém não existe até hoje um marcador “universal” para o transtorno. Sabe-se também que a depressão é uma doença herdada geneticamente, principalmente em se tratando de parentes de primeiro grau.

Um dos genes importantes relacionados à depressão é o que codifica um transportador do neurotransmissor serotonina. A serotonina é relacionada, entre outros aspectos, à regulação do sono, às vias sensoriais, à disposição física e psíquica e ao humor; ela é tão importante que muitos medicamentos antidepressivos atuam regulando seus níveis no sistema nervoso. Sabe-se que a presença de polimorfismos – ou seja, variações dos nucleotídeos na sequência desse gene – pode influenciar nos níveis de serotonina transportados e, por consequência, alterar todas as vias nas quais ela coordenada.

Outro gene candidato relacionado à depressão é o PCLO, que codifica uma proteína importante para a transmissão dos neurotransmissores do tipo monoamina. Uma pesquisa recente estudou um grupo de pessoas que sofriam de depressão e um grupo controle e com bases em dados genômicos, encontrou-se uma forte relação entre a presença de polimorfismos no gene PCLO e o desenvolvimento dos sintomas de depressão nos pacientes. Os neurotransmissores do tipo monoamina, como a já citada serotonina, a noradrenalina e a dopamina, são associados também aos sintomas de transtorno de ansiedade, ou seja, desempenham papel importante nas flutuações emocionais.

Além da herança genética, a interação entre gene e ambiente tem sido objeto de muitos estudos relacionados à depressão, pois, muitas vezes, é clara a relação entre um evento estressante e o desencadeamento dos sintomas depressivos na vida de uma pessoa. Alguns estudos indicam que não basta a pessoa possuir os alelos que são relacionados à depressão – ou seja, o potencial genético – ela deve vivenciar algumas situações traumáticas em qualquer momento da vida e, assim, desenvolver o transtorno. Dessa forma, podemos dizer que além predisposição genética, o fator ambiental é o gatilho para os sintomas se iniciarem. Entre os fatores ambientais estão a falta de nutrientes durante a vida fetal, bullying, uso de canabinóides e o estresse, sendo esse último um dos mais influenciadores.

Apesar de parecerem desanimadoras por não apontarem com certeza um único gene responsável pela depressão, as pesquisas disponíveis nos ajudam a entender que esse transtorno é governado por vários genes, que interagem, e que os fatores ambientais são o gatilho para os episódios de depressão. Mesmo com toda a complexidade, quem sofre de depressão hoje em dia encontra muitas perspectivas de tratamento e pode ter uma vida consideravelmente saudável. Com tantas informações disponíveis hoje em dia não podemos mais permitir que pessoas falem que depressão é uma “frescura” ou “vontade de chamar a atenção”, a depressão é uma doença, deve ser tratada e só quem vive com esse transtorno sabe as agonias que passa. Por isso, compartilhe informação, compartilhe nosso texto e deixe comentários na nossa página!

Até a próxima!

Por Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

Referências

[1] Rádio Nacional de Brasília. (2016). OMS aponta que depressão atinge 350 milhões em 2015. Acessado de http://radios.ebc.com.br/tarde-nacional-brasilia/edicao/2016-07/oms-aponta-que-depressao-atinge-350-milhoes-em-2015 em julho de 2016

[2] Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos. (2016). Depressão. Acessado de http://www.abrata.org.br/new/oqueE/depressao.aspx em julho de 2016

[3] Lohoff, F.W. (2010). Overview of the Genetics of Major Depressive Disorder. Curr Psychiatry Rep., v. 12, n. 6, p. 539-546.

[4] Lopizzo, N. et al. (2015). Gene-environment interaction in major depression: focus on experience-dependent biological systems. Frontiers in Psychiatry, v. 6, p. 68-78.

[5] Sullivan, P. F. (2009). Genome wide Association for major Depressive disorder: a possible role for the presynaptic protein Piccolo. Mol Psychiatry, v. 14, n. 4, p. 359-375.

[6] Depressão: doença que precisa de tratamento. Acessado de http://drauziovarella.com.br/entrevistas-2/depressao-doenca-que-precida-de-tratamento/ em julho de 2016.

[7] Imagem em destaque: http://igrejasaojose.org.br/wp2015/wp-content/uploads/2016/04/depress%C3%A3o-1.jpg

4 Replies to “Depressão: o que sabemos hoje sobre a doença?”

  1. Muito pertinente o texto, Nathália. Mostra a falta de conhecimento científico que existe sobre o tema e a sobra de preconceitos que o cercam. Não é estranho o tratamento da doença como frescura, porque já vi acontecer com muitos amigos, de perto, do tipo de coisa que ouviram… precisamos falar sobre. Parabéns!

    1. Obrigada pelo comentário, Leandro! Sim, infelizmente as pessoas ainda têm muito preconceito com a doença e a falta de conhecimento de boa parte da população perpetua isso. Por essa razão, nós do Ciência Informativa continuamos nesse objetivo de compartilhar o conhecimento. Continue acompanhando nossos textos! Abraços

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