Saci-pererê, Boitatá, Iara, Curupira, Lobisomem…quem não se lembra de estudar e ouvir sobre essas lendas? Na escola, durante as comemorações do folclore, no bairro quando você brincava com seus colegas, ou nas conversas em família… As lendas e criaturas fantásticas do folclore ficam em nossa mente e nos trazem muitas recordações.

Mas será que essas lendas tem algum fato científico que as explique? O que a ciência tem a dizer? No texto dessa semana vamos entender um pouco como os cientistas explicam duas curiosas manifestações folclóricas do Brasil: o Boitatá e a Pisadeira.

O Boitatá (figura 1) (do tupi: boi – cobra; tatá – fogo) é uma criatura mística que surge na forma de uma gigante cobra de fogo e que protege as matas e campos de quem possa destruí-los. A enorme cobra tem dois olhos bem brilhantes, como um farol, e cintila, movimentando-se nas beiradas dos rios e nas matas.

Sabemos, porém, que essa lenda tem uma explicação científica. Os ossos e outros restos de animais, como cavalos e bois, quando se decompõem formam gases inflamáveis, como o metano e a fosfina (derivada do fósforo). Ao ter contato com uma pequena faísca, um raio ou – dependendo da concentração – até mesmo apenas com o oxigênio presente no ar atmosférico, esses gases pegam fogo e produzem uma chama azulada que cintila, como se fosse o movimentar que faz alusão a uma serpente de fogo. Esse fenômeno é chamado fogo-fátuo (figura 2) e é comum em locais pantanosos e de brejo.

Figura 1
Fonte da imagem:Boitatá. Todamatéria (https://www.todamateria.com.br/boitata/)
Figura 2
Fonte da imagem: Fogo-fátuo. Wikimedia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Fogo-f%C3%A1tuo#/media/Ficheiro:Tulilautta3.jpg)

 

Então, se há uma explicação científica, por que surgem essas lendas? O folclore e seus mitos surgem quando o ser humano tenta entender e resolver problemas e acontecimentos que presencia e vive em seu dia-a-dia; muitas vezes, por serem incompreendidas, algumas coisas acabam sendo explicadas por meio místicos e/ou sobrenaturais. Essa pode ser a explicação para a lenda do Boitatá.

Além disso, muitos mitos folclóricos podem surgir como forma de se passar um ensinamento. A lenda do Corpo-seco é um desses exemplos. Muito comum no interior do país, diz que um menino era muito ruim e batia em sua mãe durante toda sua vida. Quando morreu, nem o “céu”, nem o “inferno” o queriam; ele voltou à terra e passou a eternidade vagando, como um corpo sem carne, seco, sugando a energia de quem cruzasse seu caminho. O ensinamento nesse caso envolve a dualidade “bem X mal”: ao ruim, ao perverso, resta vagar pela eternidade no local onde viveu. É claro, que muitas dessas lendas tem influências religiosas, mas o eterno conflito entre o bem e o mal é visto em muitas outras histórias. 

E você já ouviu aquele ditado popular que diz que dormir com a barriga cheia faz você ter pesadelos? É claro que não é realmente recomendado você comer e já ir dormir, já que poderá ter problema de refluxo e indigestão, mas a lenda da Pisadeira (ou da Velha Pisadeira) pode ter relação com esse ditado popular. Segundo o folclore, uma mulher com aparência aterrorizante (figura 3) pisa no peito das pessoas que comem muito, sendo vista por essas, que não conseguem fazer nada, pois estão paralisadas.

Indo dormir de barriga cheia ou não, essa lenda pode ser explicada pela condição que é chamada Paralisia do Sono, na qual a pessoa fica temporariamente paralisada logo após acordar (no texto das próximas semanas vamos entender melhor o que é essa condição). 

Figura 3: Pisadeira
Fonte da imagem: http://www.blog.quartogeek.com.br/o-mito-e-a-lenda-conheca-as-criaturas-mitologicas-brasileiras-parte-iii/pisadeira-lenda

 

Outras lendas do folclore não tem uma explicação científica e muitas nem são iguais e se apresentam de formas diferentes pelos locais onde são contadas; mas o fato é que não podemos negar que as histórias folclóricas são ricas formas da nossa cultura!

Por Nathália de Moraes

nathalia.esalq.bio@gmail.com

Referências

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Boitat%C3%A1

[2] http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/304/1/PB_COQUI_2011_1_05.pdf

[3] OLIVEIRA, Marco Antônio Soares de. Cultura Popular e a Nossa Responsabilidade. Jornal dos Lagos, Alfenas, 28 ago. 2010. Caderno L, p.2. 

[4] http://web.unifil.br/docs/revista_eletronica/educacao/Artigo_05.pdf

[5] https://super.abril.com.br/blog/oraculo/e-verdade-que-dormir-de-barriga-cheia-da-pesadelo/

[6] http://tvbrasil.ebc.com.br/lendas-da-turma-do-jambu/2018/07/velha-pisadeira

4 Replies to “As lendas brasileiras do folclore: o que a ciência explica?”

  1. Parabéns pelo conteúdo e muito obrigada por contribuir com os estudantes e professores. Abraços
    Adriana Maciel

    1. Muito obrigada, Adriana! Se tiver algum tema que você gostaria de ver por aqui, é só avisar a gente 😉

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