Como vimos no texto da semana passada, uma pessoa pode se sentir ansiosa de vez em quando e não ter prejuízos. Porém, em níveis exagerados, a ansiedade pode ser considerada um distúrbio. Em humanos, muitos dos distúrbios de ansiedade estão relacionados a uma percepção exagerada da ameaça. Um grupo de pesquisadores de instituições de pesquisa em neurociências e em psiquiatria dos Estados Unidos deram mais um passo na jornada pelo conhecimento sobre a ansiedade. Eles identificaram uma importante região do cérebro responsável pelo controle da ansiedade em ratos, que pode ser similar ao encontrado em humanos.

Esses pesquisadores estudaram o hipocampo, que é a região do cérebro responsável pelas memórias autobiográficas e pela capacidade de navegação espacial. Nessa região, eles encontraram o que ele chamaram de “células da ansiedade”, que são ativadas quando a pessoa está em ambientes estressantes e controlam comportamentos de ansiedade. Quando essas células são inativadas, o indivíduo pára de evitar a situação que era inicialmente estressante. Nos experimentos, os pesquisadores davam um pequeno choque no pé dos ratos sempre que acendiam uma luz. Então, os ratos normais foram condicionados a ficar ansiosos sempre que a luz acendia. Os ratos com as “células da ansiedade” inativas não ficavam tão ansiosos quando a luz era acesa.

Os pesquisadores também observaram que essa região do hipotálamo e os caminhos neuronais identificados no estudo são relacionados a episódios de ansiedade causadas por experiência de vida e comportamento aprendido. Isso quer dizer que inativar essa região do cérebro não tem efeito sobre comportamentos de ansiedade inatos, como estresse por estar em ambientes abertos e muito expostos a predadores, no caso dos ratos.

Essas descobertas abrem portas para o desenvolvimento de tratamentos de transtornos de ansiedade e humor. Conhecendo onde estão as células responsáveis pelo processamento dessas informações no cérebro, os pesquisadores têm um alvo para atacar. Ainda existe um longo caminho até que possamos manipular o cérebro nesse nível, mas cada pesquisa contribui com mais um passo nessa trilha.

Nos próximos textos, vamos discutir um pouco do que a ciência pode nos dizer sobre a relação da ansiedade com procrastinação e o uso de redes sociais. Se você gosta dos nossos textos e tem sugestões de temas, comente aqui embaixo ou mande uma mensagem pra gente!

por

Patricia S. Sujii

Referência

Jimenez, J. C., Su, K., Goldberg, A. R., Luna, V. M., Biane, J. S., Ordek, G., … & Paninski, L. (2018). Anxiety cells in a hippocampal-hypothalamic circuit. Neuron, 97(3), 670-683.

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