Para fechar o mês da restauração ecológica, o Ciência Informativa quer tratar de um dos tipos de restauração mais desafiadores: as áreas de mineração. A imagem ao lado, de um grande buraco, totalmente sem vida, que parece impossível de recuperar, representa o que costumamos imaginar quando pensamos em áreas de mineração. Felizmente, existem casos de áreas de mineração recuperadas lindamente e existem até planos para recuperação das áreas afetadas pelo derramamento de lama da barragem de Fundão em Mariana (MG).
A mineração é um importante fator de degradação ambiental na Amazônia. No município de Paragominas (PA), a empresa Mineração Paragominas explora bauxita em uma área de mais de 4 mil hectares, desde de 2006. A bauxita é extraída de camadas do solo de até 12 m de profundidade. Após a exploração, a terra retirada no processo de escavação é colocada de volta, mas isso deixa a área totalmente sem cobertura vegetal e com solo sem sua estrutura adequada para crescimento de plantas. Um programa de recuperação de áreas degradadas tem restaurado mais de 2 mil hectares desde 2009 usando diferentes técnicas e os resultados são bastante animadores.
Para restaurar as áreas, foi necessário primeiramente recuperar o solo, utilizando tratores especiais que evitam que o solo fique muito compactado, o que evita futuros problemas de erosão. Acima desse solo preparado, foi adicionada uma camada de solo rico em matéria orgânica, que veio de áreas que serão mineradas no futuro. Só então foram iniciados os processos de restauração da vegetação, usando uma combinação de técnicas. Foram combinadas desde técnicas mais passivas deixando que as sementes de florestas vizinhas cheguem à área carregadas pelo vento ou por animais, até estratégias ativas, com plantio de mudas de 120 espécies nativas. Cada técnica tem vantagens e limitações que levam a diferentes velocidades de restauração e diferente biodiversidade recuperadas. Um grupo de pesquisadores da Universidade Federa Rural da Amazônia (PA) e da Universidade de Alcalá (Espanha) observaram que a combinação dessas técnicas permitiu recuperar uma quantidade substancial de espécies de árvores nessa antiga área de mineração, incluindo espécies ameaçadas.
As lições aprendidas em Paragominas e em outros estudos de áreas de mineração podem ser usadas para planejar a restauração de uma região que ganhou muita atenção em 2015, a bacia do Rio Doce. Em novembro de 2015, a barragem do Fundão, no município de Mariana (MG) se rompeu e espalhou lama retirada de áreas de mineração por quase 1500 hectares do Rio Doce e ao seu redor (leia mais aqui e aqui). Essa região já vinha sendo desmatada há muitos anos e existem estimativas de perdas econômicas associadas a serviços ambientais de mais de 5 bilhões de dólares por ano (leia nossa matéria sobre o Rio Doce aqui).
Uma avaliação realizada por um grupo de pesquisadores de universidades e outros centros de pesquisa brasileiros estimou que seriam necessários 3,6 bilhões de dólares para recuperar a vegetação equivalente ao que foi perdido no desastre em Mariana. Isso representa menos de 30% do valor previsto para ações de reparação e compensação propostos pela Fundação Renova (um consórcio financiado pelas empresas Samarco, Vale e BHP). Os pesquisadores propõem que com a restauração da vegetação é possível recuperar a produção de matéria orgânica tanto em ambientes terrestres quanto dentro do rio, o que é uma condição essencial para recuperar a biodiversidade local. Isso pode ser feito usando diferentes técnicas de biorremediação, como mostrado pelo nosso colaborador Pedro T. de Almeida no texto “Biorremediação de metais pesados“, e com outras técnicas já descritas aqui no blog (aqui e aqui), e com técnicas de restauração do solo e da vegetação, como vimos nos vários textos deste nosso mês temático.
Restaurar ambientes degradados é uma missão desafiadora, algumas vezes frustrante, que exige paciência e muita dedicação, mas que também pode transformar vidas e melhorar o mundo em que vivemos. Finalizo esse mês temático agradecendo e parabenizando todos os pesquisadores e profissionais que se dedicam à restauração dos vários tipos de ambientes degradados no planeta e desejando muito sucesso a todos.
por Patricia S. Sujii
Referências
Cruz, D. C. D., Benayas, J. M. R., Ferreira, G. C., & Ribeiro, S. S. (2020). Tree Communities in Three-Year-Old Post-Mining Sites Under Different Forest Restoration Techniques in the Brazilian Amazon. Forests, 11(5), 527.
Pires, A. P., Rezende, C. L., Assad, E. D., Loyola, R., & Scarano, F. R. (2017). Forest restoration can increase the Rio Doce watershed resilience. Perspectives in ecology and conservation, 15(3), 187-193.
Foto de capa: Ivan Bandura em Unsplash