Você já imaginou comer a embalagem que reveste os alimentos? Já pensou em fazer um suco com a bandeja em que vem a goiaba? Pois é, essas são algumas das ideias dos pesquisadores brasileiros que trabalham no desenvolvimento de embalagens utilizando bioplásticos e embalagens biodegradáveis.
O pesquisador Luiz Henrique Capparelli Mattoso, da Embrapa de São Carlos, busca o desenvolvimento de novos materiais que possam ser utilizados como matérias-primas para a produção de embalagens. Os bioplásticos, também chamados de biopolímeros, são materiais obtidos a partir de alimentos frescos, ou de resíduos de processos industriais. Como exemplo, temos os resíduos da fabricação de suco, dos quais compostos naturais são retirados.
Os principais compostos naturais extraídos são os polissacarídeos, considerados polímeros naturais, como por exemplo, o amido (que está presente na farinha de trigo, na Maizena®), a celulose (que faz parte da parede celular das plantas, dando-as rigidez), entre outros.
Esses compostos naturais são formados por longas cadeias de carbono e hidrogênio, mesma composição dos polímeros derivados de petróleo. A extração dos polissacarídeos é feita a partir da casaca e da polpa de frutas, como goiaba, mamão, maracujá, além de também poderem ser extraídos de legumes como beterraba e cenoura.
Uma questão a ser pensada sobre o uso dessas embalagens é a possibilidade de atraírem animais e também por poderem ser local para a proliferação de bactérias e fungos. Quanto a possibilidade de atrair roedores, por exemplo, testes ainda precisam ser realizados, mas quanto ao desenvolvimento de microrganismos, a adição de especiarias, como a canela e/ou própolis, podem inibir esse o crescimento indesejado devido à suas características antimicrobianas.
No exterior já existem biomateriais sendo utilizados para consumos humano. Como é o caso da pesquisadora Tara mcHugh da U.S.D.A. que desenvolveu um filme comestível que já é utilizado em restaurantes de comida japonesa em substituição a alga, visando pessoas que são alérgicas a alga.
Aqui no Brasil, um grupo de pesquisa da UNICAMP, liderado pela professora Florencia Cecília Menegalli, busca desenvolver um filme que evite a oxidação de frutas, após serem cortadas. Eles utilizam o amido de banana da terra ainda verde, acrescido de micropartículas lipídicas (mistura de ácidos graxos) contendo antioxidante (vitamina C) para a formação de um liquido viscoso no qual as frutas são imersas, retiradas e em seguidas secas, formando assim uma película de proteção sobre elas. Essa película evita que essas frutas se oxidem rapidamente, mantendo suas características físicas.
Infelizmente esses produtos ainda não estão tão próximos de serem lançados no mercado nacional, principalmente devido ao elevado custo que a maioria desses processos apresenta frente a produção do plástico sintético. Mas é possível já observar avanços na área, que representa um grande passo a favor da saúde do planeta.
Por Jaqueline R. de Almeida
jaqueline.raquel.almeida@usp.br
Referencias
Sartori, T; Menegalli, F. C. Development and characterization of unripe banana starch films incorporated with solid lipid microparticles containing ascorbic acid. Food Hydrocolloids. v.55, p. 210-19. abr. 2016.
Da Silveira, E. Embalagens Verdes. Pesquisa Fapesp. n.242.abr.2016.