epatite é o nome dado à inflamação do fígado, que pode comprometer seu funcionamento, bem como dar origem a doenças graves como cirrose hepática e câncer. Ela pode ser causada devido a infecção viral ou bacteriana, ou através do consumo excessivo de álcool e/ou de diferentes tipos de drogas.

A hepatite é considerada um problema de saúde pública no Brasil, uma vez que o número estimado de pessoas que apresentam a doença está entre 1,5 e 2 milhões, segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia. Em nosso país, a hepatite C é responsável pelo maior número de casos de cirrose hepática e consequentemente pelos transplantes de fígado.

Apesar de sua grande relevância, ainda são incipientes tratamentos eficientes contra o vírus da hepatite C e, por isso, ele é alvo de diferentes pesquisas, na busca por novas opções de tratamento.

Uma importante e rica fonte de novos químicos são os compostos naturais e o Brasil, por apresentar uma grande biodiversidade natural, possui diversos grupos de pesquisadores que buscam encontrar novas moléculas que possam ser utilizadas no tratamento de doenças, dentre elas a hepatite C.

Um trabalho recentemente publicado por pesquisadores do grupo Virologia do Laboratório de Estudos Genômicos do Instituto de Biociência da Unesp, em parceria com o Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências Biomédicas da UFU, demonstrou a eficiência de compostos isolados do veneno de uma espécie de cascavel (Crotalus durissus terrificus), popularmente conhecida como cascavel-de-quatro-ventas ou boiçununga, contra o vírus da hepatite C.

Eles testaram o efeito desses compostos diretamente sobre o vírus, ou seja, avaliando sua capacidade de impedir a multiplicação do vírus dentro de células humanas, além de testar sua capacidade de proteger a célula da entrada do vírus.

Os testes com células já infectadas demonstraram que a fosfolipase A2, um dos compostos isolados da cascavel que foram testados, reduziu em 86% a produção de novos vírus, quando comparado às células não tratadas com esse composto. Ele também foi testado quanto a sua capacidade de bloquear a entrada do vírus em células humanas, e o resultado observado foi de uma redução de 97%.

Além da fauna, a flora é outra grande fonte de novos compostos e foi através das folhas de uma planta conhecida como amendoim-bravo (Pterogyne nitens) que pesquisadores do Laboratório de Química Verde e Medicinal da Unesp de São José do Rio Preto isolaram dois flavonoides: a sorbifolina e a pedalitina, que também demonstraram a capacidade de bloquear a entrada do vírus nas células humanas. A sorbifolina bloqueou a entrada do vírus em 45% dos casos e a pedalitina demonstrou um bloqueio de 79%, revelando-se como moléculas muito promissoras.

Esses resultados demonstram como é importante o incentivo na busca por novos compostos naturais em nossa biodiversidade, além de reforçar a importância da preservação do meio ambiente!

Por Jaqueline R. de Almeida

jaqueline.raquel.almeida@usp.br

Referencias

Diniz, M. OMS diz que hepatite atinge 400 milhões de pessoas em todo o planeta. Agência Brasil, 28 de julho de 2016. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-07/adulto-deve-fazer-teste-de-hepatite-c-ao-menos-uma-vez-na-vida-diz

Moon, P. Compostos do veneno de cascavel têm ação contra vírus da hepatite C. Agência FAPESP, 8 de janeiro de 2018.

Shimizu J.F., et al. (2017). Flavonoids from Pterogyne nitens Inhibit Hepatitis C Virus Entry. Scientific Reports 7, Article number: 16127 (2017).

Shimizu J.F., et al. (2017). Multiple effects of toxins isolated from Crotalus durissus terrificus on the hepatitis C virus life cycle. Plos One 12(11): e0187857.

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